Em seu NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas) que o Brasil apresentou na COP 26, entre os diversos compromissos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa (GEE), está a elevação para 16% da participação do etanol carburante e demais biomassas derivadas da cana-de-açúcar no total de sua matriz energética.
Ao contrário dos combustíveis fósseis, a utilização de biomassa como matéria prima para produção de biocombustível, reduz a emissão de CO2, porém ela contribui para o lançamento na atmosfera de outros gases, como Óxido Nitroso (N2O), que tem um grande potencial de aquecimento global, alerta o professor Carlos Eduardo P. Cerri, da Esalq/USP.
Um consenso entre os especialistas, no entanto, é que dentre as práticas que podem contribuir para ampliar a eficiência da cana na redução da emissão desses gases está o manejo adequado do solo.
O tema foi pauta de webinar promovido pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo –Núcleo Estadual São Paulo, na terça-feira, dia 30, que tratou sobre “Solos dos Canaviais e os gases do Efeito Estufa”.
LEIA MAIS > Cosan e Braskem criam parceria para alavancar economia circular e neutralidade de carbono
“Há um problema global do aumento de concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, que causa um desbalanço por conta desses gases, CO2, CH4, N2O. Os combustíveis fósseis aumentam a emissão de gases como o CO2, que aumenta o aquecimento global. No caso da cana, não aumenta a emissão de CO2, mas existem outros gases. Porém, o benefício da cana não está apenas na redução da emissão, mas também no aumento na presença de carbono no solo”, destaca o professor Cerri.
De acordo com Cerri, existe uma complexa interação solo-planta-atmosfera que varia de acordo com o desenvolvimento da cana, e, também com a decomposição da palha. Isso deve incluir todo ciclo da cultura, desde o plantio, colheita e transporte. Segundo ele, o importante é avaliar todos os balanços de entradas e saídas desses gases efeito estufa. O balanço positivo vai depender das práticas de manejo, que se forem adequadas, possibilita um balanço positivo.
Para o pesquisador João Luiz Carvalho, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que falou sobre o trabalho de pesquisa que vem sendo desenvolvido sobre o assunto nas duas últimas décadas, “estamos no momento de virar a chave, fazendo pesquisas mais aprofundadas visando aplicar os conhecimentos obtidos nos últimos vinte anos e fazer pesquisas multidisciplinares, para entender melhor esses mecanismos que guiam esse processo de emissão de gases.”
LEIA MAIS > 50% da palha deixada no campo poderia gerar toda energia consumida em MG
Carvalho apresentou dois estudos que tiveram como objetivo derivar fatores de emissão regionais de N2O de fertilizantes nitrogenados baseados em estudos realizados em solo brasileiro.
Com base nesses fatores regionais, foi estimada a emissão de GEE do etanol de cana e comparar com valores propostos pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). Como os dados do estudo refletem a realidade brasileira, “somente com a utilização dessa métrica, é possível auferir melhores resultados nos controles das emissões”, afirmou o pesquisador.
O estudo também estimou a quantidade de certificados de descarbonização (CBIOs) obtidos do etanol de cana-de-açúcar com o uso dos diferentes fatores de emissão de N2O. Com a utilização do IPCC uma usina que processa 4 milhões de toneladas por ano, geraria 485,270 CBIOs. Com os dados obtidos pelo estudo, essa mesma usina poderia gerar 516,640 CBIOs.
No segundo estudo o pesquisador tratou sobre o impacto da remoção da palha nos canaviais. Para Carvalho o importante é a realização de uma pesquisa integrada em solo e gases do efeito estufa, que envolva pesquisa fundamental, básica, aplicada, aplicações em cadeias produtivas, biomas, país e continente, num projeto multidisciplinar que englobe os mais diversos atores envolvidos.