Grandes empresas de petróleo nos Estados Unidos estão se unindo aos produtores de etanol, anteriormente vistos como adversários, em um esforço conjunto para promover o uso de biocombustíveis, predominantemente derivados do milho no país.
Essa aliança, impulsionada pela ameaça crescente dos veículos elétricos à demanda por gasolina, marca uma mudança de paradigma na indústria energética, conforme destaca matéria publicada pela Bloomberg Linea, nesta quinta-feira (15).
As empresas petrolíferas, agora mais preocupadas com a redução das emissões e o combate às mudanças climáticas, estão buscando investir em fontes renováveis e encontraram no setor de biocombustíveis um parceiro inesperado.
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“O cenário atual é radicalmente diferente, com as empresas de petróleo colaborando com o setor de biocombustíveis para descarbonizar o combustível”, disse Bruce Rastetter, fundador do Summit Agricultural Group.
A maioria da gasolina vendida nos EUA contém 10% de etanol (E10), mas a venda de misturas mais altas, como E15, é geralmente limitada durante os meses de verão devido a regulamentações da Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
O American Petroleum Institute (API), conhecido por seu lobby em prol do petróleo, juntou-se à National Corn Growers Association e outros grupos para apoiar um projeto bipartidário liderado pela senadora republicana Deb Fischer, de Nebraska. Esse projeto visa permitir a venda de E15 durante todo o ano, mantendo também a disponibilidade de misturas mais baixas.
Esta colaboração inédita entre os setores energético e agrícola está mudando o panorama do lobby no Congresso, com o foco agora em promover combustíveis renováveis líquidos.
Will Hupman, vice-presidente de políticas da API, expressou sua surpresa com essa parceria: “Estamos unidos nisso. Historicamente, não tem sido fácil”.
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Um passado conturbado
O etanol, uma vez considerado o combustível do futuro, viu sua ascensão prejudicada pelo magnata do petróleo John D. Rockefeller e pela era da proibição. Embora o governo dos EUA tenha incentivado o uso de etanol desde os anos 1970 como forma de reduzir a dependência do petróleo, o debate sobre seus benefícios e custos tem sido contínuo.
Os produtores de petróleo argumentam que a mistura de etanol aumenta os custos de refino e pode afetar os preços da gasolina, enquanto questões ambientais, como a evaporação e a formação de poluentes durante o verão, têm sido fonte de controvérsia.
No entanto, a ascensão dos veículos elétricos está mudando a dinâmica, aproximando os interesses do petróleo e da agricultura.
O governo Biden estabeleceu metas ambiciosas para a adoção de veículos elétricos nos EUA, o que pode reduzir significativamente o consumo de combustíveis líquidos. Isso levou a um novo foco em biocombustíveis como uma solução de transição.
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Tom Vilsack, secretário de Agricultura dos EUA, e outros defensores do etanol veem os biocombustíveis como essenciais para reduzir as emissões de carbono, especialmente à luz da transição gradual para veículos elétricos.
A coalizão formada em torno do projeto de lei de Fischer representa um amplo espectro político, incluindo grupos como a Renewable Fuels Association e a Growth Energy, além de organizações agrícolas e distribuidores de combustíveis.
Geoff Cooper, chefe da Renewable Fuels Association, observou que essa união é histórica: “Esta é a primeira vez em duas décadas que todas essas partes interessadas se uniram em prol de um objetivo comum”, disse à Bloomberg Linea.
No entanto, o projeto enfrenta resistência de refinarias independentes, que argumentam que ele beneficiaria apenas as grandes empresas petrolíferas, deixando-as em desvantagem.
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A Fueling American Jobs Coalition, representando trabalhadores e refinarias independentes, busca garantir limites nos custos dos créditos de biocombustíveis, além do acesso ao E15 durante todo o ano.
Apesar dos desafios, a parceria entre os setores de petróleo e agricultura representa uma mudança significativa nas políticas energéticas dos EUA, com implicações de longo prazo para a transição para fontes de energia mais sustentáveis.