O vice-presidente executivo de Açúcar e Etanol da Raízen Energia, Pedro Mizutani, já não se lembra com exatidão há quantos anos consecutivos o clima atrapalha a safra de cana da empresa – e de toda a região Centro-Sul. É uma geada aqui, excesso de chuvas ali, estiagem e, muitas vezes, mais de uma intempérie no mesmo ano. O fato é que, para 2014/15, foi a vez de a seca prejudicar a meta da companhia de, enfim, moer 65 milhões de toneladas e elevar os níveis de retorno sobre o capital investido, desde 2008 estancados no patamar de 8% a 9% ao ano.
Com capacidade instalada para processar 66 milhões de toneladas da matéria-prima por safra, a companhia, controlada pela Cosan e pela Shell, deverá apenas repetir no novo ciclo a moagem da temporada 2013/14, em torno de 61 milhões de toneladas. A chuva faltou justamente no momento em que a cana mais precisava de água para crescer, no verão, e a produtividade deverá cair entre 5% e 8%.
O executivo diz que, se a estiagem não tivesse ocorrido, o retorno sobre o capital investido poderia alcançar 12% já em 2014/15. “Se não fosse isso, a gente ia estourar a boca do balão”, brinca Mizutani a respeito dos bons resultados inicialmente projetados. Mas não será desta vez que a companhia se aproximará do nível de retorno considerado aceitável pelos acionistas, que é de 15% ao ano. “É preciso esclarecer que a empresa gera caixa para honrar seus compromissos, para investir e para dividendos. Mas, é preciso elevar o retorno que hoje pode ser conseguido com uma aplicação financeira”.
A última vez que essa remuneração sobre o capital atingiu 15% foi antes de 2008, último ano do “boom” de investimentos em etanol, lembra Mizutani. De lá para cá, as novas exigências de legislação, como as trabalhistas e as relacionadas à mecanização da cana, trouxeram custos maiores que, nem de longe foram compensados por preços de etanol e açúcar mais remuneradores. A entrada de multinacionais e novas empresas no setor elevaram também a competição por mão de obra e cana-de-açúcar, outro fator de pressão sobre os custos.
Mas Mizutani acredita que em breve a companhia retomará os níveis desejáveis de remuneração ao acionista. “Esse setor [sucroalcooleiro] é cíclico e o ciclo de alta está próximo”, afirma o executivo. Ele se refere ao fim do superávit mundial de açúcar, após três anos consecutivos de sobra global.
A partir de 2015/16, a produção da commodity no mundo tende a ser menor que o consumo, reduzindo estoques e pressionando os preços para cima. “Acredito que este ciclo de alta da commodity vai até 2016/17”, afirma Mizutani. “Aí, vamos flutuar em preços altos”.
Com a ajuda do dólar mais valorizado, a precificação média em reais do açúcar que será produzido pela companhia em 2013 já está 7,5% acima dos níveis de 2013, a 43,4 centavos de real por libra-peso. “Esses preços têm potencial para subir este ano”, prevê.
Por isso, e apesar da pressão dos acionistas para “apertar o cinto da operação sucroalcooleira”, a empresa quer estar preparada para surfar nos preços altos que prometem vir. Os investimentos em renovação e expansão de canaviais, portanto, estão mantidos no patamar de R$ 900 milhões. Os de manutenção, agrícola e industrial, serão de R$ 600 milhões. Os projetos “não essenciais” vão ficar na gaveta ou caminhar a passos mais lentos, mas não os relacionados à área agrícola, garante o executivo.
Ele afirma que os efeitos da seca deste ano recairão apenas sobre a safra 2014/15, não trazendo, portanto, necessidade de recuperação de áreas para o ciclo seguinte. Assim, afirma, a estiagem não provocará investimentos adicionais nas áreas de cana. As unidades mais afetadas pela intempérie foram as localizadas nas cidades paulistas de Piracicaba e Jaú, onde a quebra de produtividade ficou na casa dos 10%. Em Araçatuba, no oeste de São Paulo, a seca reduziu a oferta de cana em 5%. Não houve efeitos nas unidades de Goiás e Mato Grosso do Sul, segundo Mizutani.
O nível de teor de açúcar na cana, o chamado ATR, em 2014/15 deverá ser igual ou levemente superior ao de 2013/14, nas estimativas de Mizutani. Mas há uma preocupação, segundo ele, com a produtividade e rendimento da área de fornecedores, que suprem 50% da demanda de cana da companhia. “Os fornecedores estão reduzindo investimentos, devido à remuneração baixa das últimas safras. Se está ruim para as usinas, está pior para os fornecedores”.
Ao todo, a Raízen Energia deve reduzir em até R$ 500 milhões seus investimentos totais, o que inclui os operacionais e os de expansão. Assim, esses aportes tendem a sair de R$ 2,5 bilhões em 2013 para um montante entre R$ 2 bilhões e R$ 2,2 bilhões este ano, segundo projeção feita pela controladora Cosan no mês passado.
A principal redução na área operacional deverá vir da aquisição de máquinas agrícolas, uma vez que o nível de mecanização do canavial da companhia já está acima de 95%. Em 2013, os investimentos em mecanização foram da ordem de R$ 145 milhões.
Sem mencionar valores, Mizutani diz que os gastos em projetos de expansão deverão ser um pouco menores que os cerca de R$ 650 milhões de 2013. “Ainda estamos em fase de expansão na unidade de Caarapó (MS) e Paraguaçu Paulista (SP). Temos ainda os investimentos no projeto de etanol celulósico em curso e a expansão de novas áreas de cana-de-açúcar”, detalha ele.
A empresa deverá ter também menos recursos destinados à área de cogeração de energia, que em 2013 consumiu R$ 48 milhões. “Já concluímos no ano passado o projeto de ampliação da produção de eletricidade”, afirma.
Fonte: Valor Econômico