O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), Evandro Gussi, argumenta que, para criar uma rede de abastecimento de carros elétricos no Brasil seriam necessários investimentos de R$ 1 trilhão até R$ 1,5 trilhão.
Por sua vez, a rede de etanol já está pronta e funcionando em mais de 40 mil postos de combustíveis, entregando praticamente o mesmo desempenho em termos de descarbonização, além de gerar emprego e renda em mais de 1,2 mil municípios.
Em recente entrevista à Gazeta do Povo, Gussi afirmou que “a política do etanol passou a ser mais uma política de estado do que do governo Bolsonaro ou do governo Lula. Montadoras como a Toyota, a Stellantis, a Volkswagen e um pedaço importante da academia estão voltados para este tema. Começamos a enxergar que o Brasil tem um grande ativo, que não pode ser jogado fora por um modismo que alguém de fora queira implantar aqui”, afirma.
“Acabou de sair um estudo feito pela Stellantis – que é uma empresa global europeia, tem marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën – que mostra que o veículo movido pelo etanol brasileiro possui nível de emissões menor do que o veículo elétrico da média europeia”, ele afirma e segue:
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“Na Europa, há países que já têm fontes muito limpas, como a Noruega, mas tem países como a Polônia e a Alemanha, que fazem bastante uso de carvão, enquanto nós temos uma fonte de geração de energia elétrica limpa. E daí eu pergunto: qual o custo para a sociedade de um e de outro?”.
De acordo com ele, é preciso incluir na conta que a cadeia produtiva do etanol, produzido a partir de cana-de-açúcar e de milho, emprega 2,4 milhões de pessoas de maneira direta e indireta.
“Temos um sistema de distribuição, logística e varejo em 100% do território nacional, com uma presença agroindustrial em mais de 1,2 mil cidades. Então eu já estou entregando essa descarbonização sem custo para a sociedade brasileira, e mais do que isso, gerando emprego e renda em mais de 1,2 mil municípios”.
O executivo aponta que, na cadeia de cana-de-açúcar, os municípios que possuem usinas veem um aumento de US$ 1.028 por ano no PIB per capita. Nos municípios vizinhos, por sua vez, o aumento seria de US$ 324 por ano. “Então, essa solução de bioenergia entrega descarbonização e faz bem para os aspectos socioeconômicos do Brasil. E não preciso de recursos públicos para entregar essa solução”, argumenta o presidente da UNICA.
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“A eletrificação não melhora a descarbonização no Brasil, entrega o que a gente já tem, não incrementa de modo relevante. Com o etanol, hoje você abastece seu carro no posto de combustível em quatro a cinco minutos. Para fazer algo semelhante com eletrificação, ou seja, ter toda essa disponibilidade em Curitiba – PR ou em Crato – CE, a empresa pública EPE calculou que o custo dessa infraestrutura variaria de US$ 220 bilhões a US$ 300 bilhões”, afirma Gussi.
Ele ainda completa: “Ou seja, a sociedade brasileira teria de estar disposta a gastar algo entre R$ 1 trilhão e R$ 1,5 trilhão. A pergunta é: o cidadão brasileiro vai tirar esse dinheiro do bolso e isso vai melhorar a emissão de CO2? Não. Vai ser o que a gente já tem hoje com o etanol”.
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Aliança em torno do etanol
Neste ano em que ocupa a presidência do G20, a Índia colocou como meta o estabelecimento de uma Aliança Global de Biocombustíveis, liderada pelos três principais países do setor – a própria Índia, Brasil e Estados Unidos. A ideia é criar um ecossistema de cooperação tecnológica e padrões de combustíveis e motores, visando favorecer a expansão de biocombustíveis como o etanol.
Gussi acredita que esse é um caminho sem volta. “A UNICA contribuiu muito para esse projeto que está acontecendo na Índia, o país mais populoso do mundo e que tem mais de 80% de sua matriz energética baseada em fósseis. Os indianos entenderam que a pura eletrificação não resolve suas emissões, porque mais de 70% da energia elétrica deles vêm do carvão. Eles têm um potencial de produção de etanol e estão apostando nisso, inteligentemente. Tanto que há um convênio da Toyota Brasil com a Toyota Índia, de um projeto piloto de híbrido flex, e já foi enviado o primeiro carro lá para testes”, sublinha.