Marcos Lutz, presidente da Cosan, comenta na entrevista com o Portal JornalCana sobre os impactos do El Niño na safra de cana-de-açúcar 2016/17.
A próxima temporada, segundo ele, terá maior oferta de cana-de-açúcar, mas faltará capacidade industrial devido a falta de investimentos de usinas, por conta do endividamento financeiro.
Confira as avaliações de Marcos Lutz na entrevista:
Mercado mundial de açúcar:
“Tenho avaliação altista. Em 2016, a demanda [por açúcar] será muito maior que a oferta. Há vários anos isso não acontecia. E isso [demanda alta] tende a se ampliar.”
Por que?
“Porque não vemos no setor sucroenergético [investimentos] para o rápido aumento da capacidade [de produção], dado o estado de endividamento de muitas empresas do setor.”
Em termos de produção, a safra 2016/17 do setor sucroenergético será maior?
“Não vejo assim. Teremos mais cana, mas não teremos mais moagem, porque com a perspectiva de El Niño deveremos ter muita chuva. Então, não deveremos ter período de moagem tão eficiente como nos últimos anos.”
Já há uma previsão de quanto de cana bisada ficará para a 16/17?
“Da Cosan não posso falar, porque é uma empresa pública. Mas sabemos que irá bisar muita cana na região Centro-Sul do País. Em 2016, as usinas irão começar a moer mais cedo, com safra mais curta, e uma safra não tão eficiente quanto o planejado.”
Etanol celulósico: a Cosan tinha projeto para sete unidades e está com uma em operação, em Piracicaba. Como vai?
“A unidade de etanol celulósico em Piracicaba está eficiente. Agora, a ideia é fazer essa unidade ficar muito eficiente antes de fazer [novos investimentos em plantas]. Não temos hoje um planejamento específico, e temos [metas] a endereçar para a planta de Piracicaba, apesar de estarmos super-otimistas.”
É preciso superar os custos de produção de etanol celulósico em Piracicaba?
“Não só custo de produção, mas a próxima planta deveria ser muito mais barata que a primeira, porque a primeira se faz muito mais robusta para endereçar um monte de coisa. Na primeira, se aprende. Na segunda, se pode fazer com menos ativos, analisando componentes, para baratear custos.”
Qual é o grande custo do etanol de segunda geração?
“É o capex, dado que a matéria-prima é muito barata, porque a usina está ao lado. Então o grande custo é o capex. Se você faz caro essa planta, ela sempre será cara. Se faz barato, ela sempre será competitiva.”
Como está o plano da Cosan de vender parte de suas terras canavieiras?
“A gente tem falado muito sobre isso. Temos como planejamento desmobilizar terras, temos vendido e vamos, sim, vender fazendas.”
A aprovação de aumento da Cide não andou. Como o sr. vê isso?
“Faz sentido a Cide, no longo prazo. Acho que o governo, quando busca novas fontes de receita, deveria olhar a Cide com carinho. Agora a Cide tem um componente inflacionário, e há uma sensibilidade nisso. É preciso esperar. É uma possibilidade. Não dá para apostar a vida nisso. Nem contra isso.”
Após a Conferência do Clima (Cop21) em Paris, o sr. acredita que uma possível taxação do carbono possa vir a beneficiar o setor sucroenergético?
“Uma taxação sobre o carbono sempre beneficia empresas de biocombustível. Não sei se isso vai acontecer, se vai ser relevante. Kyoto [o Protocolo de Kyoto] não mudou muito, apesar de ter muitas intenções, não teve impacto econômico.
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