O produtor já consegue antecipar em quatro anos a adoção de uma nova variedade de cana-de-açúcar, que pode proporcionar um aumento de produtividade de 20% em relação à variedade antiga.
Esse salto decorre apenas da renovação da variedade plantada. Porém, esse ganho vem sendo acelerado quando a instalação do canavial é feita por meio do uso do sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) associado com o sistema de MEIOSI.
Com a implantação desse combo tecnológico MPB + MEIOSI, a vida do produtor de cana vem mudando, não só pelo incremento na produtividade, mas o tornando independente em relação à escolha da variedade e à produção de mudas, mais adequadas ao seu nicho de produção.
Desenvolvido pelo IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o MPB mudou o modo de plantar cana no Brasil, já sendo usado em várias regiões do país.
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Os ganhos com o sistema foram revelados pelo pesquisador do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, durante a live sobre Inovações em Cana-de-açúcar, promovida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no dia 16 de julho de 2020, com a presença de especialistas de várias instituições do setor sucroenergético.
De acordo com Landell, além de ampliar a produtividade, as variedades novas, normalmente, têm maiores taxas de multiplicação, o que dilui o custo da muda. “Esses novos materiais promovem outros ganhos, decorrentes da combinação entre MPB e MEIOSI. Por exemplo, o canavicultor pode se limitar a comprar mudas pré-brotadas para plantar apenas cerca de 8% da área de seu canavial. Esses 8% de área irão produzir, em seis meses, as mudas suficientes para instalar o canavial total. Esse é um dos acontecimentos pós-lançamento do MPB, feito em 2011-12 pelo IAC”, explicou.
A associação MPB + MEIOSI possibilita aumentar em cerca de 700 vezes a taxa de multiplicação de uma nova variedade de cana-de-açúcar, em um período de mais ou menos nove meses. “Isso é uma taxa de multiplicação fabulosa”, diz Landell, ao lembrar que, no passado, quando predominava o plantio manual, a taxa era de um para dez, isto é, com um hectare de material biológico eram feitos dez hectares de plantio.
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O MPB aumenta a taxa de multiplicação da cana, por exemplo, com dez mil MPBs é possível plantar um hectare de cana. “Existem variedades na atualidade, que possuem até 20 mil gemas em uma tonelada de colmos, possibilitando a produção de mais de 15 mil MPBs. Teoricamente, o que se gasta em plantio mecânico é perto de 13-14 toneladas, por hectare. Hoje, com uma tonelada, isto é, 13 vezes menos, consegue-se produzir MPB para plantar o mesmo hectare”, explica. A associação do MPB ao conhecimento de MEIOSI ampliou os ganhos.
A MEIOSI é o método intercalar de plantio, em que se planta uma linha de cana e deixa um espaço para até 15 linhas, que serão plantadas dentro dos próximos seis meses. Esses novos plantios serão feitos no espaço intercalado, a partir de mudas geradas pelas primeiras linhas instaladas. O método de MEIOSI foi desenvolvido pelo pesquisador José Emílio Barcelos, durante doutorado realizado na UNESP Jaboticabal, no meio da década de 80.
Landell mencionou o exemplo do produtor Renato Trevizoli, que obtinha cerca de 90 toneladas, em média de cinco cortes e, em 2019, ele alcançou 122 toneladas, em média. “Isso é muito significativo e este ano ele deve aumentar um pouco mais”, acredita.
Para o pesquisador do IAC, o setor sucroenergético está diante de uma oportunidade com o avanço da biotecnologia como um todo e o importante é contextualizá-la com aspectos palpáveis da cultura. “Nós temos um verdadeiro pré-sal biológico, com possibilidades reais de produzir algo como 10 mil litros de etanol, por hectare”, destaca Landell.
Uso da biotecnologia pode contribuir para alavancar a cultura da cana-de-açúcar
A biotecnologia e a adoção de novas tecnologias podem tornar o setor canavieiro mais competitivo afirmam especialistas. Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia, enumera quatro benefícios que a transgenia poderá trazer para o setor sucroalcooleiro: o aumento da produtividade em três dígitos ou 10 mil litros/hectare; a redução no uso de defensivos agrícolas; a redução da emissão de CO² e do custo da produção.
“O Brasil já tem 22 anos de transgenia. Um estudo recente publicado na revista britânica PG Economics mostrou que, em 15 anos de adoção, para cada dólar investido em transgênico houve um retorno de 4,42 dólares. Isso sem falar nos ganhos ambientais com a redução de 23 bilhões de litros de CO², o que equivale a tirar 15,3 milhões de carros das ruas”, disse.
De acordo com Molinari, é preciso fazer com que a cana-de-açúcar entre no patamar de adoção de culturas como a soja (96%), o milho (89%) e o algodão (84%) e se beneficie das novas tecnologias, sejam elas qual forem”.
O pesquisador também falou da importância das parcerias, da questão do financiamento e dos gargalos técnicos que ainda precisam ser superados. “Não vamos reinventar a roda, mas incorporar características já consolidadas para outras culturas. A gente precisa um do outro para crescer e tornar o setor cada vez mais competitivo”, ressaltou.
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Para Antonio Salibe, presidente executivo da União Nacional da Bioenergia (UDOP), além da biotecnologia, é preciso desenvolver a matriz industrial do setor. “Precisamos trabalhar com produtividade de 10 a 12 mil litros de etanol por hectare (hoje o setor produz de 5 a 7 mil), e para isso precisamos fechar parcerias e trazer os resultados das pesquisas para o conhecimento dos gerentes”, disse.
Recentemente, a UDOP lançou a campanha #AbasteçaComEtanol, para estimular o consumo do biocombustível. “A parte ambiental vai ser muito exigida no pós-pandemia, teremos um nacionalismo forte nos países, então se continuarmos abastecendo nossos veículos com petróleo importado estaremos sendo burros”, afirmou.
João Bespalhok, diretor de biotecnologia da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa), destacou que a transgenia é um grande desafio para o setor.
“Se quisermos trabalhar com edição gênica precisamos conhecer melhor o genoma da cana”, disse. Segundo ele, quando comparada a outras culturas como soja, milho, algodão e canola, a cultura da cana necessita de mais investimentos de multinacionais e parcerias público-privadas para adotar novas tecnologias.
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Luís Scabello, diretor da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), falou do papel da cana na redução da pegada de carbono e da política Renovabio, que dará “nota” aos produtores.
“Haverá um momento em que teremos que reduzir o consumo de nitrogenados e derivados de petróleo”, disse. Scabello também reforçou que a matriz de preço não está condizente com a matriz de custo do produtor, mas que há uma grande abertura para o setor utilizar as novas tecnologias.