Uma safra altamente açucareira com o mix de produção voltado para o açúcar, avalia o economista do Pecege, Haroldo Torres, que justifica essa tendência diante das altas registradas no mercado de açúcar.
“Diante da redução de oferta no mundo com uma demanda que cresce sistematicamente, basicamente puxada pelo crescimento populacional, mas cresce a 1%, ou seja, no cenário de crescimento, mesmo que lento, mas constante da demanda, e de uma oferta que se retrai o preço do açúcar atingiu inclusive recentemente 24 centavos de dólar por libra peso, um dos maiores valores históricos da última década. Portanto, nós iniciamos a safra com excelentes níveis de preço para o açúcar”, afirma.
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Ele comenta que o mercado de cana tem uma gama de produtos, tendo como carros chefes, o açúcar e o etanol, tendo o alimento apresentado e mantido preço surpreendentemente resiliente em função de algumas características.
Torres ressalta que no mundo, temos praticamente 26 milhões de hectares com cana e uma produção global de quase 1,7 milhões de toneladas de cana. O Brasil representa 40% dessa produção, só que 60% estão concentrados em países como Índia. A União Europeia, que produz açúcar a partir da beterraba, também tem impacto na produção, mas nesses locais, vem sendo constatado a redução na fabricação do alimento, fato que também ocorre na Tailândia em função da concorrência com a mandioca.
Na avaliação do especialista, mesmo diante deste cenário, “a perspectiva é muito positiva e o açúcar vai sim se manter em patamares elevados de preço até para estimular o incremento de oferta dessa produção em novos países ou até mesmo no Brasil. Portanto, a gente tem aí sim um espaço de manutenção para o preço do açúcar”, avaliou Torres, durante participação no podcast IHARACast Proteja Seu Cultivo.
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Já com relação ao etanol, “é importante mencionar que nós temos no setor dois produtos que sofrem ingerência governamental. São produtos regulados. O etanol no mercado de combustíveis e a energia elétrica no setor elétrico”.
Segundo ele, o etanol começou 2023 um pouco cauteloso devido à troca de governo e as possíveis mudanças de preços dos combustíveis. Como também em relação à continuidade das mudanças tributárias ocorridas durante o ano de 2022, que impactaram a competitividade do etanol.
“A partir de primeiro de março, nós já tivemos a remuneração parcial sobre os combustíveis, ou seja, o retorno do PIS/Confins e da Cide sobre a gasolina. Ao mesmo tempo nós estamos tendo uma mudança na tributação do ICMS, que deve voltar para uma alíquota fixa, 1,22 por litro em todos os estados saindo uniforme. Para vocês terem uma ideia, São Paulo, hoje na casa de 90 centavos, passaria para 1,22, ou seja, essa mudança tributária também abre espaço para retorno de uma nova competitividade do etanol sobre a gasolina”, explicou.
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Para o gerente de Marketing Regional IHARA, Thiago Duarte, o planejamento esse ano vai ser fundamental. Ele comenta que é normal, no setor de cana, iniciarmos uma safra com mais umidade e no meio da temporada, a partir de julho, a cana se estabilizar, até chegar no seu pico máximo.
“No período seco quase todas as canas são muito semelhantes em questão de qualidade agroindustrial com o nível máximo de ATR. Porém, nós estamos saindo de uma La Niña e uma provável entrada de El Niño, então, a tendência é que esse ano nós tenhamos chuvas em quase todos os meses da safra, o que vai favorecer um canavial mais verde”, disse.
Diante deste cenário, o planejamento para escolher uma cana com maior ATR vai ser fundamental. “Hoje, 2 a 3 Kg de ATR na média de safra, nós estamos falando de milhões de reais sobre o investimento de uma usina ou até mesmo de um grande produtor. Então esse planejamento é fundamental”, disse Duarte.