Enquanto a mudança da política econômica ainda está em fase de ensaio, o governo Dilma Rousseff ao menos já mostra uma guinada rumo a um realismo maior em suas previsões para o futuro.
Documento enviado nesta quinta-feira (4) ao Congresso reduziu a projeção oficial para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano, de 2% para 0,8%.
Pela primeira vez na gestão da presidente, trabalha-se com uma expectativa similar à dos analistas de mercado, hoje em torno de 0,77% e em tendência de queda.
A previsão mais realista faz parte da estratégia dos novos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) de trabalhar com metas que sejam possíveis de cumprir para recuperar a credibilidade da política econômica do governo.
Segundo a Folha apurou, a Fazenda vai parar de apresentar previsões próprias de crescimento e passará a usar os números da pesquisa Focus, sondagem com base na opinião do mercado.
Nas palavras de um ministro, “acabou a era dos levantadores de PIB”. A decisão é vista pela nova equipe econômica como primeiro ges- to para reatar com o mercado financeiro.
A nova estimativa do PIB será utilizada no Orçamento de 2015, que será reformulado dentro dos novos parâmetros. O projeto original contava com uma expansão econômica muito otimista e desde o início vista como impossível de ser atingida, de 3%.
Com a nova previsão para a economia, o governo deverá também promover um corte nas receitas esperadas.
Não por acaso, a meta de poupança para o abatimento da dívida pública, ou superavit primário, já foi reduzida de 2% para o equivalente a 1,2% do PIB –de R$ 114,7 bilhões para R$ 66,3 bilhões.
Só a partir de 2016 a meta de 2% do PIB será restabelecida para União, Estados, municípios e estatais.
As metas foram anunciadas na semana passada por Levy, que terá entre suas missões recuperar a credibilidade da política fiscal.
Ao encaminhar as mudanças ao Congresso, o governo admitiu que será possível reduzir a dívida pública bruta somente a partir de 2016, quando o superavit primário será elevado.
Nos novos cálculos oficiais, a dívida bruta, hoje de 62%, subirá no próximo ano para 64,1%, caindo nos dois anos seguintes para 63,3% (2016) e 62,5% (2017).
Até então, a referência para a política de controle de gastos era a dívida líquida, cuja apuração desconta valores que o governo tem a receber, como as reservas em dólar e o dinheiro injetado nos bancos públicos para a expansão do crédito.
Esse indicador, porém, perdeu credibilidade no mercado com a multiplicação de transações entre o Tesouro e seus bancos e a incerteza quanto ao acerto futuro de contas entre as partes.
Os novos dados indicam que 2015 será um ano de transição, diante do desequilíbrio fiscal deste ano, que pode terminar com deficit nas contas públicas. Apenas em 2016 começaria uma recuperação da economia brasileira, com crescimento de 2% do PIB.
Fonte: Folha de S. Paulo