Em busca de culturas que possam agregar valor a suas propriedades, os produtores de cana procuram alternativas além da soja, milho e amendoim. Entre essas alternativas, uma que chamou a atenção do produtor Cezar Faiad Neto, é o lúpulo, responsável pelas substâncias que conferem amargor, sabor e aroma à cerveja.
Por conta das características da planta, o lúpulo, está longe de ser uma tradição na produção agrícola no país. Mas após algumas iniciativas mostrarem que o seu cultivo em terras brasileiras é possível, essa realidade vem mudando.
Segundo dados da Associação Nacional dos Produtores de Lúpulo – APROLÚPULO, novos produtores estão surgindo e atualmente há cerca de 50 hectares plantados no país.
Entre esses novos produtores está Faiad, que ingressou nessa seara, após uma conversa sobre os componentes da cerveja, no início da pandemia. “Meu filho Guilherme pediu um kit cervejeiro e nasceu um hobby, fabricar cerveja. Começamos a pesquisar sobre o assunto, fui até São Bento do Sapucaí – SP, onde tudo começou por aqui, e desde então comecei a desenvolver minha plantação”, afirmou.
Ainda em fase experimental, Faiad está de olho num mercado em potencial e pretende partir para uma produção em maior escala.
A experiência está sendo conduzida em Santa Rosa de Viterbo – SP e é o primeiro plantio regional do lúpulo.
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“Além da sua aplicação na cerveja ele é um biocida natural, ele é conservante, é anticancerígeno, é um negócio fantástico que a medicina ainda está descobrindo. Hoje 99% do lúpulo mundial é direcionado para a fabricação de cerveja, mas a indústria farmacêutica começou a explorar sua utilização de uma tal maneira que provavelmente vai ter um grande mercado, para escoarmos nossa produção”, disse.
Em seu projeto experimental ele vem trabalhando com seis variedades da planta: Cascade, Comet, Zeus, Triumph, Triple Pearl e Nugget, algumas de origem europeia, outras norte americanas.
Faiad conta com área para a produção de cana, que pretende manter e outra área com eucalipto, que poderá ser substituída gradativamente pelo lúpulo.
“Pretendo dedicar inicialmente 1 hectare para a produção do lúpulo, após entender todas as dificuldades e restrições nesse processo. É um produto diferenciado, mas precisa ser escoado rapidamente, pois o custo de mantê-lo num ambiente refrigerado é bem pesado. Esse é um desafio: comércio versus refrigeração”, explica Faiad.
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“É muito difícil a operação dele então a ideia é fazer um hectare, bater a cabeça, que nem nós batemos a cabeça aqui na fase experimental. E depois, com esse um hectare dando certo, ampliaremos na sequência para 5 hectares”, conta.
O produtor explica ainda que alcançaram uma produtividade média de 385 g/planta, bem aquém da produtividade obtida no hemisfério norte, mas superando muito a expectativa brasileira que é de 150 g/planta na primeira safra.
“No quesito qualidade, o lúpulo surpreendeu positivamente, alcançando patamares de Alfa Ácidos de 17,27%, um dos principais indicadores de qualidade, iguais e até superiores aos obtidos fora do país. E aí será o mercado que vai ditar a evolução da plantação, dependendo da aceitação do produto”, finaliza o produtor destacando que 99% do lúpulo consumido pelos fabricantes de cerveja no Brasil é importado.