O setor sucroenergético poderia estar navegando em um mar de oportunidades, criando empregos e aumentando a riqueza para o homem do campo e para o país. O condicional se faz necessário diante da insistência governamental em manter o controle de preços dos combustíveis, espalhando prejuízos, freando investimentos e reduzindo a competitividade do nosso etanol.
No início deste século, o setor sucroenergético vislumbrava um novo nirvana diante da disposição governamental em transformar o etanol tupiniquim em uma commodity global. O sonho de uma potência energética com o selo verde da cana de açúcar atraiu investimentos multibilionários de grandes corporações mundiais, inclusive gigantes do petróleo. Segundo a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), apenas com a renovação de canaviais e em mecanização foram gastos US$ 8,5 bilhões. Adiciona-se a esse valor os investimentos para erguer 100 usinas na região Centro-Sul, que chegaram próximos de R$ 100 bilhões.
Embalado pelo otimismo e as linhas de crédito atrativas, o setor produtivo apostou na política para a promoção do etanol. Inclui-se nesse rol as cooperativas do setor, que também vislumbraram na plantação de cana de açúcar uma oportunidade de melhorar a renda de milhares de cooperados. A crise mundial de 2008 veio transformar o sonho em pesadelo. As dificuldades aumentaram de proporção com o peso da mão forte governamental no controle dos preços dos combustíveis. O resultado foi uma enxurrada de notícias negativas.
Desde 2009, 44 usinas fecharam as portas. Com isso, mais de 30 mil postos de trabalho foram perdidos. A previsão é de que outras 12 empresas, sem condições financeiras, podem encerrar atividades agora, em 2014. Milhares de empregos estão em risco. A dívida média das empresas do setor supera o faturamento bruto anual, e cerca de 20% da receita está comprometida apenas com o pagamento de juros. E, por fim, municípios canavieiros enfrentam queda acentuada de arrecadação, com forte deterioração no comércio e serviços, e gastos crescentes com a saúde pública.
Vale ressaltar que tudo isso ocorre em um período em que a produção de gasolina é insuficiente para atender à demanda interna, devendo permanecer insuficiente por vários anos, uma vez que não há previsão de aumento na capacidade de refino a curto ou médio prazo. Apesar de todas essas más notícias, no entanto, o setor demonstra seu vigor produtivo, que pode ser medido pela safra de 2013, quando a cana de açúcar atingiu recorde histórico, permitindo a volta da mistura de 25% de etanol na gasolina, beneficiando diretamente a economia nacional e a Petrobrás.
As cooperativas do setor sucroenergético continuam acreditando em mudanças e apostam que o futuro pode trazer boas notícias. O etanol é uma matriz energética estratégica para um mundo cada vez mais ciente dos problemas advindos dos combustíveis fósseis. Mas para continuar acreditando no nosso álcool é preciso que o jogo tenha regras claras e garantias para quem enfrenta as intempéries do campo em tempos de turbulência. A manutenção do subsídio à gasolina é uma atitude nociva, que só contribui para ampliar as dúvidas e prejudicar o setor sucroalcooleiro.
Temos certeza que o nosso etanol é uma importante resposta para as preocupações ambientais do mundo e instrumento relevante para o desenvolvimento econômico e social. À medida em que o etanol se consolidar no mercado, toda a sociedade brasileira será beneficiada. Dependeremos menos do petróleo, podendo até exportá-lo, tornando-o importante fonte de divisas. Já o nosso álcool, além de matriz energética barata e limpa, irá nos proporcionar mais postos de trabalho e renda para melhorar a vida no campo e na cidade. Por tudo isso, o etanol deve ser visto como recurso estratégico do setor público e privado para os próximos anos.
*Edivaldo Del Grande é presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo (Sescoop/SP)