Estudo da Embrapa mostrou que a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) reduz em até 16% a intensidade das doenças foliares em cana-de-açúcar. A pesquisa comprovou pela primeira vez a eficiência da FBN no controle de doenças nessa cultura.
O resultado pode beneficiar o manejo integrado de doenças emergentes considerando o novo cenário de colheita mecanizada e sem queima da cana-de-açúcar no Brasil.
O uso de práticas conservacionistas, como a FBN, fornece maior ciclagem de nutrientes no solo, sequestro de carbono e diminui emissões de gases de efeito estufa.
O estudo relata, pela primeira vez, o efeito da profundidade da camada de palha da cana-de-açúcar, mantida sobre o solo após a colheita, no desenvolvimento da mancha anelar e podridão vermelha.
Trata-se de mais um resultado positivo do uso da FBN no Brasil, que já abrange cerca de 33 milhões de hectares de soja, gerando economia anual superior a US$ 8 bilhões.
O trabalho abre novas perspectivas para o mercado de bioinsumos no país.
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Segundo a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Katia Nechet, a pesquisa avaliou os efeitos de práticas conservacionistas no controle de duas doenças foliares emergentes, a mancha anelar e a podridão vermelha, capazes de diminuir a biomassa seca da cana-de-açúcar, o que prejudica a produção (veja mais detalhes em quadro abaixo). Além da FBN, que mostrou maior eficiência na redução da severidade dessas enfermidades, foram testados também o cultivo mínimo, preparo convencional e o Sistema de Plantio Direto (SPD). “O bom desempenho com a cana agrega ainda mais valor à tecnologia FBN, desenvolvida pela Embrapa Agrobiologia”, destaca.
Ela explica que alguns mecanismos de controle podem estar envolvidos na interação entre os patógenos e as bactérias diazotróficas (capazes de fixar o nitrogênio do solo) utilizadas na FBN, tais como antagonismo, indução de resistência e competição. Essas reações têm sido relatadas durante a adaptação dos hospedeiros às bactérias em condições de estresse ambiental.
“O monitoramento da incidência e severidade das doenças pode ajudar a entender como as práticas conservacionistas em cana-de-açúcar podem alterar a importância dos patógenos foliares ao longo do tempo”, pontua Nechet. Outro ponto a ser considerado é o efeito dos fertilizantes no conteúdo de nitrogênio foliar e sua relação com a severidade de doenças.
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Após a primeira e segunda socas (cortes da cana), a severidade das doenças foliares foi maior quando o fertilizante nitrogenado aplicado foi nitrato de amônio. Durante a primeira soca, a média da severidade das doenças foi de 63% para nitrato de amônio e 49% para Fixação Biológica de Nitrogênio. Durante a segunda soca, as severidades médias das doenças foram 72% e 56% para nitrato de amônio e para nitrogênio biológico, respectivamente. O uso de inoculantes para Fixação Biológica de Nitrogênio reduziu a intensidade da doença em comparação com o amônio nitrato (14% e 16% para a primeira e segunda socas, respectivamente).
Nechet ressalta que os inoculantes para a fixação biológica foram utilizados no plantio das gemas (toletes de cana-de-açúcar) e também pulverizados no início do desenvolvimento de cada soca, mostrando pela primeira vez o efeito benéfico de bactérias fixadoras de nitrogênio na redução da severidade de doenças foliares na cana-de-açúcar. Segundo o também pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Bernardo Halfeld, é uma vantagem adicional do uso da FBN como componente de uma prática conservacionista.
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A severidade de ambas as doenças variou significativamente durante a estação de crescimento e alcançou seu ápice na primeira soca. “Portanto, em se tratando de doenças emergentes, caso sua importância seja negligenciada, podem vir a se tornar problemas mais sérios no futuro”, diz Halfeld.