Para Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting, a iminência de um conflito entre Rússia e Ucrânia, deve trazer grande volatilidade ao mercado de energia que já lidera este ano as maiores variações positivas de 2022: óleo de aquecimento, petróleo e RBOB apresentam valorização de mais de 22% no acumulado do ano.
Segundo análise da consultoria, o contrato futuro de açúcar encerrou a semana com o março/22 cotado a 18.29 centavos de dólar por libra-peso um aumento tímido de apenas 6 pontos se comparado aos vencimentos de março/23 em diante, em que a apreciação foi acima dos 30 pontos (quase sete dólares por tonelada, em média).
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Por outro lado, a valorização do real em relação ao dólar afetou o preço médio do açúcar em reais na semana provocando uma retração de pouco mais de R$ 30 por tonelada. Em resumo, NY não subiu o suficiente para estancar a perda provocada por um dólar mais fraco frente à moeda brasileira.
Com dois olhos na safra 2022/23 do Centro-Sul, os contratos futuros a ela referentes (de maio/22 até março/23) começam a delinear uma curva de carrego, explica o consultor.
“Há apenas três meses o spread jul-out/22 e out-22/mar-23 estavam invertidos, condição em que o mercado antecipa/acredita na falta de produto, além do efeito dos juros internos, que pressiona a curva futura em reais por tonelada e ajuda o spread a abrir ainda mais. Hoje, os dois spreads estão em carrego, ou seja, o julho/22 está cotado a um preço menor que o outubro/22 e este, menor do que o março/23, apesar da curva futura ter um componente de juros internos ainda mais altos”.
O que mudou?
Primeiramente, o mercado demonstra estar mais confortável com o tamanho da próxima safra de cana no Centro-Sul, considerando-o suficiente para atender às demandas de açúcar e etanol.
No entanto, o mercado físico continua letárgico provocando queda nos preços do açúcar para o mercado doméstico e o enxugamento da demanda por etanol hidratado.
A tendência para essa safra vindoura é que a arbitragem entre o açúcar e o etanol seja bem estreita.
Para a Archer Consulting o etanol hidratado é o produto que tem maior potencial de apresentar melhor rentabilidade nesta safra por três motivos principais: primeiro, a já mencionada tensão entre Rússia e Ucrânia; segundo, existe uma defasagem de 17% entre o preço da gasolina no mercado internacional e o preço praticado pela Petrobras na refinaria.
Até quando a empresa vai segurar essa valorização é uma incógnita, mas no caso de eclodir um conflito, o represamento de preços vai se tornar impraticável; terceiro, outros países produtores de açúcar irão abastecer o mercado internacional limitando a subida de preços.
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A melhora de perspectiva de preços não virá do açúcar, mas do mercado de petróleo ou de algum fator exógeno que esteja fora do radar no momento.
O consultor avalia que esse momento, a alta taxa de juros praticada pelo Banco Central do Brasil (10.75% ao ano com viés de alta para 12.25%) atrai a entrada de investidores no país e joga a cotação da moeda para baixo.
“Enquanto isso perdurar, a arbitragem do etanol com o açúcar fica neutralizada. Ocorre que estamos em um ano eleitoral e os gastos do governo federal comandados por um presidente que busca a reeleição a qualquer custo podem recrudescer as crises fiscal, política e econômica rompendo a zona de conforto em que o real hoje se encontra. Por isso vejo o etanol como maior potencial de alta”, disse.
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Os fundos continuam a liquidar suas compras e pelo último relatório publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, eles reduziram a posição para 45,000 lotes.
Já para a safra 2023/24 (abril/23-março/24) a avaliação é bem diferente. “A disponibilidade de cana no Centro-Sul não experimenta acréscimo de área, quase o oposto. É comum ouvir comentários das usinas acerca da redução da área de plantio de cana por parte de seus fornecedores e/ou mudança para culturas mais rentáveis (grãos). Algumas usinas mencionam retração de até 4%.
A oferta pode ser apertada se tivermos qualquer problema climático combinado com a recuperação da economia global e a retomada do crescimento internamente.
Novo aumento dos juros no Brasil, previstos para março, significa que a curva futura do real vai propiciar melhor fixação de preços do açúcar para a exportação na safra 23/24 que pode elevar a média dos valores de NY para o equivalente a R$ 2,400 por tonelada FOB.
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Uma recomendação que deve ser estudada com o máximo de disciplina é a venda de açúcar em reais por tonelada para aquele período, combinada com a compra simultânea de calls (opções de compra) fora-do-dinheiro 200 pontos acima do mercado. Assim, a usina passa a ter uma put (opção de venda) sintética em reais por tonelada, participando em eventual alta dos preços em centavos de dólar por libra-peso”, explica o consultor, enfatizando que “tudo pode mudar” a depender do desenrolar do conflito entre russos e ucranianos.