Mesmo diante da maior produção de açúcar na safra 2020/21, o Indicador CEPEA/ESALQ do cristal, cor Icumsa de 130 a 180, mercado paulista, atingiu recorde nominal no início de novembro/20, quando passou a operar acima de R$ 100/saca de 50 kg. Nos dias seguintes, as máximas foram renovadas, alcançando R$ 111,96/sc no dia 10 de dezembro de 2020.
Segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, realizadas pela equipe formada pela dra. Heloisa Lee Burnquist, Bel. Maria Cristina Afonso, Bel. Silvia C. Michelin, Bel. Augusto Barbosa Maielli e Bel. Vanessa Vizioli, o impulso veio especialmente das exportações aquecidas ao longo de todo o ano, que limitou a oferta no mercado doméstico.
No balanço da parcial do ciclo 2020/21 (de abril/20 a dezembro/20), a média do Indicador CEPEA/ESALQ foi de R$ 94,65/saca de 50 kg, alta de 16,60% frente ao mesmo período da temporada passada (R$ 81,18/sc de 50 kg). Ao longo da safra, as médias mensais do Indicador estiveram acima das observadas em 2019/20, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI de novembro/20).
Em março, quando a pandemia do coronavírus começou a avançar no Brasil, as usinas do estado de São Paulo estavam iniciando a moagem da cana-de-açúcar da safra 2020/21. Com as medidas de isolamento social impostas entre meados e final daquele mês, formou-se uma expectativa de queda nas vendas do etanol. Além disso, as incertezas quanto aos impactos na economia elevaram o dólar para acima de R$ 5,00.
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Isso fez com que usinas paulistas direcionassem maior quantidade da cana para a produção do açúcar, já que as exportações se tornaram mais atraentes – aqui ressalta-se que, nas duas temporadas anteriores, em São Paulo, o mix de produção foi maior para o etanol.
Ainda na segunda quinzena de março/20, as vendas diretas do açúcar cristal e do refinado pelas usinas paulistas ao varejo estiveram bem aquecidas, uma vez que consumidores aumentaram as aquisições de alimentos nos supermercados, devido à incerteza de abastecimento por conta da pandemia.
Já no ramo industrial, em abril/20, boa parte das indústrias alimentícias interrompeu a produção, em decorrência das medidas de isolamento. Em maio/20, muitas indústrias retomaram a produção e a liquidez foi se recuperando nos meses seguintes, atingindo picos em outubro/20 e novembro/20.
No acumulado da safra, houve restrição de oferta, principalmente do cristal tipo Icumsa 150, devido ao aumento das exportações. As vendas totais de açúcar (contrato, spot e varejo) das usinas do estado de São Paulo, de abril/20 a novembro/20, segundo levantamento do Cepea, registraram alta de 1,42% se comparadas às do mesmo período de 2019.
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Segundo a União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (UNICA), de abril/20 até primeira quinzena de dezembro/20, as usinas de São Paulo produziram 26,271 milhões de toneladas de açúcar, forte avanço de 43,14% em relação ao mesmo período de 2019. Ainda segundo a União, 53,05% do total da cana moída (354,736 milhões de toneladas) foi direcionado para a produção do açúcar e 46,95%, para o etanol.
Exportações do alimento são recorde
Quanto às exportações brasileiras do açúcar, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), de janeiro/20 a dezembro/20, somaram 30,96 milhões de toneladas, volume 73% superior ao total embarcado em 2019 (17,889 milhões de toneladas) e um recorde.
As previsões iniciais eram de déficit de açúcar em torno de 6,11 milhões de toneladas para a safra mundial 2019/20, segundo a Organização Internacional do Açúcar (OIA). Porém, de acordo com a última previsão divulgada em novembro/20 pela mesma instituição, a temporada 2019/20, encerrada em setembro/20, totalizou superávit de 1,9 milhão de toneladas, o que se deve à maior produção de açúcar pelo Brasil.
Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), as cotações do primeiro vencimento iniciaram o ano em torno de 10 centavos de dólar por libra-peso e encerraram na casa dos 14 centavos/lp, mas, em novembro/20, atingiram 15 centavos de dólar/lp. Esse avanço nos preços do demerara esteve atrelado, em parte, à aquecida demanda da China no ano – de janeiro/20 a outubro/20, as importações chinesas aumentaram 28,4%, segundo a alfândega do país asiático – e a projeções indicando queda da produção de 2020/21 na União Europeia e Tailândia.
Preços mantém alta no Nordeste
Os preços do açúcar no mercado spot estiveram em alta em quase todos os meses de 2020, influenciados principalmente pelas altas do dólar e dos valores internacionais da commodity. Nos quatro primeiros meses do ano, a sustentação também veio da oferta restrita, tendo em vista que várias usinas estavam com os estoques finalizados.
Já em maio e junho (em entressafra) e também em julho, as negociações estiveram lentas e os preços, firmes. No geral, a demanda esteve enfraquecida, com alguns compradores adquirindo o adoçante do Centro-Sul do país. A oferta de açúcar esteve concentrada em poucas unidades produtoras, sendo que algumas priorizaram as exportações, favorecidas pelo dólar elevado.
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Em agosto, foi iniciada a safra nordestina 2020/21, mas a oferta de cristal seguiu restrita, já que a produção estava focada no açúcar VHP e no etanol. Apesar do ritmo lento das negociações, os preços seguiram firmes. A partir do encerramento de outubro, os preços passaram a subir com força, sendo que algumas usinas suspenderam suas vendas internas, priorizando as exportações.
No início de novembro, com a demanda aquecida, os preços da saca ultrapassaram a casa dos R$ 100,00. Nas semanas seguintes, a alta dos preços foi mais forte, mas o ritmo dos negócios, lento. Já em dezembro, parte das usinas cedeu e os preços se enfraqueceram no spot nordestino.
De acordo com o Sistema de Acompanhamento da Produção Canavieira (Sapcana), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de 1º de abril a 30 de novembro de 2020, o Nordeste do país produziu 24,76 milhões de cana-de-açúcar (4% menos que no mesmo período do ano anterior) e 1,46 milhão de toneladas de açúcar (alta de 6%).