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Novos desafios do agro brasileiro no comércio global

Novos desafios do agro brasileiro no comércio global

Nas próximas décadas, três pilares deverão sustentar o crescimento da agricultura brasileira: diplomacia, produtividade e sustentabilidade.

Essa foi a principal conclusão do painel realizado na segunda-feira (01/08), durante o 21º Congresso Brasileiro do Agronegócio, organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) em parceria com a B3 em São Paulo.

Representantes do governo e da iniciativa privada sintetizaram estes três pontos básicos, para que o Brasil eleve sua produtividade e protagonismo no comércio internacional, incluindo o mercado de créditos de carbono.

O primeiro ponto, de acordo com o Itamaraty, vai posicionar ainda mais o Brasil como parte da solução para combater a crescente insegurança alimentar no mundo. Já se faz notar o maior engajamento do país na OMC, principalmente nos debates sobre regras e diretrizes que orientam o comércio internacional.

Em relação à produtividade e responsabilidade ambiental, lideranças da agroindústria sublinham o papel das inovações tecnológicas e expansão das práticas ESG nas lavouras nacionais.

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Foto: JornalCana/Arquivo

Os temas foram debatidos pelo embaixador e integrante da Missão do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), Alexandre Parola, pelo vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Gedeão Pereira e pelo presidente do Conselho Superior do Agronegócio (COSAG) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Jacyr Costa Filho. O painel foi moderado pelo presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa de Carvalho.

Questionado por Carvalho sobre a crise alimentar no mundo, o embaixador Parola citou a ideia de se criar estoques alimentares para combater o problema. Para ele, a proposta consistia, no fundo, em desfazer o Acordo de Nairóbi sobre subsídios à exportação. “Muitos países queriam vender seus excedentes não a preços de mercado, mas com um pequeno subsídio, o que se configura dumping, uma prática ilegal de comércio. Imaginem uma montanha de estoques mantida a custo de US$ 60 bilhões por ano, sendo vendida com dumping para os mercados para os quais o Brasil exporta. Seria um terrível golpe para a nossa agricultura”.

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Jacyr Costa destacou o agravamento da crise pela pandemia e pelo conflito armado entre Rússia e Ucrânia. Para o executivo, o Brasil é um dos poucos países com capacidade de aumentar rapidamente a sua produção agrícola e enfrentar a situação. Mas, para isso, é preciso incentivar o comércio regional no continente sul-americano. “Precisamos de mais comércio, e comércio não é só exportar, é também saber importar, facilitar os acordos comerciais, principalmente via Mercosul”, afirmou.

Jacyr Costa

A necessidade de investir na produção doméstica de insumos agrícolas com base no Plano Nacional de Fertilizantes, lançado este ano, foi lembrada por Jacyr Costa. “O agro brasileiro inevitavelmente crescerá, mas ele tem que crescer de forma competitiva e não depender, como hoje depende, do cloreto de potássio de um só país, o Canadá, que ocupou a posição da Bielorrússia como principal fornecedor do produto para o Brasil”, pontuou Costa, sócio da Consultoria Agroadvice.

As vitórias do Brasil na OMC, quando contestou subsídios à exportação de açúcar na Europa e de algodão nos Estados Unidos, foram sublinhadas pelos debatedores como um dos cases sobre a pujança destas duas indústrias no País. “As conquistas na OMC são de grande relevância para o agro brasileiro. Basta notar que após o painel contra os EUA, o Brasil deixou a condição de importador para se tornar um exportador de algodão”, enfatizou o presidente do COSAG.

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Segundo o embaixador Alexandre Parola, até dezembro de 2023 a missão do Brasil na OMC focará primordialmente na agilização de negociações agrícolas plurilaterais, formadas por um grupo de países ou setoriais.  Neste último caso, busca-se integrar os diversos elos da cadeia produtiva de um setor.

Sobre os subsídios dados à agricultura, Gedeão Pereira frisou que o Brasil, sem necessidade de grande apoio financeiro do governo, tornou-se um grande produtor de alimentos no curto prazo. “Precisamos de subsídio, sim, mas para o seguro agrícola, sobretudo diante da seca observada em estados do Sul. Continuamos crescendo e cada vez mais competitivos. Dentro deste cenário, acredito que a política europeia de subsídio é algo com os dias contados, a exemplo do que vem ocorrendo na Holanda”.