Nenhuma mudança nos fundamentos foi observada na semana passada: a safra do Hemisfério Norte ainda deve ficar abaixo da média, os excelentes resultados do Brasil não são surpresa e a entrega de açúcar bruto foi a mais alta possível: 2.87Mt.
O volume entregue na bolsa ficou em linha com as expectativas do mercado, conforme sinalizado pelo prêmio físico no Porto de Santos e pelos contratos em aberto, sendo 242% superior à média de 7 anos, 840kt
De acordo com análises da hEDGEpoint Global Markets, contudo, foi interessante observar que o açúcar se manteve resistente a correções.
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“As razões para isso foram principalmente especulativas e macro relacionadas. Embora o adoçante tenha enfrentado algumas correções no início da semana, com a força do dólar americano dado o baixo desempenho de índices econômicos do país e a expectativa de um posicionamento mais agressivo do Fed, assim que o complexo energético se recuperou, o açúcar também encontrou novo fôlego. Com o vencimento de outubro, março, que é impulsionado principalmente pelas condições de safra do Hemisfério Norte, não parece ter muitos motivos para reduzir tão cedo”, avalia Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da hEDGEpoint Global Markets.
“No entanto, devemos permanecer cautelosos quanto à extensão da tendência de alta. Neste relatório discutimos o clima da Índia e porque mantivemos a nossa produção inalterada em 31,4Mt”, complementa.
Em julho deste ano, o mercado apostava num clima normal e numa produção superior a 33Mt para o país. Naquela época, a hEDGEpoint argumentou em seus relatórios que era muito cedo para afirmar normalidade, especialmente com o El Niño à espreita.
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“Neste contexto, estimamos 31,4Mt e não alteramos nossos números desde então. Estávamos pessimistas, pois algum efeito do padrão climático poderia induzir um mau desenvolvimento da cana e perda de sacarose e, portanto, estávamos quase 2Mt abaixo da média do mercado”, afirma a especialista.
O El Niño foi confirmado, a monção atrasou. Houve poucas chuvas em julho e agosto enfrentou a pior precipitação em 100 anos! “Você pode estar se perguntando por que não mudamos nossa visão. Pois bem, olhando para o Índice Padronizado de Precipitação (SPI) – um índice importante e bem aceito para monitoramento de secas usado pelo Ministério da Agricultura da Índia para definir se uma região foi afetada pela seca ou não – é possível notar que mesmo com um agosto severo, os principais estados produtores, como Uttar Pradesh, Tamil Nadu e Gujarat, sofreram pouco durante todo o período (junho-setembro)”, diz.
“É claro que muitos distritos de Maharashtra e Karnataka foram gravemente afetados, mas, olhando para o quadro mais amplo, esta produção inferior a 30Mt ainda é difícil de compreender: a Índia já surpreendeu o mercado positivamente no passado, mais de uma vez!”, diz.
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De acordo com a analista, considerando 31,4Mt, a Índia poderia ter algum excedente de açúcar para exportar, “mas entendemos – como já foi discutido durante os nossos relatórios semanais – que a decisão é altamente política.” Com o programa de etanol, as preocupações com a segurança alimentar em meio ao ano eleitoral e o aumento dos preços dos combustíveis, a ideia de não haver exportações é de fato muito provável. A Índia estaria, neste caso, optando por reabastecer e se aproximar do limite habitual de estoque de três meses de consumo.
“Portanto, embora não tenhamos alterado a nossa produção, para que os nossos fluxos comerciais refletissem o que tem sido precificado, assumimos como caso base a ausência de exportações indianas. Parte da redução observada na estimativa da Índia (-1,3Mt exportações) foi compensada pela maior disponibilidade do Brasil, mas esta última está longe de ser suficiente para evitar um déficit durante o primeiro e segundo trimestre de 2024, o que significa uma tendência de alta para o contrato de março 2024”, explica.
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“Observe que outras mudanças foram feitas em nosso balanço global de açúcar – revisamos a disponibilidade da Tailândia e do México para baixo em 23/24, do Brasil e da Ucrânia para cima, e acatamos as alterações mais recentes do USDA sobre as condições de colheita dos EUA, entre outros – pontos para discussão em relatórios futuros”, finaliza.
Para a analista, é claro que, ao contrário do que acontece no mercado de açúcar bruto, o Brasil oferece pouco conforto ao mercado de branco, uma tendência que contribui para a manutenção de um alto prêmio do branco e que deve perdurar ao longo dos últimos meses do ano e, possivelmente, pelo início do próximo.
A íntegra do relatório está disponível aqui