Os efeitos da seca que se prolonga no Centro-Sul começam a se refletir nas previsões de moagem de cana e na estratégia comercial das companhias do setor sucroalcooleiro. A Biosev, segunda maior processadora de cana do país, já admite a possibilidade de moer um volume menor da matéria-prima no ciclo 2014/15, na comparação com o anterior. A condição pode impor obstáculos à recuperação da empresa, que teve em 2013/14 prejuízo líquido de R$ 1,5 bilhão, cerca de metade com efeito no caixa.
Se não fossem os ajustes apenas “contábeis”, o resultado negativo teria sido de R$ 725 milhões, explicou o presidente da Biosev, Rui Chammas. A outra metade foi uma combinação de perdas climáticas (R$ 328 milhões), elevada ociosidade operacional e conjuntura negativa para o etanol e o açúcar (R$ 397 milhões), detalhou o executivo.
As geadas afetaram os canaviais das usinas de Mato Grosso do Sul e a seca, as do Nordeste. O nível de utilização dos ativos (usinas) na última safra – de 79,2% – também prejudicou a empresa. Mas Chammas disse que essa taxa de ocupação de capacidade subirá para 83% no atual ciclo.
Esse aumento decorre do novo plano de negócios anunciado em março, que significou, entre outras medidas, a desativação de uma usina em São Paulo. “Nossa expectativa agora é gerar fluxo de caixa livre positivo nesta temporada”, disse.
O clima, no entanto, deve continuar impondo desafios à companhia. Ontem, a Biosev divulgou que sua moagem deve ficar entre 29 milhões e 31,5 milhões de toneladas em 2014/15, ou seja, pode ser até menor que as 30 milhões de toneladas da temporada passada.
Essa estimativa, disse Chammas, já considera o efeito da seca em São Paulo e em Minas Gerais. No entanto, não estima, obviamente, os possíveis efeitos da eventual ocorrência do El Niño, que ainda pode trazer surpresas a todo o setor, uma vez que tende a antecipar a ocorrência de chuvas e atrapalhar a moagem e a qualidade da matéria-prima.
A continuidade do clima seco é uma preocupação também para a Tereos Internacional, controladora da Açúcar Guarani. Por ora, a companhia mantém a projeção de moer entre 20 milhões e 21 milhões de toneladas em 2014/15, acima das 18,3 milhões do ciclo anterior. “Na região onde estão nossas usinas [norte de São Paulo], não chove há 50 dias. Há uma preocupação quanto à cana que será processada a partir de agosto”, diz diretor da divisão Brasil da Tereos, Jacyr Costa Filho.
De forma geral, ele espera uma quebra mais intensa da produtividade da cana no Centro-Sul, o que tende a elevar as cotações do açúcar. Por isso, a estratégia adotada é a de postergar o hedge da commodity para capturar essa alta. “Vendemos até agora cerca de 30% do açúcar que pretendemos fixar em toda a safra. Na mesma época do ano passado, havíamos vendido 45%”, comparou.
Fonte: Valor Econômico