Henrique Coutinho Junqueira Franco, pesquisador e coordenador da Divisão Agrícola do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), revela, em entrevista ao JornalCana, detalhes sobre o Projeto Sugarcane Renewable Electricity (SUCRE).
Gerido pelo CTBE, o projeto tem como objetivo principal aumentar a produção de eletricidade com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE) na indústria de cana-de-açúcar, por meio do uso da palha produzida durante a colheita.
Na entrevista, o executivo revela: mapa com raio X do recolhimento da palha da cana deverá ficar pronto até o fim de 2018.
A entrevista foi concedida para a equipe do JornalCana na quinta-feira (20/07), em Campinas, durante o Workshop “Bioeletricidade a Partir da Palha de Cana-de-Açúcar”.
Quais unidades produtoras participam atualmente do Projeto SUCRE?
Henrique Franco – Quatro. São as unidades paulistas Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra; Pedra, de Serrana; Quatá, de Quatá; e a Barra, de Barra Bonita. Essas unidades participam da primeira rodada do projeto.
Como funciona?
Henrique Franco – Lá [nas unidades] fazemos os testes, checamos o desempenho, quanto se pode recolher de palha, de que forma recolher e como processar. E iremos para uma segunda rodada, com sete unidades.
No total são 11 unidades participantes do SUCRE?
Henrique Franco – Sim. Em algumas das sete já começamos a fazer alguns testes porque elas têm informações que podem mudar a rota conhecida de recolhimento de palha.
Dê exemplos, por favor
Henrique Franco – O fardo é um exemplo. A unidade Ferrari [que integra as sete] tem benchmarking de processamento de fardos, que é o modelo do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), o ‘palha flex’. Fazemos avaliações na Ferrari para aquele equipamento. Não fazemos toda a rota, como feito nas quatro usinas iniciais.
Fale mais sobre a segunda rodada do Projeto SUCRE
Henrique Franco – Nessa segunda rodada faremos avaliação técnico e econômica para as sete unidades. Não iremos fazer avaliações de campo nelas. Já temos o sistema de recolhimento de palha, de peneira rotativa, por modelagem. E baseado no conhecimento adquirido nas quatro primeiras unidades, iremos avaliar o impacto de recolher mais ou menos [palha].
Como está o recolhimento da palha nas quatro unidades iniciais do SUCRE?
Henrique Franco – Às vezes, 10% da palha já vem junto com a cana cortada. Essa é a palha que a colhedora não consegue separar. É a chamada impureza vegetal. É um problema que fez com que caísse a extração de caldo.
Fale mais
Henrique Franco – Com a cana queimada, o ATR médio no Brasil era de 145 quilos por tonelada. Hoje caiu para 130 só pelo fato de mecanizar o corte da cana.
E sobre o recolhimento da palha, como está?
Henrique Franco – A Pedra é uma unidade que recolhe bastante por enfardamento. A Alta Mogiana emprega enfardamento e limpeza a seco. A Quatá, por sua vez, usa sistema de forrageira: faz o enleiramento, para produzir o fardo, concentra entre oito a dez linhas e, ao invés de empregar enfardadora, usa forrageira, que pega a palha, pica e joga no transbordo. Para um raio médio de 5 a 10 quilômetros esse sistema tem funcionado bem.
Que mais?
Henrique Franco – Temos registrado que na região Noroeste paulista, onde fica a Quatá, é que é muito quente, há dúvidas sobre se compensa produzir mais cana e deixar a palha, para ter mais fibra dentro da unidades industrial, ou retirar a palha para ampliar a produtividade.
Os resultados iniciais do Projeto SUCRE são bem interessantes.
Henrique Franco – São interessantes. Temos dados de experimentos da Usina Iracema, cujo ambiente é altamente responsivo em termos estruturais, com alta produtividade, você recolhe 100% da palha.
O Projeto faz então um raio X sobre tendências do recolhimento da palha de cana-de-açúcar.
Henrique Franco – Sim. Iremos gerar um mapa de disponibilidade e de ambiente de remoção ou não da palha.
Esse mapa será disponibilizado para o setor sucroenergético?
Henrique Franco – Sim. O Projeto todo tem de gerar [interação], não é fechado para o grupo [de 11 unidades].
Qual é a previsão de divulgação desse mapa?
Henrique Franco – Até o fim de 2018 as informações deverão estar consolidadas. Como estamos no meio do Projeto, deveremos finalizar os experimentos até o ano que vem, até porque precisamos de tempo para processar as informações. Mas já temos muitos dados que servem de modelagem, para indicar onde se pode recolher mais ou menos palha.
Fale mais sobre indicações a partir dos dados
Henrique Franco – Em início de safra tem-se que recolher menos palha porque é quando se entra no déficit hídrico na região Centro-Sul do país. Por outro lado no fim da safra, no começo do período das chuvas, a palha não tem o efeito [diante o começo da safra] de segurar a umidade, então pode haver mais recolhimento.
Mais sobre o Projeto SUCRE:
O Projeto SUCRE (Sugarcane Renewable Electricity) tem como objetivo principal aumentar a produção de eletricidade com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE) na indústria de cana-de-açúcar, por meio do uso da palha produzida durante a colheita.
A iniciativa é promovida pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), junto a usinas parceiras – que utilizam palha na geração de eletricidade – para desenvolver soluções que elevem tal geração à plenitude da tecnologia disponível.
O projeto é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente e gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ao todo, serão cinco anos de projeto e um investimento de cerca de US$ 67, 5 milhões.
O objetivo principal do projeto é vencer os desafios tecnológicos no campo e na indústria de forma a possibilitar um maior aproveitamento da palha da cana-de-açúcar na co-geração de eletricidade. Para tanto, a equipe trabalha na identificação e na solução dos problemas que impedem as usinas parceiras de gerarem eletricidade de forma plena e sistemática.