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Precisamos de um Proer para o etanol

Foto: Cecília Bastos
Foto: Cecília Bastos

A intenção do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues ao assumir a presidência do Conselho Deliberativo da Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar é se valer de sua experiência, bagagem e o bom trânsito entre todos os agentes, públicos e privados, envolvidos no setor sucroenergético, para auxiliar no equacionamento de uma das crises mais sérias e complexas vividas pelo setor. Para ele, a situação demanda a busca do mais amplo consenso possível. “A prioridade zero é encontrar um grande projeto de saneamento do setor. Uma espécie de Proer* para o Açúcar e o Etanol”, defendeu o ex-ministro em entrevista ao Informativo Abag. Na sequência, outras das suas análises e opiniões sobre o momento, sua nova função e o papel da Unica nesse processo.

Quais são suas ideias em relação à condução do Conselho Deliberativo da entidade num momento tão desafiador como é o atual?
A crise atual é tão complexa e tão profunda que afeta de formas diferentes as empresas do setor. As mais alavancadas foram mais afetadas do que as menos alavancadas. Dessa forma, as demandas também são díspares e, nesse sentido, a condução do Conselho deve ser na direção de se obter o mais amplo consenso possível sobre a melhor maneira de se atravessar a crise. Se cada um optar por uma solução individual é pior para o setor, pois o governo gosta exatamente da desunião e da falta de consenso sobre a solução. A força política de um setor depende da sua própria capacidade de manter um consenso sobre suas demandas.

Qual deve ser a prioridade máxima à frente do Conselho?
A prioridade zero neste momento é encontrar um mecanismo de solução o mais convergente possível para as empresas que compõem a entidade. Esse mecanismo deve contornar a crise a partir de alguns temas:

1 – Encontrar um grande projeto de saneamento do setor. Uma espécie de Proer para o Açúcar e o Etanol, como foi feito com os bancos na década de 1990.

2 – Enfrentar a questão tributária que, por sua vez, passa pela recuperação da Cide -Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, harmonização do ICMS entre os Estados e debate sobre a desoneração do PIS/Cofins.

3 – Recompor o equilíbrio entre os preços da gasolina e do etanol, atendendo a média dos preços da gasolina no mercado internacional. Isso também favoreceria a recuperação das finanças da Petrobras, de forma que o governo deixaria de “destruir” a Estatal.

4 – É fundamental ainda ampliar os mecanismos de comunicação do setor com o conjunto da sociedade e principalmente com o parlamento, no qual hoje está muito bem representado pela Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético.

Precisamos mostrar para a sociedade que a defesa do segmento é positiva não apenas para ele, mas para todos os brasileiros, seja do ponto de vista dos benefícios ambientais, com a mitigação da emissão de CO2; da geração de emprego e renda pelas empresas do setor; além da redução das importações de petróleo, que impacta favoravelmente na balança comercial.

5 – Promover uma grande aproximação entre os diferentes elos da cadeia produtiva, de tal forma que a posição do produtor de cana e a do industrial seja mais equilibrada.

Em sua avaliação, qual é hoje o ponto central que gerou a crise do etanol?
A causa central da crise atual foi o abandono pelo atual governo das políticas favoráveis que eram adotadas durante o Governo Lula. Resta saber o que está por trás desse abandono. Há uma série de hipóteses, que depende muito de achismos. Alguns acham que é por causa do Pré-Sal, outros pensam que a indústria petrolífera é contra os biocombustíveis, enquanto outros acham que há países que temem ver a produção de etanol comprometendo a necessidade mundial de produção de alimentos.

De toda forma, qualquer que seja a causa real, compete ao setor mostrar ao Estado e à sociedade a sua importância econômica, social e ambiental. Mais do que isso: precisamos demonstrar que a produção de bionergia significa um rearranjo na geopolítica mundial, com os países em desenvolvimento, a maioria tropical, ganhando um protagonismo no concerto das nações.

Como equacionar o problema?
Vencer o problema depende de o Estado brasileiro montar uma grande estratégia que contemple todas as questões relacionadas com a atividade, seja a tecnológica, de recursos humanos, logística, regras de comércio internacional, certificação, etc.

A seu ver, qual deve ser o papel estratégico a ser desempenhado pela Unica nesse processo?
Penso que ela tem de atrair para os seus quadros empresas que hoje estão fora da Unica, buscando um amplo apoio dos demais agentes envolvidos, como os trabalhadores e a cadeia industrial que engloba produtores de equipamentos e de máquinas.

*Texto originalmente publicado no Informativo da Abag, nº 91, edição de mar/abr de 2014

(Fonte: Abag)