Usinas

Quais são as estratégias de diversificação para as usinas lucrarem mais?

Especialistas comentam os produtos que têm mais potencial para o setor

A nova unidade da Inpasa terá 100% da produção de etanol a partir do milho (Foto: Divulgação)
A nova unidade da Inpasa terá 100% da produção de etanol a partir do milho (Foto: Divulgação)

Mesmo com as perspectivas de bons patamares dos valores de açúcar e de etanol para o próximo ano, as usinas precisam de novas estratégias de diversificação para garantir a sua rentabilidade. Neste sentido, os subprodutos gerados a partir da produção do alimento e do biocombustível, como também o uso de outras matérias-primas, vêm ganhando cada vez mais relevância nos planos de expansão das empresas.

Aliado a isso, a demanda por investimentos ligados à sustentabilidade e às preocupações com as mudanças climáticas e com a economia circular– fatos intensificados com a pandemia da Covid-19 – deve ser considerada pelas companhias. Assim, o etanol de milho é um desses subproduto apontado como estratégia de diversificação promissora para a 21/22.

Silvio Rangel

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), existem 14 usinas produtoras de etanol de milho, localizadas em São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso. Sete utilizam apenas o grão do milho para gerar etanol e outras sete são híbridas: utilizam cana-de-açúcar e milho em seu processo produtivo. Em 2019, elas produziram 2,12 bilhões de litros de etanol e a estimativa é que produzam 2,7 bilhões nesta safra.

“O aproveitamento melhor do milho foi o que deu viabilidade a esses investimentos. As plantas já nascem com tecnologia 4.0 embarcada e fazem o melhor uso da automação”, disse Silvio Rangel, presidente do Sindálcool-MT. Ele ressaltou ainda que com a expansão do etanol de milho, o DDG, grão de milho seco por destilação, um dos produtos de uma indústria de etanol de milho, usado como nutrição do gado de corte, começa a ser outra fonte de renda.

O líder participou do webinar “Etanol de Milho, E2G, Biogás e Outras Estratégias de Diversificação no Mercado Bioenergético” realizado pelo JornalCana, no dia 11 de novembro. O evento contou com patrocínio da DT Faceum; GDT by Pró-Usinas; HB Saúde; Resolv; S-PAA Soteica e TECO 2020.

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Francisco Vassellucci

Outro subproduto indicado para a diversificação é o E2G, que já é até usado na indústria de cosméticos. Pioneira na fabricação do etanol celulósico no Hemisfério Sul, a GranBio investiu USD220 milhões em uma planta em São Miguel dos Campos, em Alagoas. Atualmente, a empresa tem capacidade para produzir cerca de 30 milhões de litros de etanol 2G por ano e 100% desse biocombustível é exportado aos mercados americano e europeu. A companhia também investe na cana Vertix, variedade exclusiva de cana-energia, mais robusta, com maior teor de fibra e potencial produtivo, usada como matéria-prima para a produção do 2G.

Este ano, a empresa anunciou a parceria com NextChem para desenvolver o mercado de etanol celulósico e viabilizar a comercialização da tecnologia que desenvolveu para a produção do 2G, globalmente. “Há uma demanda enorme de 2G no mundo, principalmente na Europa que decidiu que até 2030 vai substituir uma certa quantidade de combustível comum por avançado, entre eles o 2G. Isso vai gerar um mercado de 3.3 bilhões de litros a mais de combustível avançado e para atender essa demanda seria preciso mais 60 biorefinarias. Hoje só há duas empresas que produzem o produto, nós e a Raízen”, comentou no webinar, Francisco Vassellucci, CCO da GranBio e CEO interino da GranBio USA.

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Fonte energética renovável, sustentável e com “pegada negativa de carbono”, o biogás é visto como uma alternativa para a produção de energia e para substituição do GNV e do diesel e sua produção vem crescendo substancialmente no país, sendo outra estratégia de diversificação para o setor sucroenergético.

Alessandro Gardemann

“Brasil tem de longe o maior potencial de biogás do mundo. O potencial agroindustrial de produção de biogás no país é de 120 milhões de m3 /dia”, estima um presidente da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), Alessandro Gardemann, explicando que o produto pode ser gerado a partir de resíduos sólidos urbanos e de subprodutos da cana e da produção de etanol e açúcar, como bagaço, torta de filtro, palha e vinhaça.

No webinar, Gardemann ressaltou que a parte regulatória do biogás foi importante para impulsionar o seu desenvolvimento, com a participação inclusive em leitões de energia. Porém, afirma que ainda há muito desperdício no país. “O que o Brasil consome de gás natural por dia hoje, a gente desperdiça quase uma vez e meia com os resíduos que foram produzidos e não aproveitados de forma energética”, disse.

A Tereos também acredita no potencial do biogás e investe em um projeto piloto a partir dos resíduos da cana-de-açúcar, que está sendo construído na Usina Cruz Alta, em Olimpia/SP, e deve entrar em funcionamento no próximo ano. De acordo com Raul Guaragna, diretor de operações da companhia, diversificar o portfólio ajuda a fazer frente ao mercado e a pensar em estabilidade. “É preciso achar um produto que tenha haver com sua competência essencial, que saiba fazer, que seja escalável, de tamanho suficiente para a empresa crescer e ajudar a criar resiliência às variações da commodity”, disse no evento online.

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Raul Guaragna

Neste sentido, o diretor lembra que não basta querer diversificar, tem que se pensar na sustentabilidade e ter a capacidade do investimento e maturidade de tecnologia, caso contrário, ao invés de lucro com novos produtos, a companhia terá é prejuízos.

“O biogás é uma realidade de diversificação e pretendemos ter outras 3 ou 4 plantas no futuro, além do projeto piloto, que iniciará as atividades em 2021. Ali tem um potencial de 60 m3 de biometano por ano”, contou.

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Esta matéria faz parte da Edição 321 do JornalCana. Para conferir, clique AQUI.