Usinas

Setor caminha para a concentração?

Saiba o que especialistas dizem sobre a eventual venda da BP Bunge Bioenergia

Setor caminha para a concentração?

A possível venda da BP Bunge Bioenergia, joint venture criada pela americana Bunge e a petroleira britânica BP, caiu como uma bomba no mercado nesta terça-feira (9), principalmente porque envolve como possíveis compradores uma gigante do setor, a Raízen, e o Fundo Soberano Mubadala, do príncipe herdeiro de Abu Dhabi, que já tem empresas de energia renovável e refinarias no Brasil e, inclusive, foi um dos interessados na aquisição da Atvos na época de sua venda.

Embora anúncios de fusão e aquisição estejam cada vez mais comuns no setor bioenergético, a informação levanta questionamentos sobre a possível formação de concentração ou mesmo de monopólio no segmento. Isso porque a Raízen, no caso, dona de 35 parques de bioenergia, após a compra da Biosev, passaria a ter outras 11 usinas de açúcar e etanol e acrescentaria à sua capacidade total instalada – de até 105 milhões de toneladas de cana – cerca de 33 milhões de toneladas de cana por safra.

LEIA MAIS > Etanol de cana caminha para nova etapa de descarbonização

Com apetite voraz, o interesse da Raízen no negócio não surpreende, apesar de a empresa ter feito, bem recentemente, a aquisição de um grande grupo e ainda não ter decolado com suas ações na B3, como previa.

De acordo com informações do mercado e contratado para assessorar a transação, o banco JP Morgan avaliou os ativos da empresa à venda em cerca de R$ 10 bilhões, considerando um cálculo entre US$ 55 e US$ 60 por tonelada de cana moída.

Considerado um “assunto delicado”, alguns especialistas do setor consultados pelo JornalCana preferiram manifestar suas opiniões em off. Sobre a transação, especificamente, um deles lembrou que não é a primeira vez que a Bunge fala em sair da produção de etanol e açúcar, embora tenha tentado permanecer no setor com a parceria com a BP, resultando na criação da joint venture anunciada em junho de 2019.

LEIA MAIS > Produção de açúcar deve aumentar 6.7% no ano, aponta S&P Global Commodity Insights

“Em primeiro lugar, podemos concluir que não se deram bem com a complexidade que é cuidar da produção, ambas focadas em trading e petróleo. Talvez a falta de previsibilidade no longo prazo tenha sido um dos principais fatores para saírem do negócio, mesmo que o considerem interessante, pois acreditam no produto renovável e no futuro da mobilidade com um produto altamente sustentável”, ressaltou o especialista, que entende que a transação pode ser saudável para o setor.

“Mesmo que seja a Raízen detentora na aquisição, a oferta de cana será da ordem de 20% da oferta total do Brasil. A companhia não enxerga apenas a produção de açúcar e de etanol, mas tem um foco forte na produção do etanol de 2G, na produção de biogás, na cogeração de energia. É uma empresa muito integrada com a rede de distribuição, além de grandes investimentos na logística”, elucidou.

Para ele, a produção seguirá nesse processo de concentração, como acontece não apenas na produção, mas na logística, na comercialização e na distribuição. “Isso não invalida o crescimento e a manutenção dos pequenos grupos; entendo que até fortaleça outros grupos a repensarem e se unirem num processo de comercialização. A própria Copersucar fez uma fusão com a Fibra, criando uma empresa de comercialização e se propondo a comercializar 9 bilhões de litros por ano”, comentou.

LEIA MAIS >Bahia ganhará primeira biorrefinaria à base de milho

Outro consultor afirma que o setor está longe de ter concentração, ou seja, quando 3 ou 4 grupos detêm 75% do mercado, o que não acontece atualmente. “A tendência é que a gente tenha, nos próximos 10 anos, o início de um processo no qual o setor ficará em mãos mais profissionalizadas e dedicadas ao setor, no sentido de estar em um crescimento verticalizado. Da produção ao posto de gasolina, como é o caso da Raízen”, explicou.

Diante desse cenário, esse tipo de negociação é bom para o setor, já que “essas empresas estão praticamente estagnadas há algum tempo, tiveram um passivo muito elevado e sem dinheiro novo para investimento e eu acho que é superpositivo para o setor”, concluiu.

Procurada para se manifestar sobre a possível venda da joint venture, a BP Bunge afirmou não comentar rumores de mercado, assim como a Raízen também não quis se manifestar. Já a multinacional americana afirmou que “conforme já informado, a Bunge continua avaliando opções para sair de sua joint venture de açúcar e bioenergia. Embora estejamos satisfeitos com o desempenho das operações, elas não são essenciais na estratégia de negócios da empresa”.