A gaúcha Olfar está investindo em uma nova indústria junto ao seu complexo industrial em Erechim – RS e vai começar a produzir, de forma inédita, etanol a partir de melaço de soja, em conjunto com a proteína concentrada de soja (SPC, na sigla em inglês), destinada à ração animal.
Para isso, a companhia vai utilizar uma tecnologia da Fermentec, que já está em uso em uma fábrica de SPC da CJ Selecta em Minas Gerais.
A Fermentec selecionou uma levedura que é capaz de decompor os diferentes tipos de açúcares presentes no melaço de soja e que são típicos desse produto. Resultado do processo que transforma o farelo de soja comum no concentrado protéico SPC, o melaço de soja costuma servir para a complementação de ração animal, mas tem baixo valor de mercado.
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A transformação do melaço em etanol representa, assim, um aumento do valor agregado do produto – e também uma oportunidade para a substituição de insumos na própria indústria de SPC, o que reduz custos e aumenta receitas.
Hoje, para produzirem o concentrado proteico, as empresas precisam comprar etanol no mercado para utilizá-lo como solvente e eliminar, assim, açúcares que reduzem o teor de proteína.
Com a produção própria de etanol, as indústrias de SPC conseguem eliminar a necessidade de compra do insumo.
A fábrica da CJ Selecta começou a utilizar a levedura da Fermentec em 2021, o que permitiu aos técnicos acumular alguns aprendizados desde então.
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Em entrevista ao Valor Econômico, Alexandre Godoy, vice-presidente da Fermentec, conta que, durante o início do processo de fermentação do melaço, apareceram mais leveduras capazes de decompor essa matéria-prima. Elas acabaram sendo incorporadas ao processo produtivo.
Por outro lado, também apareceram bactérias que concorreram com as leveduras e que contaminaram o processo, o que exigiu que a empresa melhorasse os procedimentos de assepsia para evitar o problema. “Passamos por desafios, mas agora a tecnologia está dominada“, assegura.
Com os ajustes, a fábrica da CJ Selecta consegue produzir atualmente 180 litros de etanol a partir de cada tonelada de melaço de soja. A fábrica da Olfar deverá ser capaz de converter 15 toneladas de farelo de soja em mil litros de etanol. Com os investimentos que estão sendo feitos na estrutura fabril de Erechim – RS, a empresa conseguirá produzir até 12 milhões de litros de etanol ao ano e 164 mil toneladas de SPC ao ano.
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Metade do etanol deverá abastecer a própria indústria de SPC, e o restante deverá ser vendido no mercado, seja de combustíveis, seja industrial. A planta deverá ficar pronta em meados de 2024.
“Com as leveduras corretas, o leque de matérias primas para a fabricação de etanol pode se expandir ainda mais, fazendo o setor sucroenergético ainda mais competitivo”, afirma o presidente da Fermentec, Henrique B. de Amorim Neto.
Na indústria de SPC, porém, o crescimento da produção de etanol é limitado pelo próprio tamanho ainda restrito desse segmento. O principal uso do produto é na ração de peixes criados em cativeiro, em substituição a outros pescados, que ainda dominam a alimentação na aquicultura. Esse é o mercado que a Olfar pretende atender, principalmente a indústria de peixes da Noruega e do Chile.
Segundo Mateus Andrich, diretor industrial da companhia gaúcha, os clientes desse segmento costumam preferir produtos não-transgênicos, mas o aumento recente da demanda vem abrindo espaço para o SPC de soja transgênica, como será o da Olfar.