Em novo relatório “El Niño e seus efeitos no mercado de commodities”, a hEDGEpoint Global Markets detalha a relação dos padrões climáticos e seus efeitos na oferta de açúcar.
De acordo com Livea Coda, analista de Açúcar e Etanol da companhia, para entender melhor esse contexto, primeiro é importante discutir quais são as condições normalmente exigidas para o desenvolvimento da matéria-prima do adoçante.
O açúcar pode ser produzido a partir de dois produtos principais: a cana-de-açúcar e a beterraba. Cada cultura requer um conjunto diferente de condições para se desenvolver. Enquanto a cana é a mais adequada para climas subtropicais, a beterraba é um pouco mais resistente a temperaturas frias e pode suportar climas temperados.
“Como resultado, os principais fornecedores de açúcar, Brasil, Índia e Tailândia, assim como a maioria da América Central, produzem açúcar a partir da cana, enquanto regiões como Europa, Eurásia e norte da América do Norte lidam melhor com a beterraba”, explica Coda.
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“Cada país e região tem seu calendário de safra, mas uma coisa é igual: tanto a cana quanto a beterraba precisam de chuva, umidade do solo e sol para um bom desenvolvimento durante sua fase de crescimento. Dessa Forma, mudanças nas condições climáticas regulares podem afetá-las diretamente e, dessa forma, impactar a produção total do adoçante”, complementa a analista.
Segundo ela, embora não haja forte correlação entre a ocorrência do padrão El Niño e as quebras da safra de açúcar, sabe-se que ele adiciona volatilidade à sua disponibilidade, especialmente se ocorrer durante a janela junho/agosto, pois pode afetar tanto a safra brasileira quanto o desenvolvimento da cultura no Hemisfério Norte.
“No entanto, devemos ter em mente que nem todos os seus efeitos são necessariamente negativos, pois o El Niño afeta de maneira diferente cada região a depender, também, de sua intensidade”, ressalta.
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Efeitos do El Niño no cultivo da cana no Brasil, América Central, Índia, Tailândia e Europa Brasil
A fase de cultivo da cana começa em meados de setembro e vai até março. Nesta fase, o ideal é que haja precipitação abundante, luz solar adequada e umidade do solo. Na época da colheita, pouca precipitação induz maior teor de sacarose, o que costuma acontecer no inverno brasileiro.
O El Niño pode levar a um inverno mais úmido – ruim para o ritmo da safra e para a concentração de sacarose – sua ocorrência costuma impactar negativamente a produção total do adoçante.
Além disso, durante a janela mais importante de desenvolvimento da cana (dezembro a fevereiro), o padrão climático pode induzir uma redução na precipitação do Centro-Sul, especialmente no Norte de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, comprometendo o desenvolvimento da próxima safra.
No entanto, as correlações ENSO são menores para a precipitação na região, reduzindo seus efeitos esperados na produção total Brasileira.
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América Central
O El Niño geralmente leva a região a um clima mais seco do que o normal durante a janela mais importante para o desenvolvimento da cana. Entre abril e novembro, se o país não contar com métodos de irrigação, a cana pode sofrer e não se desenvolver adequadamente.
Índia
Entre junho e novembro, representando basicamente todo o período de desenvolvimento da cana, o El Niño torna o clima mais seco – levando a monções abaixo da média e possivelmente comprometendo a produção de açúcar. Este ano, se a intensidade do El Niño aumentar afetando a atual formação das monções, isso pode aumentar o cenário de restrição de disponibilidade do adoçante, no entanto, se o período de seca vier mais tarde, pode induzir um maior teor de sacarose.
Tailândia
Como na Índia, o El Niño traz um clima mais seco do que a média durante a maior parte do ano, exceto no período de dezembro a fevereiro, quando pode induzir precipitação acima do normal. Portanto, o padrão climático é extremamente preocupante, pois pode afetar negativamente tanto o desenvolvimento da cana quanto o ritmo de moagem.
Europa
O El Niño pode ser responsável por um leve aumento na precipitação da região – principalmente na França e na Alemanha. Portanto, sua ocorrência seria beneficial se restrita à janela de março a agosto, que é exatamente a fase de desenvolvimento da beterraba. Caso ocorra um evento extremamente forte, o El Niño pode levar ao prolongamento do período de chuvas – dificultando a colheita.
Como a previsão do ENSO aponta para uma maior probabilidade de formação de El Niño durante maio-agosto, as preocupações com a produção de 23/24 aumentaram. Embora possa não afetar a colheita atual (22/23), a produção de açúcar da Índia 23/24 pode ser afetada se a probabilidade do padrão climático se intensificar rapidamente.
Mas a Índia não é a única em risco. O Centro-Sul brasileiro também pode sofrer com seus efeitos. Um inverno mais úmido pode ser extremamente ruim para a concentração de sacarose e afetar o ritmo de moagem. Ainda assim, devemos estar cientes da magnitude esperada deste evento climático. Devido às baixas correlações, um El Niño mais sutil pode não afetar tanto a região.
Para algumas regiões, como a Europa, o padrão pode até ser benéfico, e, para outras, como a América Central, investimentos realizados para ampliar a capacidade de irrigação devem evitar quebras significativas.