A cúpula dos países mais industrializados do mundo, G7, encerrada na segunda-feira (08/06), definiu a meta de acabar, ou reduzir significativamente, o uso de combustíveis fósseis até 2100.
Embora a definição soe mais como intenção dos governistas, que se preparam para a Cúpula do Clima de Paris, em dezembro próximo, trata-se de compromisso contra os fósseis, entre eles o petróleo.
O compromisso do G7 abre oportunidades para o etanol brasileiro?
Na entrevista a seguir, Jucelino Sousa, presidente do Grupo Coruripe, com unidade em Alagoas e quatro em Minas Gerais, responde sobre o assunto para o portal JornalCana. Confira:
JornalCana – Como o sr. acredita que o setor sucroenergético deve aproveitar a oportunidade aberta pelo compromisso do G7?
Jucelino – As questões ambientais perderam espaço nas agendas dos Governos desde a crise de 2008 e mais recentemente em função da queda do preço do petróleo. Infelizmente a visão de curto prazo tem se sobressaído. Para que o setor sucroenergético aproveitasse a retomada da pauta ambiental, seria necessário que o Governo brasileiro estivesse engajado nesta causa. Não é o que percebemos. Neste momento, o Governo não está com o meio ambiente e muito menos preocupado com o setor. Tanto assim que nos últimos 4 anos subsidiou os combustíveis fósseis no país. Ou seja, não vejo como institucionalmente e sem o apoio do Governo federal nos beneficiarmos desse movimento.
JornalCana – A Cúpula do Clima em Paris, em dezembro próximo, será o próximo passo sobre o tema. Como o setor deve participar desse evento?
Jucelino – A experiência brasileira de substituição de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis e de geração de energia a partir da biomassa é de longe a mais bem sucedida do mundo. Temos uma matriz energética diversificada e sustentável. O Governo brasileiro, com o apoio do setor, deveria aproveitar esse momento para mostrar isso ao mundo. Muito mais do que sermos o país do Samba ou do Futebol, somos realmente o país dos combustíveis renováveis sem prejuízo a produção de alimentos.O Governo precisa novamente comprar esse idéia e utilizar essa bandeira na sua política de comércio exterior.
JornalCana – A possível abertura do mercado mundial para os biocombustíveis, entre eles o etanol, já é motivo para retomar investimentos no setor? Como?
Jucelino – Infelizmente não. O setor vai esperar, vai querer ver para crer. Ele acreditou nisso no passado e por isso encontra-se nessa situação fragilizada, o setor investiu e foi abandonado, não vai repetir o mesmo erro. O setor precisa primeiro equacionar suas dívidas, se capitalizar, se reestruturar para só depois pensar em voltar a crescer. A elevação do consumo de etanol hidratado e o aumento da mistura do anidro foram compensados pela queda de consumo dos combustíveis do Ciclo Otto. O elevado estoque de passagem de etanol e a situação financeira delicada do setor, evitou e continua evitando, a recuperação de preços do etanol nas usinas.
JornalCana – E o açúcar?
Jucelino – A queda do preço do açúcar em NY compensou a elevação do câmbio, e ainda temos um enorme estoque de açúcar no mundo que levará alguns anos para ser equacionado. O preço da energia livre foi reduzida por decreto. Em resumo, não tivemos ajuda pelo lado das receitas. Por outro lado, tivemos aumento de diesel, reajustes salariais, impacto do câmbio nos fertilizantes e defensivos agrícolas, elevação das taxas de juros e do montante da divida em R$ que tinha sido contraída em US$.
JornalCana – Fale mais a respeito
Jucelino – Completando o quadro, o setor enfrenta enormes restrições das linhas de crédito do bancos privados e dos bancos públicos. Como pensar em investimentos com um cenário como esse ? O foco hoje na nossa empresa, e em todas as demais do setor que tenho conversado, é a redução de custos e o aumento da produtividade, o objetivo é um só: produzir mais gastando menos, utilizando a mesma capacidade instalada.
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