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Guerra na Ucrânia exige soluções para o agro brasileiro

Confira artigo de Jacyr Costa Filho

Jacyr Costa
Jacyr Costa

As sanções exemplares impostas à Rússia, somadas às outras vigentes, há mais de um ano, contra a Bielorrússia, criam uma situação que exige ações urgentes pelo Brasil.

Se para a União Europeia uma das dificuldades está na dependência do gás natural russo, indispensável no inverno e essencial para as indústrias, no Brasil os danos mais impactantes são para o agronegócio.

Rússia e Bielorrússia estão entre os nossos principais fornecedores de fertilizantes, cujo uso é inevitável devido à baixa fertilidade do solo brasileiro e de países com agricultura tropical, como a África subsaariana. A guerra na Ucrânia elevou demasiadamente os preços, afetando as lavouras destes países.

No Brasil, a dependência por fertilizantes importados atinge, de modo geral, 85% da demanda. A nossa agropecuária alimenta mais de 800 milhões de pessoas no mundo e a indisponibilidade destes insumos representa um sério risco para as safras de 2022 e além. Nossa dependência envolve os três principais itens que compõem os fertilizantes primários: importamos 80% dos nitrogenados, 55% dos fosfatados e 95% do potássio.

Rússia e Bielorrússia fornecem cerca de 40% do potássio utilizado no Brasil. Ocupam, respectivamente, a terceira e segunda posições entre os exportadores. Os efeitos dos embargos, portanto, interferem na logística e, assim, reduzem a oferta, intensificando a disparada global de preços. Em 2021, o preço do potássio subiu 174%.

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Na esteira das sanções, a exportações de potássio da Bielorrússia, que utilizam o corredor logístico da Lituânia com destino ao Brasil também foram impactadas. A tonelada de potássio, que em 2021 custava US$ 250 naquele país, teve um aumento de 228%, alcançando US$ 820 em 2022. Já se especula que essa elevação nos preços pode chegar a inacreditáveis US$ 1.000.

Para atenuar o quadro, há caminhos simultâneos, de curto, médio e longo prazo. No primeiro, a busca por novos fornecedores já começou, visto que os estoques brasileiros de fertilizantes se esgotam em outubro. Na próxima semana, a ministra Tereza Cristina, com grande agilidade, estará no Canadá, maior exportador de potássio para o Brasil, para tratar dessa questão.

Abrir-se-á outro caminho no final de março com o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, política de Estado que visa reduzir as importações de fertilizantes de 85% para 60% até 2030. No caso do potássio, espera-se que o Plano diminua a dependência externa dos atuais 95% para 50% em 2040, com um acréscimo de quatro milhões de toneladas anuais na produção interna.

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À semelhança da crise sanitária, ainda não debelada, os efeitos do conflito na Ucrânia não têm prazo para acabar. O momento exige ações estratégicas e capazes de enfrentar e superar as preocupações. Garantiremos, desta forma, a produção de alimentos a preços acessíveis neste importante momento de pós-pandemia.

*Jacyr Costa Filho é presidente do Cosag – Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da Consultoria Agroadvice.