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Ratings de crédito de usinas sob pressão

Ratings de crédito de usinas sob pressão

Poucas usinas sucroalcooleiras conseguiram neste ano manter intactos seus ratings. Das cinco principais empresas do segmento avaliadas por agências de classificação de risco, somente duas, Raízen e Biosev, escaparam de rebaixamentos. As outras três – Tonon Bioenergia, Jalles Machado e USJ – tiveram suas notas de crédito rebaixadas ao menos por uma agência, por ainda apresentarem “apertos” financeiros de curto prazo.

Os próximos meses aindaReuters_VP-fitch-468 serão delicados para o segmento: o crédito continua escasso e os preços do açúcar, baixos. “O risco sistêmico está tão alto quanto em outubro do ano passado, quando a Fitch colocou as sucroalcooleiras em observação negativa”, disse o analista sênior da Fitch Ratings, Cláudio Miori. Segundo ele, ainda é de se esperar defaults de empresas da área. “A inflação está maior e o dólar valorizado aumentou a exposição cambial das que têm dívidas na moeda estrangeira”.

Entre as três que tiveram sobressaltos neste ano, a goiana Jalles Machado foi a que conseguiu manter o melhor rating de crédito. A empresa sentiu um aperto de curto prazo e chegou a ser rebaixada pela Fitch neste ano. Mas a capitalização advinda da venda de 65% de uma de suas duas unidades de cogeração para a francesa Albioma e um bom desempenho operacional ampliaram a geração de caixa e proporcionaram algum alívio.

A Fitch rebaixou em abril o rating nacional de longo prazo da Jalles de A+(bra) para A-(bra). O rebaixamento, de dois degraus, levou em conta, conforme relatório da agência, que houve enfraquecimento do perfil financeiro e que a venda de 65% da cogeração reduziu o diferencial de negócios da empresa.

Mas no entendimento da agência Standard & Poor’s (S&P), a Jalles vai continuar operando com elevado uso da capacidade instalada nas próximas safras, em função de seus adequados níveis de investimentos em canaviais e da sua “sólida eficiência operacional”. Essa condição, afirmou a S&P, vai sustentar uma geração de fluxo de caixa livre positiva, com a qual a empresa tende a amortizar dívidas e reduzir sua concentração de débito no curto prazo. Dessa forma, em 18 de agosto a S&P reafirmou as notas de crédito atribuídas à Jalles Machado, de “BB-” na escala global e de “brA” na nacional.

Nos relatórios publicados pelas agências, ainda há uma visão de que persiste a alta seletividade de acesso ao crédito ao segmento e que empresas com maior risco de calote terão que vender ativos e registrar um desempenho operacional satisfatório para gerar caixa e reduzir dificuldades financeiras de curto prazo.

É o caso do tradicional grupo USJ, com sede em Araras (SP). No relatório que rebaixa os ratings do grupo de “B+” para “B” na escala global, a S&P observa que novos rebaixamentos poderão ser feitos em 90 dias (contados a partir de 6 de julho) caso a companhia não consiga vender terras para refinanciar sua dívida de curto prazo. Na avaliação da S&P, a USJ precisa levantar com a venda de fazendas ao menos R$ 50 milhões para equacionar o aperto financeiro. Procurado, o grupo não comentou.

Em 26 de maio, a Fitch rebaixou em um degrau o IDR (Probabilidade de Inadimplência do Emissor) em moeda estrangeira e local da USJ para “CCC” de “B”, o que significa que a empresa saiu de um risco de crédito “significativo” para uma possibilidade real de inadimplência. No relatório, a Fitch explicou que a decisão não se baseou numa mudança em relação aos já existentes problemas de liquidez do grupo. Mas ponderou que houve uma piora das condições macroeconômicas do país e também um aumento da inadimplência de outras companhias sucroalcooleiras.

Pesam ainda sobre a companhia as chamadas de capital para fazer frente aos investimentos na SJC Bioenergia, joint venture com a americana Cargill que está em fase de expansão em Goiás. Apenas neste ano, a empresa teve que colocar R$ 24 milhões na SJC Bioenergia.

Foi num ambiente altamente contaminado pela entrada em recuperação judicial da Aralco e da recuperação extra-judicial dos grupos Virgolino de Oliveira e Ruette que a Tonon Bioenergia anunciou uma renegociação com seus bondholders no primeiro semestre deste ano. Com isso, a empresa, com três usinas de cana-de-açúcar no Centro-Sul, perdeu dois graus na classificação da S&P e “entrou” em risco de calote (Default Seletivo “SD”). Após o fim das negociações, que culminaram em condições de pagamento vantajosas e injeção de dinheiro novo na companhia, é que a S&P elevou o rating da companhia para “CCC-“, um degrau acima do “risco de default”.

Em 19 de agosto, a Fitch elevou IDR da Tonon para “CC”. Antes, a agência havia rebaixado a nota da empresa para “RD” – que indica que o grupo deixou de efetuar alguns pagamentos dentro da carência, mas não de cumprir todas as obrigações. Apesar do “upgrade” pela Fitch a nota “CC” ainda ficou três degraus abaixo da nota “B” atribuída antes de 7 de abril deste ano. “A empresa ainda depende de rolagem de débitos e ainda enfrenta um ambiente operacional fraco, com preços retraídos de açúcar e etanol”, alertou a Fitch em seu último relatório.

(Fonte: Valor Econômico)