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Quem mais sofre com a entressafra longa? Confira avaliações de pesquisador do CTC sobre o tema

jaime finguerut, do ctc
jaime finguerut, do ctc

Que usina de cana-de-açúcar da região Centro-Sul do País mais deve sofrer com a entressafra já iniciada e que deve ser a mais longa dos últimos anos, com até seis meses de duração? Para tratar do tema, Infocana ouviu um especialista do setor sucroenergético, o engenheiro químico Jaime Finguerut é pesquisador do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

Para a área agrícola do setor sucroenergético, o que há de bom e ruim com uma entressafra tão longa?

Jaime Finguerut – A produção de cana-de-açúcar precisa ser feita da forma correta. Ou seja, você deve plantar a variedade certa no local certo, no momento certo e colher no momento certo. Todo mundo tem a vontade de usar a usina o máximo possível, porém muitas vezes isso é feito em detrimento da produtividade.

Como assim?

Jaime Finguerut – É quando acaba-se não colhendo a cana no período correto, ou muito antes da sua maturação, ou muito depois da sua maturação. Do ponto de vista de qualidade, existe prejuízo nessa extensão de safra, que é feita de forma não técnica.

Fale mais a respeito, por favor.

Jaime Finguerut – Do ponto de vista de qualidade da cana, o período de safra mais curto é positivo. Quer dizer, haverá a retirada apenas do filé mignon do canavial. De outro lado, há o custo de produção, já que as usinas são muito intensivas em Opex e Capex. Assim, quanto mais se produz durante o ano é melhor para diluir os custos que são inevitáveis.

E o lado bom da entressafra longa?

Jaime Finguerut – O lado bom é que aproveita melhor o período de maturação da cana.

E o lado ruim?

Jaime Finguerut – Os custos vão aumentar.

Qual a solução para conviver nesse período longo de entressafra?

Jaime Finguerut – É usar a variedade certa de cana-de-açúcar no local certo. Há variedades precoces, em que o material genético consegue produzir uma quantidade de açúcar e de cana grandes que permita com que sejam colhidas antes do pico da maturação. Significa que essa variedade poderia ser colhida em abril, ou em maio, com bom teor de açúcar.

Com foco na entressafra longa, quais são outros tipos de variedades?

Jaime Finguerut – As tardias. São aquelas que mantêm ainda um teor de açúcar alto para o fim da safra.

Isso é obedecido?

Jaime Finguerut – Infelizmente, o que se fez foi colher tardiamente uma variedade que era média. Então, a variedade vegeta e usa seu próprio açúcar para essa vegetação.

Qual a solução?

Jaime Finguerut – Um planejamento varietal: definir o plantel em função das necessidades de colher no início, no meio e no fim da safra. Essa é uma tecnologia conhecida, mas subutilizada. Hoje há um time de variedades bastante grande, que permitiria esse planejamento bem feito.

E as consequências disso?

Jaime Finguerut – A renovação de canaviais é feita em menor velocidade, com índice de renovação abaixo da média de 15% do total de cana plantada.

Qual sua estimativa de renovação para a safra 2017/18?

Jaime Finguerut – Manteremos taxa baixa de renovação, entre 10% e 12%. Isso significa que não iremos plantar certo no local certo. Por esse motivo, e devido a imprevisibilidade do clima, acaba-se tendo, em alguns casos, de terminar antes a safra com aumento correspondente de custos.