Menos impactado pelas chuvas em relação a outros estados da região Centro-Sul do país, o estado de Minas Gerais registra uma safra de cana-de-açúcar com números também favoráveis.
JornalCana – Estamos no fim da primeira semana de agosto. Como vai a safra açucareira 15/16 em Minas Gerais?
Mário Campos – Tivemos atraso no início da moagem, mas conseguimos ultrapassar o total de cana moída ante a temporada anterior. O último balanço está para ser divulgado, mas acredito que as 38 usinas em operação em Minas estão no pico da moagem. Até o dia 16 de julho chegamos a 25,3 milhões de toneladas moídas, ou 41,4% da estimativa.
JornalCana – Significa que no fim de julho Minas chegou à metade da moagem prevista para a 15/16?
Mário Campos – Acredito que no fim de julho tenhamos chegado a até 30,5 milhões de toneladas moídas das 61 milhões de toneladas previstas para toda a safra.
JornalCana – Como está a produtividade?
Mário Campos – Supera a média registrada na 14/15, mas há um impacto negativo relacionado ao ATR, que está 3,5% menor em relação a 14/15.
JornalCana – Qual é a tendência do ATR?
Mário Campos – Deve ficar nesses 3,5% inferiores ao ATR apurado na 14/15
JornalCana – Qual o motivo desse ATR baixo?
Mário Campos – Um grande responsável é o florescimento, registrado principalmente nas áreas canavieiras do Triangulo Mineiro.
JornalCana – Qual o reflexo do ATR baixo nas previsões de produção?
Mário Campos – Com o ATR em queda, há menos produto por tonelada de cana. O que se nota é uma queda na produção de açúcar. A diminuição do açúcar já estava prevista porque já era projetada uma safra 15/16 mais alcooleira, mas isso foi acentuado pela queda do ATR.
JornalCana – Qual a previsão de queda da produção de açúcar nessa safra?
Mário Campos – Uma queda de 8%
JornalCana – O mix está mantido?
Mário Campos – Sim: 60% para o etanol e 40% para o açúcar
JornalCana – No caso do etanol, como está a produção?
Mário Campos – O destaque é o hidratado, que avança 22,5%. A produção de anidro tem uma queda de 25% sobre a safra 14/15. Ou seja, temos a mesma moagem da 14/15, com 8% menos de açúcar e 1% a mais de totais de etanol.
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JornalCana – Como deve ficar a produção de etanol?
Mário Campos – Deveremos terminar a safra com 2,9 bilhões de litros, a maior produção de etanol da história de Minas Gerais, com 61% de hidratado. No caso de açúcar, deveremos alcançar 3,1 milhões de toneladas.
JornalCana – O sr. defende a comercialização direta de etanol da usina para as redes de postos. Essa proposta tem avançado?
Mário Campos – Trabalhamos, mas depende de muitos fatores. Hoje, o produtor de etanol tem espaço para vender o biocombustível acima do preço comercializado [pouco mais de R$ 1,20 o litro, fora impostos, segundo o Cepea/Esalq/USP]. Mas não o vende por motivos como, por exemplo, a crise financeira, que leva à necessidade de fazer caixa. Isso aumenta quando há oferta maior de etanol. É o caso quando há o período de pagamento da folha de salários e há necessidade de venda maior [de etanol].
JornalCana – Quem ganha e quem perde com isso?
Mário Campos – O distribuidor e o posto continuam ganhando suas margens [de lucro]. Só perde o produtor. O consumidor também ganha porque há pressão do comprador [distribuidoras] em jogar o preço para baixo.
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JornalCana – Mas as vendas de etanol explodiram, principalmente em Minas Gerais, onde a incidência do ICMS caiu para 19% desde fevereiro deste ano.
Mário Campos – Sim, em Minas o consumo de gasolina caiu 8% e o de etanol avançou 100%. O crescimento de vendas dos combustível do ciclo Otto cresceu 1%, mas o mercado de combustíveis como um todo vende menos em volume, devido à crise financeira. As distribuidoras têm visto no etanol uma válvula para vender combustível. Há hoje casos em que o preço do etanol equivale a pouco mais de 50% do preço da gasolina. Se o etanol estivesse a 70%, certamente o consumo seria menor.