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Situação da Petrobras resulta de incompetência, diz David Zylbersztajn

Situação da Petrobras resulta de incompetência, diz David Zylbersztajn

Incompetência, e não corrupção, é a explicação para a situação da Petrobras e do setor de petróleo brasileiro como um todo, afirmou nesta terça-feira David Zylbersztajn, primeiro diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), ainda em 1998. Para ele, embora a Petrobras imagine vender ativos que somam cerca de US$ 52 bilhões para ajudar a equacionar sua difícil situação financeira, o esforço não deve chegar a US$ 15 bilhões, dados os parâmetros internacionais.

Aline Massuca/Valor

Além disso, disse Zylbersztajn, o ponto de equilíbrio do custo de extrair petróleo no pré-sal não estaria hoje muito distante do preço internacional do barril, entre US$ 40 e US$ 45 o barril.

“Esquece petróleo a US$ 100 o barril. Nunca mais. Vamos ter um salto do preço, mas logo mais ele vai cair”, afirmou, no evento “Fim do triunfalismo petroleiro e a definição de novos rumos para energia no Brasil”, organizado pelo Instituto FHC.

Para Zylbersztajn, a oferta de petróleo superior à demanda, além de questões ambientais e geopolíticas, explica a volatilidade dos preços do óleo atualmente. “O mundo tem mais petróleo do que precisa e quer cada vez menos petróleo na sua vida.”

Zylbersztajn disse que o setor petrolífero representava cerca de 10% a 12% do Produto Interno Bruto (PIB) do país até fim dos anos 1990 e hoje este valor não é significativamente melhor. Segundo ele, o volume que a operação Lava-Jato representa em termos de resultados para a companhia é uma parcela muito pequena. “A dívida da empresa em 2009 era R$ 106 bilhões e chegou a R$ 534 bilhões no fim de 2015. Isso sem a contrapartida de aumento de produção, que está praticamente estável nos últimos dez, 12 anos, e uma dívida multiplicada por cinco”, disse. Para ele, as pessoas do setor de petróleo “estão perdidas”.

Segundo o executivo, “hoje temos margem zero no incremento de produção”. ‘Então, todos os cheques pré-datados que deram para salvar educação no Brasil não valem nada. Dentro da ideia de ‘passaporte do futuro’, apostamos no século XXI na energia do século passado”, afirmou.

Partilha

Zylbersztajn, que liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil nos anos 1990, qualificou como “desastroso” e “dado à corrupção” o modelo de partilha atual. “Inverteram a questão e, no modelo partilha, se fica com petróleo e não com o dinheiro. Além disso, criaram uma estatal para comercializar esse petróleo. Tudo o que o Brasil não precisa num momento como esse é empresa estatal comprando e vendendo petróleo”, disse.

Segundo ele, o fato de a Petrobras ter que dar conta de 30% do investimento e ser operadora única do pré-sal é algo caro e complicado. “Ela deixa de funcionar como empresa com poder discricionário pra dizer qual área interessa”, afirmou. “A Petrobras caiu em uma armadilha como se fosse um grande presente para ela.”

De acordo com Zylbersztajn, após uma licitação que contou apenas com um consórcio, a Petrobras “não tem onde cair morta”. “Temos hoje uma riqueza que não será explorada se não tiver mudança na legislação”, sentenciou. Para o executivo, as regras de conteúdo nacional funcionam como “cartelização no setor de máquinas e equipamentos”. “Isso ocorre no mundo todo e não foi uma invenção do atual governo. Isso vem desde a primeira rodada. Mas em vez de dizer que tinha que ter um mínimo nacional, nós dizíamos que tinha que ter um teto”, explicou.

Pré-sal

Zylbersztajn afirmou que havia uma ideia errada de que qualquer mal do Brasil seria sanado com dinheiro do pré-sal, que não poderia ficar com multinacionais estrangeiras que “carregariam o óleo na calada da noite”. Hoje, lembrou, a estatal tem a maior dívida do mundo, de seis vezes o seu resultado operacional. Segundo ele, até 2020 a empresa teria que investir cerca de R$ 400 bilhões para continuar a produzir o que está produzindo hoje. “Como resolver isso? Não sei. Falam em capitalização. Como [fazer isso] em um governo que em março já declara que vai ter déficit [em suas contas públicas]? Já me disseram que empresa de economia mista não pode pedir recuperação judicial”.

‘Descarbonização’

No mesmo evento, Luiz Henrique Guimarães, que assumiu recentemente a presidência da Raízen, empresa de açúcar e etanol, disse que 40% da matriz energética do Brasil é petróleo e 16% etanol. “Se pegar compromissos de redução de emissão, isso teria que dobrar, o que é um enorme desafio pela frente que só vai ser vencido com produtividade e inovação”, afirmou. Segundo Guimarães, o Brasil é hoje o país com menor custo de produção de açúcar e etanol do mundo.

Para Zylbersztajn, a transição para o gás natural muda a configuração do mercado mundial, que caminha para a “descarbonização”. Para ele, o petróleo é uma fatalidade. “O mundo não quer saber de petróleo”.

Fonte: (Valor)