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Gestores apostam em técnicas para colher com mais qualidade

Especialistas dão dicas para melhorar o rendimento na lavoura

Gestores apostam em técnicas para colher com mais qualidade

Em tempos de crise é importante maximizar as estratégias de colheita, reduzir desperdício e tirar o máximo do canavial contribuindo para uma boa qualidade do processo. Segundo o Pecege, o CTT (Corte, Transbordo e Transporte) foi a etapa mais representativa na composição do custo total agrícola (CT) na última safra, sendo o responsável por 25% do CT. Por isso, as companhias com alta performance têm dado uma especial atenção à atividade para conseguir melhor rendimento operacional e o menor custo de produção.

Para Luís Augusto Contin Silva, gerente de produção agrícola da Usina Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra/SP, a colheita mecanizada envolve muito mais do que a atividade em si, assim um plantio e tratos culturais bem-feitos influenciam na qualidade da colheita, já que na falta deste cuidado, o processo pode deixar suas marcas, arrancar, pisotear, danificar e reduzir a produtividade do canavial. “Hoje temos muitas opções, muitas ferramentas para que a colheita seja de alta performance e não é fazendo de qualquer jeito que vai conseguir isso”, alegou.

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Para alcançar alta performance na colheita, Silva aponta que o planejamento é essencial. Assim como também, entre outros fatores, as variedades podem colaborar neste sentido. “Trabalhar com máquinas boas, bem reguladas, canavial ereto, bom número de perfilhos, de produtividade alta é fundamental neste contexto”, afirmou.

Com um trabalho multidisciplinar, o rendimento da colheita na Alta Mogiana vem evoluindo ano a ano, sendo que chegou a 780 toneladas dias em média. O profissional lembra que a questão de rendimento também está ligada às propriedades da usina, sejam elas próprias ou de terceiros. No caso, da empresa, a tendência da região é ter pequenas propriedades, então a usina tem mais de mil propriedades para serem colhidas e dependendo do tamanho e topografia, os números são melhores ou piores.

 Rendimento na colheita de uma ou duas linhas

Almeida: acreditamos que colher mais linhas é a solução

“A colheita mecanizada é o alicerce para que a gente tenha custo baixo, mas sem disciplina na execução e equipe bem treinada, na verdade, é um limitante”, afirmou Luiz Fernando Aparecido de Almeida, supervisor de Planejamento, Controle da Produção e Tecnologias da Usina Cerradinho Bioenergia.

A companhia, localizada em Chapadão do Céu/GO, vem ano a ano conquistando altos índices, como de rendimento da máquina, que chega acima das 900 toneladas dia, tendo frentes que chegam a 1300 tonelada h/d. “Na safra atual muitas máquinas já operam com 15 horas de elevador por dia, essa é a meta da companhia”, diz Almeida, comentando que na realização de teste de alta performance uma colhedora chegou a 22,5 horas de elevador e colheu 4.105 ton em 24 horas, recorde mundial de colheita mecanizada.

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Segundo o profissional, o perfil da colheita na Cerradinho é diferente. Tendo participado do desenvolvimento da colhedora de 2 linhas, a empresa utilizava a técnica em 70% de suas lavouras, mas mudaram a estratégia nesta temporada, passando a usar colhedora de 1 linha em 90% da colheita, além disso estão testando outras plataformas de 2 linhas. “Em canavial de baixa produtividade a máquina de 2 linhas performa perfeitamente, só que quando pega canaviais de alta produtividade, na casa de 150 toneladas, a perda é grande”, argumentou.

O supervisor relata que as colhedoras de 1 linha produziram em média 989 toneladas por máquina por dia, principalmente por colher canaviais de maior produtividade. Já as colhedoras de 2 linhas produziram em média 758 toneladas por máquina por dia. Com relação às perdas, foram registrados 2,3% para as máquinas de uma linha e 5,7% para colhedoras de duas linhas.

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“A colhedora de 2 linhas tem uma particularidade, precisa forçar mais o solo para não perder, aumenta a rotação e faz consumir mais diesel. Se isso não acontece a perda aumenta muito”, explicou, comentando que a relação de consumo de diesel, enquanto a de 1 linha estava 0,67 litros por tonelada, a de 2 linhas chegou a 0,87 l/t.

