Usinas

Qual o impacto do mercado de capitais para as usinas?

Alexandre Figliolino responde

Qual o impacto do mercado de capitais para as usinas?

Alexandre Figliolino, sócio diretor da MB Agro Consultoria, é especialista em gestão financeira de empresas também do setor sucroenergético. 

Em entrevista ao JornalCana, ele comenta sobre a importância do mercado de capitais, os créditos de descarbonização e se os bancos seguirão financiadores e parceiros das usinas.

JornalCana – Em sua avaliação, qual o impacto do mercado de capitais para as usinas e qual a tendência?

Alexandre Figliolino – Foi muito positivo de uns tempos para cá que o mercado de capitais tenha aberto as portas. Isso propicia a diversas empresas do setor sucroenergético ter nesse mercado uma fonte alternativa importante de captação de recursos a custos competitivos e com prazos alongados. O setor sem dúvida caiu no gosto do investidor.

JornalCana – Como assim?

Alexandre Figliolino – Como os títulos CRAs e debêntures incentivadas têm um incentivo fiscal importante de isenção de IR para o investidor pessoa física, o interesse de quem investe e de quem emite tem sido grande.

JornalCana – E o que deverá vir por aí?

Alexandre Figliolino – Tem sido muito comum a emissão de papéis corporativos, mas temos certeza que no futuro teremos também grupos de fornecedores do setor tendo acesso ao mercado, já que existem canais disponíveis para isso.

JornalCana – E a abertura de capital?

Alexandre Figliolino – A abertura de capital (IPO) já é um processo bem mais complexo, onde apenas um grupo mais seleto de empresas pode acessar, porque as exigências e os custos de acesso são bem maiores. Além do que podem não fazer sentido para muitos.

JornalCana – Os bancos estão perdendo espaço?

Alexandre Figliolino – Não tenho dúvidas de que durante muito tempo os bancos ainda serão a principal fonte de financiamento do setor, tendo a desintermediação financeira via emissão de dívida a mercado ocupando apenas um pequeno espaço.

JornalCana –Os créditos de descarbonização, os CBios, tendem a ganhar espaço como ativos financeiros?

Alexandre Figliolino – Os CBios são um instrumento muito novo e que tiveram em 2020 seu primeiro ano de negociação. Na medida que esse instrumento se torna mais conhecido, e tendo em todo o seu processo um alto nível de governança, com as certificações ocorrendo de forma bem clara e transparente, nada impede que seu mercado se amplie para não obrigados (os obrigados são as distribuidoras de combustíveis).

Isso porque existe uma enorme preocupação de todos os agentes econômicos de neutralizar suas emissões de carbono e o CBIO, sem dúvida, por ser um excelente instrumento para isso. Nessa forma, amplia-se o leque de compradores do crédito, hoje muito concentrado na mão das grandes distribuidoras.

JornalCana – Como o senhor avalia o acesso das empresas de pequeno porte ao mercado de CRA?

Alexandre Figliolino – O acesso ao mercado de CRA é perfeitamente possível mesmo para empresas de menor porte. Para emissões públicas via instrução CVM 400 é recomendável que a empresa tenha rating (nota de classificação de risco de crédito) público.

Mas existe um mercado de colocação mais restrita, via CVM 476, onde normalmente as empresas não têm rating. Normalmente são emissões de porte menor dada as restrições de acessar investidores, pois podem ser contatados até 72 investidores e a colocação ser feita para no máximo 50.

Uma usina de moagem de 3 milhões de toneladas de cana pode tranquilamente acessar o mercado pelas duas vidas (CVM 400 e CVM 476).

JornalCana – E sobre os custos de um processo de emissão?

Alexandre Figliolino – Os custos de emissão estão muito atrelados à qualidade do crédito da empresa emissora. E, nisso, um rating elevado ajuda bastante a reduzir o custo, mas também sofre muito a influência do prazo, ou seja, quanto mais curto mais a taxa baixa.

Nas atuais condições de mercado, para uma emissão de prazo médio de 3 anos, as taxas estariam ao redor de IPCA + 4 a 6% para o investidor, mais os custos inerentes à emissão.

* Delcy Mac Cruz

Esta matéria faz parte da edição 325 do JornalCana. Para ler, clique AQUI!

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