A Síndrome da Murcha da Cana-de-Açúcar foi um dos temas debatidos durante a 5ª reunião do Grupo Fitotécnico do IAC, realizada na terça-feira (22), em Ribeirão Preto – SP.
Durante o encontro foi tema de discussão também a estria vermelha, a importância da utilização de mudas sadias, soluções de manejo, e relato da experiência do Grupo Vale do Verdão no combate à murcha.
Ao final da reunião, o coordenador do IAC , Marcos Guimarães de Andrade Landell, fez um alerta sobre a necessidade de se investir em profissionais de pesquisa.
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O professor dr. Antonio de Goes, do Departamento Ciências da Produção Agrícola da UNESP, apresentou a palestra “Síndrome da Murcha da cana-de-açúcar: atualidades”. Causadas por estresse abiótico e biótico, insetos (pragas), patógenos (fungos), Goes abordou um estudo realizado com algumas variedades. De acordo com o professor, as sugestões para se evitar ou minimizar o problema incluem: bom manejo agronômico dos canaviais, manejo adequado dos insetos/pragas, monitorar os talhões e, quando da constatação da doença, reavaliar logística com vistas à antecipar corte e colheita.
Em seguida, a dra. Fernanda Dias Pereira, da Agrosan/ Croppen, que falou sobre “Estria vermelha na cana-de-açúcar: novas abordagens no manejo da doença”, buscou compartilhar algumas informações, que se tem dificuldade de encontrar em literaturas.
Uma bactéria de origem asiática: os primeiros relatos de estria vermelha são de 1935, no Rio de Janeiro. Hoje, embora esteja distribuída em todo país, é considerada uma doença secundária, e está associada a terras com alta fertilidade. Entre os prejuízos estão a perda de área fotossintética, senescência precoce das folhas e redução do número de perfilhos.
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Na região Centro-Sul, em 2018, foi registrada uma perda de 30% da produção, por conta da estria vermelha. Mas podem variar de 10 a 100%. “Entre as medidas de controle ainda existem poucas opções: o uso de variedades resistentes, evitar solos com excesso de nutrientes e adubação com Boro”, explicou Fernanda.
Já a engenheira agrônoma Mariana Sanches Feltrin, da área de Desenvolvimento Técnico de Mercado BASF, apresentou as soluções da multinacional para o manejo de doenças, e destacou a importância de se fazer um bom manejo. Segundo ela, a evolução das doenças fúngicas apontam 216 tipos de doenças na cana-de-açúcar, sendo que cerca de 58 já foram encontradas no Brasil, com destaques para a ferrugem marrom e alaranjada.
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Na segunda parte da reunião, a dra. Silvana Creste Souza, do Programa Cana IAC falou sobre “Mudas sadias de cana-de-açúcar: uma proposta para canaviais de alta produtividade”, apresentando os trabalhos com as variedades que vêm sendo desenvolvidas pelo laboratório.
Silvana falou sobre a propagação vegetativa, clonagem do material original, que se propaga com mais velocidade e permite escalabilidade na produção de mudas.
“A desvantagem é a possibilidade de transmissão de doenças sistêmicas, pois se a planta mãe é doente, todos os filhos serão”, disse ela. Com relação à qualidade de muda, é necessário avaliar um conjunto de parâmetros: fisiológicos, genéticos e fitossanitários (ausência de pragas e doenças).
“Cuidado com o que você vê. O que chancela as condições de qualidade são exames laboratoriais. Muda representa o principal insumo tecnológico visando canaviais de alta performance”, destacou.
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A última apresentação foi um relato em relação a Murcha da cana, feito por Renato Ferreira da Rosa, gerente de planejamento e desenvolvimento do Grupo Vale do Verdão. O grupo, conta com quatro unidades em Goiás, e deverá moer esse ano, 7,6 milhões de toneladas. Segundo Rosa, “o problema de murcha vem evoluindo nos últimos anos, e a solução ainda está obscura, pois as causas não estão diagnosticadas e precisam ser estudadas, pois esse problema tem sido uma das causas das perdas de produtividade nos últimos anos”, disse.
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Ao final, o coordenador do Grupo Fitotécnico, Marcos Guimarães de Andrade Landell, fez um alerta sobre a necessidade de o setor investir em pesquisa e na formação/contratação de novos pesquisadores. Landell citou a redução do número de pesquisadores em algumas instituições.
“Temos hoje cerca de 10 milhões de hectares de cana. É a maior área de cana do planeta e nós estamos extremamente fragilizados, contando com um número muito reduzido de profissionais, que são extremamente dedicados. É preciso maior investimento em pesquisa, a fim de que se possa evitar uma situação catastrófica. No meio biológico as coisas são lentas. Então ou a gente se prepara com estratégias inteligentes com antecedência ou nós estamos correndo riscos muito grandes. O IAC anunciou recentemente que irá abrir vagas para reposição de pesquisadores. Mas já faz 18 anos que não se realiza um concurso. Muitos estão tendo que deixar de lado suas aposentadorias, para não comprometer as pesquisas”, alertou Landell.