“Acreditamos que colher mais linhas é a solução, principalmente para reduzir custo porque você anda menos a área, provoca pisoteio menor e deixa uma condição melhor para a cana. É preciso melhorar alguns pontos na máquina, principalmente para colher canaviais de alta produtividade, que são a realidade da Cerradinho Bioenergia com canaviais acima de 3 dígitos”, disse.

Colheita em cana irrigada

 Para Hermes Augusto Guimarães Arantes, diretor agrícola da Bevap, a colheita mecanizada demanda planejamento, variedades, treinamento da equipe e tecnologia. “Hoje nós temos muita tecnologia embarcada que facilita o trabalho. Muitos colegas deixaram de tratar bem o canavial, de corrigir o solo e de fazer outras coisas e quando o TCH médio está na casa das 70 toneladas por hectare colocam a culpa na colheita mecanizada. Ela tem uma parcela neste desempenho sim, mas não é o vilão da história”, alegou.

Localizada em João Pinheiro/MG, a unidade produtora da Bevap é referência em alta produtividade. Nesta safra, a produção está estimada em 3.320 milhões de toneladas de cana processadas, com TCH médio de 110 toneladas, idade média dos canaviais de seis cortes e colhendo cana com 12 cortes.

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O setor agrícola desenvolve plantio e colheita 100% mecanizados com equipamentos modernos monitorados via satélite e a usina também se destaca por ter 100% da sua área irrigada, sendo pioneira na implantação da irrigação por gotejamento na cana-de-açúcar.

De acordo com Arantes, investimentos pesados foram feitos em treinamento nos últimos três anos para melhorar a performance da colheita. Com seis frentes próprias, a companhia conseguiu sair da casa das 700 toneladas dia e tem como meta chegar este ano em 850 toneladas dia. “Em áreas com cana com maior TCH, com relevo melhor e bem mais sistematizado, tem frente com rendimento de mil toneladas dia”, disse.

O diretor comentou ainda que trabalham atualmente com tiro de 700 a 800 metros e que tem condição de chegar a três mil, mas é inviável pelo descolamento e pisoteio que teria e pela estrutura de irrigação necessária na região. “É preciso ter um equilíbrio na colheita, na região chove só 1200 milímetros por ano, precisamos completar com 500 milímetros para garantir a produtividade”, elucidou. Além da atenção com o sistema de irrigação, canaviais mais antigos também exigem mais cuidados na hora da colheita, comentou.

Planejamento é fundamental

Fornecedor de cana da Zilor, o engenheiro agrônomo Luiz Carlos Dalben afirma que é preciso atuar de maneira que a frente de colheita tenha o máximo de rendimento possível e esse rendimento está ligado ao planejamento do plantio. “É uma sequência de trabalhos”, disse, contando que a mudança de sistema de conservação de solo com eliminação dos terraços contribuiu muito para melhorar o rendimento operacional e a própria conservação das áreas.

Outra ação inovadora foi a implantação de um sistema de monitoramento dos transbordos e cargas dentro do talhão. Para isso, o motorista da pipa, que acompanha as frentes, foi treinado para controlar a logística dos pesos e qualidade da cana, assim quando um motorista passa pelo local recebe um ticket informando a hora que ele tem que voltar para retirar a próxima carga e se tiver algum imprevisto, outro caminhão da frente faz a retirada, evitando o desabastecimento da matéria-prima na usina.

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“Nós trabalhamos com uma logística dentro do talhão que é o pré-planejamento das linhas de plantio, com layout e com o monitoramento do próprio motorista. Com este sistema de logística próprio, que a usina controla na balança, tem funcionado e o índice de falta de cana tende a ser zero”, explicou.

