A Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos (NOAA) divulgou em seu boletim mensal que o fenômeno El Niño pode voltar a acontecer ainda este ano. O órgão aponta 62% de chance de que a oscilação na temperatura do sul do Oceano Pacífico comece de maio a julho de 2023.
Após dois anos contínuos de La Niña , o planeta passa agora por um estado de neutralidade que pode estar em seus últimos meses. O aquecimento superficial das águas do Oceano Pacífico que caracteriza o El Niño deve começar nos próximos seis meses, segundo a NOAA.
Na verdade, a chance é alta de que ele já aconteça durante o nosso inverno — verão no hemisfério norte.
Este ciclo climático tem implicações ao redor de todo o globo. Nos últimos anos, La Niña intensificou secas e furacões e ciclones, além de ter um efeito de resfriamento na atmosfera global — que não impediu o planeta de atingir altas temperaturas.
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O El Niño, por outro lado, tende a esquentar a atmosfera, já aquecida por conta das emissões humanas de gases estufa. O fenômeno também afeta regimes de chuva, geralmente causando mais inundações do que o comum.
Os cientistas devem continuar a monitorar o estado das águas do Pacífico e divulgar as atualizações sobre o desenvolvimento do El Niño em seu boletim, aguardado para o dia 11 de maio.
No Brasil, as características de um El Niño clássico preocupam com os cortes no Nordeste e Norte do país, enquanto o excesso de chuva também pode trazer problemas para as áreas de cultivo no Sul do país – duramente afetadas pelo La Niña nos últimos três anos.
“Se vier um El Niño forte, ele pode levar a um inverno mais úmido. Isso é ruim para o ritmo da safra de açúcar, porque, se chove demais, as usinas não conseguem moer”, explica Lívea Coda, analista de açúcar e etanol da HedgePoint.
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“Também é ruim para a concentração de sacarose, porque, nessa etapa do desenvolvimento da cana, se chove muito, ela fica mais ‘aguada’, com menor concentração de açúcar. Então, poderia ser ruim para a safra 2023/24 do Brasil”, diz Lívea.
De acordo com a especialista, havendo um evento climático que afete a moagem, os produtos como açúcar e etanol também seram afetados. “Se tiver um El Niño muito forte, que atrapalhe o ritmo da safra, pode ter um impacto na disponibilidade total de produto, e isso é uma pressão inflacionária para preços”, elucida.
“Mas precisaria ter um evento muito forte, muito relevante, para isso acontecer e termos de fato um problema na safra brasileira de cana”, conclui a analista.