A safra de cana 2021/22 foi uma das mais desafiadoras da história, em termos de execução afirmou Plínio Nastari, presidente da DATAGRO, nesta terça-feira (26|), durante o painel “Perspectivas de produção e balanço oferta e demanda de açúcar e etanol no Brasil nas safras 2021/22 e 2022/23” na 21ª Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol.
Nastari falou sobre os fatores que influenciaram negativamente a produção na região Centro-Sul do Brasil, sendo os sintomas de seca os mais severos.
“Atraso no desenvolvimento, falhas de brotação e perda no peso da cana foram os sintomas gerais. A seca trouxe ainda incêndios, grande parte deles criminosos”, disse, destacando os “vilões” que prejudicaram a produção na referida temporada. “Infelizmente, uma sequência de más condições climáticas, acompanhada por elevação dos custos, assolou os canaviais em 2021/22. O volume de chuva em 2021 atingiu o pior acúmulo nos últimos 90 anos, somando-se ao déficit hídrico dos anos anteriores”, ressaltou o presidente da DATAGRO.
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Além disso, ocorreram três fortes geadas em julho deste ano. A queda da temperatura foi mais generalizada, provocando geadas em Goiás e no norte de Minas Gerais.
Isso resultou em “morte súbita” nas áreas canavieiras do Centro-Sul em 2021/22 e a probabilidade de atraso no início da safra 2022/23. Em média, a produtividade agrícola no Centro-Sul atingiu 70,60 toneladas por hectare, queda de 14,7% ante mesmo período de 2020/21. Ao mesmo tempo, a área colhida com cana até 1º de outubro já somou 6,68milhões de hectares, uma extensão de 9,7% maior do que a área colhida em mesmo período de 2020/21.
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No painel, sob a moderação de Flavio Castellari, diretor-executivo do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), Nastari divulgou que a consultoria estima uma produção de 518,6 milhões de toneladas no Centro-Sul do Brasil, ante 605,5 mi de toneladas em 2020/21.
“Teremos na região CS uma quebra de 88-90 toneladas de cana em apenas um ano. Uma quebra dessa magnitude nunca foi registrada na história do setor”, disse Plinio. A quebra na safra de cana será equivalente a 13,4 mmt de ATR, com mix ligeiramente mais alcooleiro.
A produção de açúcar no Brasil deve recuar 6,6 milhões de toneladas, para 34,9 milhões de toneladas; estima-se que a de etanol de cana caia para 26,0 bilhões de litros – 3,8 bi de litros a menos do que em 2018/19.
Segundo Plínio, o crescimento da produção de etanol de milho tem amenizado o impacto do clima na safra de cana e o impacto no preço ao consumidor. Dados da consultoria mostram que, desde 2015/16, a produção do biocombustível derivado do cereal cresceu de 141 milhões de litros para 3,32 bilhões de litros esperados em 2021/22.
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Já o mix de etanol anidro aumentou 4,8 p.p. em um ano para 24,80% na segunda quinzena de setembro, o maior para este período em sete anos. A tendência é de que os preços permaneçam em alta à medida que há a expectativa de maiores reajustes do preço da gasolina.
No Norte e Nordeste , a moagem de cana ganha ritmo. O clima voltou a favorecer o processamento da cana após um início de safra chuvoso. Assim, até 30 de setembro, as unidades da região tinham processado 14,9 milhões de toneladas e produzido 520,9 mil toneladas de açúcar e 789,62 milhões de litros de etanol.
Sobre a safra 2022/23, a estimativa inicial da DATAGRO é de uma moagem de entre 530 e 565 milhões de toneladas Centro-Sul. A produção de açúcar deverá ser de 33,7 milhões de toneladas, em um cenário de otimismo e em 31,6 mi de toneladas em cenário mais pessimista.
De acordo com Plinio, o volume de cana deve voltar aos patamares de 2020/21, quando foram processadas na região Centro-Sul um total de 605 milhões de toneladas, somente em 2023/24.
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“No curto prazo, os desafios são a retomada do plantio de cana de 12 meses, tratos culturais e originação e custo de insumos, como fertilizantes, gesso e calcário, e maquinário. O foco continuará sendo no controle de custos e diversificação para aproveitar ao máximo a energia da cana”, esclareceu o consultor.
As previsões indicam ainda que os preços, que têm sido compensadores, deverão continuar em alta por mais 3 a 4 anos, algo que não se via há muito tempo.