O ânimo do empresariado de Sertãozinho só melhora quando o assunto é o leilão de compra de energia nova, marcado pelo Ministério de Minas e Energia para o próximo 30 de novembro. No curto prazo, a iniciativa traz perspectivas de registro ou ampliação do lucro para as usinas e de novas encomendas de equipamentos para a indústria local de bens de capital. Para os sindicatos, surge como possível reversão da onda de desemprego no setor sucroalcooleiro.
“Com um contrato como esse, o usineiro consegue crédito e vai direto para a indústria encomendar novas caldeiras”, explicou Antônio Tonielo, conhecido em Sertãozinho como Tonho, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise-Br). “Se conseguir gerar energia antes de 2019, poderá vender a eletricidade no mercado livre, que paga preço mais alto, por um bom período”, completou Sidnei Galloro, gerente comercial da Caldema Equipamentos Industriais.
O risco, segundo os empresários, está em uma nova postergação desse leilão, o A5, previsto inicialmente para 12 de setembro. Outra ameaça estaria no preço máximo a ser definido. Se a remuneração for menor do que R$ 180 por megawatt (MW), as usinas dificilmente vão se interessar pelo negócio.
A Usina São Francisco, do Grupo Balbo, considera o leilão uma “sacada genial” para reativar o setor. Pioneira no ramo, investiu R$ 65 milhões desde 1987 na cogeração de energia. Atualmente, gera 22 megawatts médios, dos quais 16 são transferidos para o sistema. Do resultado líquido do grupo, no azul, 90% vêm da cogeração de energia. A expectativa de Jairo Balbo, diretor industrial da São Francisco, é de preço em torno de R$ 195 por megawatt (MW) – abaixo do mercado livre.
“Nossa contribuição é importante porque geramos energia na seca, quando os reservatórios das hidrelétricas estão baixos”, afirmou. “O novo leilão não afasta a necessidade de o governo definir a matriz energética. O setor sucroalcooleiro gera 1 milhão de empregos, e a Petrobrás, cerca de 60 mil.”
Para as usinas, a geração elétrica tornou-se “tábua de salvação” nos últimos anos, segundo Tonielo. Com a competitividade baixa do álcool nos postos de combustíveis e os preços do açúcar em queda no mercado internacional, a oferta de eletricidade tem garantido o lucro das usinas que investiram nesse ramo – 384 das cerca 450 do País. “É onde o usineiro tem ganhado.”
Segundo Galloro, o leilão tenderá a ditar o investimento do setor nos próximos anos. Muitas usinas poderão tirar de suas gavetas projetos desenhados em meados da década passada, quando o governo estimulava o setor. A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) prevê que, em 2020, a contribuição do setor será de 13.158 MW médios, o equivalente a 14% da matriz energética brasileira. Hoje, não passa de 6,99%, ou 9.726 MW, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“O resultado do leilão definirá se a usina vai tirar da gaveta seu projeto de investimento em energia”, afirmou. “Se o leilão fracassar, o setor sucroalcooleiro vai para o vinagre.”
Linhas. Embora seja sinônimo de bom negócio, a geração de energia não está isenta das queixas dos usineiros, ainda frustrados com a resistência do governo federal em organizar leilões específicos para o setor. Tonielo critica também o fato de caber às usinas, e não ao governo, o investimento nas linhas de transmissão até a conexão com o sistema integrado nacional.
Não se trata apenas do custo de milhões de reais, lembra ele, mas também da “dor de cabeça” causada pelo traçado, que muitas vezes corta mais de uma fazenda. “Já houve caso de o linhão passar no meio de um curral. Mesmo perdendo a causa na Justiça, o fazendeiro esperou o pessoal da obra com o revólver na mão”, disse.
(Fonte: O Estado de S.Paulo)