Dalben: rendimento da colheita está ligado ao planejamento do plantio

O engenheiro lembra ainda que é fundamental ter a manutenção em dia. “Começar a safra com a máquina em boas condições é fundamental e a manutenção no período de safra e até na entressafra vai ser tanto menor quanto melhor for a operação. Portanto a qualidade do operador, a qualidade do seu líder de frente, para conhecer a máquina e a sua mecânica, é fundamental. Assim como as condições em que ela vai trabalhar, que envolvem sistematização, terraços, manobras, que fazem as máquinas gastarem mais   tempo que o normal”, disse, lembrando que a manutenção de colhedora de janeiro a dezembro custa aproximadamente R$ 100,00 por hora trabalhada.

Ainda dentro do planejamento, Dalben conta que estão buscando as variedades que melhor se adaptam à sua região e áreas com mais ATR, pois a, produtividade e condições climáticas impacta no resultado final. “É preciso otimizar o custo da cana que vai chegar na usina, bisar pode ser uma das soluções diante de baixas produtividades em cana cortadas no final de safra em ambientes arenosos. No nosso caso, quando precisamos bisar, escolhemos cana com baixa produtividade ou com falhas, assim ela tem uma oportunidade de corrigir um pouco a produtividade. Temos percebido isso, eu bisei uma cana que estava estimada em 70 t/h e acabei colhendo com 84 t/h. Atrasei sete meses para colher e ganhei 14 toneladas por hectares com ATR acima de 130”, contou.

Lançamentos para melhorar o desempenho

Teston: outros cinco equipamentos deverão ser lançados até 2021

Localizada em Cianorte/PR, a Teston, que fabrica, comercializa e fornece assistência técnica para equipamentos de colheita mecanizada, vai aumentar o seu portfólio oferecendo equipamentos para o plantio e preparo do solo. “São dois equipamentos que reduzirão drasticamente as operações para o plantio e cultivo de cana-de-açúcar”, contou Paulo Sérgio Teston, diretor da empresa.

Um deles é o Raptor, uma máquina de preparo de solo semi direto, similar a uma plantadora de grãos, que em uma área de renovação de cana, vai eliminar cinco operações em uma única passagem e deixar a terra pronta para receber o sucador. A máquina está em teste há dois anos nas terras da empresa.

“Com uma grande vantagem, pois ele subsola uma caixa de 60 centímetros de largura por 50 de profundidade e solta a torta de filtro ou cama de frango na quantidade desejada, trabalhando com 15 a 20 toneladas de esterco orgânico. Tem a capacidade para 10 toneladas na caixa e mais uma caixa com três toneladas de fertilizantes. Economiza entre cinco e seis operações e reduz a parte de preparo de solo das usinas”, explicou Teston.

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O outro equipamento é um cultivador indicado para ser usado após a colheita e substitui o adubador, o desenleirador e o pulverizador quando a usina colhe cana crua. “O cultivador de tripla operação, solta o adubo, desenlera e pulveriza em uma única operação e ele leva quatro ou seis linhas, oferecendo duas a três vezes mais rendimento. Em teste um equipamento acoplado a um trator de 180 a 200 CV faz em torno de 5000 hectares cada safra diminuindo drasticamente a quantidade de máquinas em campo.

Para a colheita de cana, a empresa está desenvolvendo novos equipamentos. A Agnes é uma colheitadeira mais leve e simples, que colhe duas linhas, em teste há três safras. “Está sendo desenvolvida para colher em torno de 50% a 70% mais do que uma colhedora de mercado”, ressaltou o diretor.

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Tradicionalmente lançados durante a Agrishow, os equipamentos deverão ser expostos no lançamento da inauguração da concessionária da Teston, em Sertãozinho/SP. “Aguardamos a liberação do acesso para a rodovia, com a liberação do trevo, para abrir a concessionária, mas já estamos funcionando via fone e internet e ali encontram todos os nossos equipamentos, material de desgaste e também serviço”, contou.

Em setembro, a empresa inaugura também, na sede em Cianorte, uma fábrica de material de desgastes, oferecendo facas de corte de base, facão picador, pá de exaustores, entre outros. “A Teston tem uma vasta experiência em cana e usamos o conhecimento para ter todos os produtos que o produtor precisa, máquinas que vão preparar o solo com muita rapidez e economia. Todos os implementos para atender a linha de solo, mais temos mais cinco na linha de projetos que deverão ser lançados até 2021”, conclui.