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Produtores buscam reverter expectativas de perdas da próxima safra

Em reunião da Canaplan produtores avaliam estratégias para alavancar a produção e recuperar perdas desta safra

Fotografia da unidade MB da BIOSEV em Morro Agudo/SP.
Fotografia da unidade MB da BIOSEV em Morro Agudo/SP.

Ainda sob o impacto da queda de produtividade da safra atual, produtores que participaram da II Semana Canavieira – Reunião Canaplan, realizada entre os dias 25 a 29 de outubro, avaliaram as escolhas a disposição, a fim de reverter a tendência de queda para a colheita da próxima safra.

Para o consultor agrônomo Álvaro Sanguino, a grande preocupação é com mudas para plantio. “Temos geada, seca e doenças sistêmicas devido a essa seca. Não existe mais aquela estrutura do passado de formação de mudas. Acredito que será um plantio bastante rústico, plantado o que tem e não o que deveria ser plantado”, disse.

Segundo ele, além da seca, tem outras questões envolvidas, como a escaldadura, por exemplo, que tem matado muita cana. “A prioridade é melhorar a qualidade da muda, sempre tomando cuidado com as doenças oportunistas. É importante critério no uso de fungicidas, para não criar fungos mais resistentes. A cana está engatinhando em termo de aplicação de fungicida”, afirmou.

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Álvaro Sanguino

Sanguino, alerta também para os cuidados no uso de herbicidas. “É preciso tomar cuidado com herbicida na área de muda, pois isso causa distúrbio na brotação da gema”, disse.

Júlio Campanhão destaca que umas das prioridades será a adoção do tratamento térmico. Ele analisa que os impactos para a próxima safra serão falha na brotação e atraso no desenvolvimento, estimado entre 15 e 20%. Um levantamento das falhas em uma usina de Catanduva apontou cerca de 12% de soqueira morta.

A ação recomendada: replantar essas áreas. Com relação às falhas, Campanhão indica trabalhar com bioreguladores nutricionais. Já no caso de replantio, ele ressalta a urgência e usando todos os recursos disponíveis para recuperar a planta. “Ano que vem teremos um atraso em safra, e vamos usar o maturador, pois é uma ferramenta que dá retorno, e entrou na nossa prática de tratos culturais”, explicou.

Luiz Carlos Dalben, da Agrícola Rio Claro, disse que quem tiver matéria-prima para os próximos dois anos conseguirá alavancar resultados. “Antecipamos em 30% o plantio, investimos em irrigação. Então esse é momento para ter matéria-prima”, disse.

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Júlio Marcos Campanhão

Para Dalben, além dos problemas climáticos, a praga do pão de galinha foi bastante prejudicial. Ele não acredita em recuperação para o próximo ano. “Muda é problema, praga é problema e insumos é problema.” Dalben chama a atenção para os cuidados com o solo.

“A trafegabilidade, o volume de passadas na área de cana é muito intenso. E são máquinas muito pesadas. Então preparo de solo requer um estudo muito profundo. Depois que paramos de colocar fogo no canavial, mudou a biologia do solo, o que aumentou o surgimento de pragas”, enalteceu.

Para Mário Gandini, da Usina São Martinho, o ressurgimento de pragas consideradas secundárias é efeito de um desequilíbrio provocado pelos próprios produtores. Por isso, é importante reforçar o controle biológico. Para ele, mesmo diante do esforço para recuperar, teremos um canavial com baixa produtividade.

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Mário Gandini

“Em Ribeirão Preto ainda não dá gosto de andar pelas lavouras, embora esse ano as chuvas tenham vindo em hora certa. Os grandes desafios são as ervas. Outro desafio foi nas áreas que queimaram. Vamos carregar sequelas desses dois anos ruins. Vejo pouca coisa a ser feita, pois o setor já vem investindo muito em cuidados. O preço do produto está bom, mas o custo de produção também subiu muito”, avalia.

Tendências

“Temos que fazer todo esforço para chegar na colheita de duas linhas. Você reserva 75% da área para cana e 25 para pneus. Isso que ganhou o apelido de Canteirão, é o futuro do nosso setor. Vai resolver uma série de problemas que falamos hoje, inclusive reduzindo a necessidade de preparo (compactação de solo), que deixará de existir”, disse Mário.

Ele defende, no entanto, a fosfatagem para elevar os níveis de fósforo (P) no solo. “Acho que essa prática vai se consolidar no setor, exemplo vem da área de grãos, onde não se inicia o plantio sem ajustar o teor de solo. Não é novidade técnica, e deveríamos estar fazendo isso desde o começo. É improvável que se prossiga sem essa prática”, afirma.

Outra tendência que deve se consolidar é o espaçamento adensado. Segundo Luiz Carlos Dalben, também não é novidade. “No início da década de 80, já se fazia isso, e naquela época não existia mecanização. Acho que esse plantio veio para alavancar a produtividade e pelo uso da colheita mecanizada. O plantio mecanizado não pode ser abandonado. A colhedora duas linhas é uma realidade. Então teremos “avanços retroativos” nessa área, disse.

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Luiz Carlos Dalben

Alvaro Sanguino, vê como tendência a utilização dos fungicidas folheares. “Vai se tornar uma prática, e facilitar na hora de selecionar as plantas com pequenos defeitos. Para uso de doenças que atacam a folha será regular, e a prática de uso, vai ensinar a se trabalhar com fungicida.”

Para Júlio Campanhão, uma tendência deve ser a utilização de bioestimulantes para aumentar a taxa de fotossíntese. “Acredito que os benefícios são grandes. Precisamos estudar mais fisiologia vegetal.  A nutrição fisiológica vai fazer parte dos nossos tratos culturais”, acredita.