O produtor de cana-de-açúcar tem programa gratuito focado no treinamento do trabalhador para a adequada aplicação de agrotóxicos, de maneira prática. O objetivo é melhorar os resultados, a qualidade de vida e a saúde dos trabalhadores e a segurança alimentar dos consumidores.
Criado há 11 anos pelo Instituto de Agronomia (IAC), da Secretaria estadual da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com multinacional focada em soluções para a agricultura, o programa atende pelo nome de Aplique Bem.
Segundo o pesquisador Hamilton Ramos, coordenador do programa e do Centro de Engenharia e Automação do IAC, o treinamento gratuito estende-se não só aos produtores paulistas de cana, mas aos dos demais estados brasileiros com produção da matéria-prima do etanol.
Em entrevista ao JornalCana, Ramos comenta sobre outra iniciativa do IAC, também direcionada às empresas do setor sucroenergético, que é a Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agrotóxicos (UR), criada para levar preceitos básicos da utilização de agroquímicos ao trabalhador rural.
Na entrevista, o pesquisador do IAC explica mais sobre a UR e sobre o programa Aplique Bem. Confira a seguir:
JornalCana – O setor sucroenergético usa bem ou mal o agrotóxico?
Hamilton Ramos – Assim como outros setores, o sucroenergético tem várias facetas. Dentro desse setor há quem use bem e use mal o agrotóxico. De uma forma geral, a tecnologia [de aplicação] chegou ao setor sucroenergético. Muitas vezes hoje não é a falta de tecnologia, mas o uso adequado dessa tecnologia que leva a falhas e a erros.
De maneira geral o setor sucroenergético usa mal o agrotóxico? Que nota entre 0 a 10 o sr. dá para a aplicação de agrotóxicos pelo setor?
Hamilton Ramos – Hoje o setor está entre 7 e 8. Não está ruim, mas o que é preciso identificar e deixar muito claro são erros e falhas. Uma pessoa erra quando sabe que aquilo não está certo e resolve assumir o risco. Já a falha ocorre quando a pessoa não sabe o que está acontecendo. Faz errado por falta de conhecimento de como fazer certo. Isso é uma falha. E o que temos hoje no setor sucroenergético, e no agronegócio de uma forma geral, são muito mais falhas do que erros.
Como consertar isso? Qual a contribuição do IAC?
Hamilton Ramos – Temos trabalhado em projetos de transferência de tecnologia. O mais recente deles é a Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agrotóxicos (UR), projeto do Centro de Centro de Engenharia e Automação do IAC voltado ao treinamento de agentes multiplicadores. Temos hoje dois treinamentos desenvolvidos: um é o NR 31.8, na área de segurança de uma forma geral e focado na legislação trabalhista, e o outro é de tecnologia de aplicação para ensinar a usar e a manter adequadamente os pulverizadores, para ver como interfere na qualidade e no custo dessas aplicações.
Qual a duração desses cursos?
Hamilton Ramos – São cursos de duas semanas de duração, nos quais a pessoa treinada volte para a usina e seja capacitada para treinar os colaboradores da unidade produtora. Treinar os tratoristas, treinar as pessoas envolvidas na aplicação. E como ela tem uma qualificação superior, estará habilitada a fazer auditorias para entender como a melhoria que ela implantou retorna em redução de custos para a usina.
Comente sobre o programa Aplique Bem
Hamilton Ramos – Rodamos o Brasil com ele treinando trabalhadores. Nesse projeto ficam muito evidentes as principais falhas encontradas. E quando apresentamos essas falhas e mostramos como corrigir, via de regra quando voltamos novamente em uma visita essas falhas não existem mais.
Como um produtor de cana-de-açúcar pode participar do Aplique Bem?
Hamilton Ramos – É uma parceria do IAC com empresa fornecedora de produtos e soluções para a agricultura. Nessa parceria, o IAC é responsável pela parte técnica, quem contrata e treina. A parte organizacional é feita pelo time da empresa. Quem organiza os treinamentos nas regiões são os representantes da empresa. Uma vez organizado, nossos instrutores vão no período agendado e fazem o treinamento.
Há algum custo para o produtor?
Hamilton Ramos – Totalmente sem custos. E para pedir o treinamento pelo Aplique Bem o produtor de cana não precisa comprar nenhum litro de produto da empresa e nem ser cliente dela. Por questões contratuais, o Aplique Bem não fala de produto. O programa é de tecnologia de aplicação, é segurança. É tecnologia para o produtor.
Já os cursos da Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agrotóxicos (UR) têm custos?
Hamilton Ramos – Sim. Os cursos são aplicados no Centro de Engenharia e Automação do IAC que fica em Jundiaí (SP). É onde temos toda a estrutura tanto para aplicar as aulas teóricas quanto práticas. Nesse caso, como não temos patrocínio e os cursos são auto-financiáveis há custo, que varia conforme o curso pretendido.
Em média uma empresa sucroenergética investirá quanto por profissional em curso na UR?
Hamilton Ramos – Em torno de R$ 6,5 mil por profissional nas duas semanas de duração do curso. Quem tiver interesse pode entrar no site da UR e verificar os cursos agendados e os preços de cada um.
Clique aqui e confira o áudio da entrevista com o pesquisador Hamilton Ramos
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