A receita obtida com exportações de açúcar bruto e refinado no Brasil em abril somou US$ 457 milhões, valor 7,7% maior do que o registrado em março deste ano e 33,8% superior ao volume do mesmo mês de 2019, que foi de US$ 355 milhões, divulgou a COGO Inteligência em Agronegócio, nesta quinta-feira (7).
Os embarques do adoçante bruto devem seguir acelerados em maio, diante dos altos prêmios para o açúcar refinado e preços mais baixos para o bruto nos portos. Nem mesmo o cenário de crise que afeta o segmento deve afetar de forma significativa os embarques. Segundo o relatório, 25% das usinas se encontram em situação financeira frágil, mas essas empresas são mais focadas no mercado interno e na comercialização no spot, de vendas à vista.
A consultoria considera ainda que a forte desvalorização do real ante o dólar pode manter as exportações de açúcar da safra atual em níveis atraentes para as usinas brasileiras. “A incerteza do mercado quanto à oferta de açúcar no curto prazo, tendo em vista os efeitos da pandemia em grandes países exportadores, levou a uma queda menos acentuada nos preços do açúcar branco em relação ao refinado”, explica o documento. Além disso, a redução na área semeada com beterrada açucareira na Europa também contribui para esse cenário, já que a commodity é a principal matéria-prima para produção do açúcar na região.
Com preços menos voláteis do açúcar branco, o prêmio do refinado segue atrativo, estimulando o processamento do açúcar bruto, sendo que os principais destinos são os países asiáticos, além de nações que possuem polos de refino, como Arábia Saudita e Argélia.
Neste cenário, o relatório pontua que a fixação de contratos para entrega a partir de 2021, por exemplo, supera os R$ 1.350,00 por tonelada, sustentados pela variação do câmbio. “Há uma expectativa de que os bloqueios na Índia em decorrência do coronavírus sejam suspensos a partir da segunda semana de maio. A velocidade de retomada, entretanto, ainda é incerta e pode afetar, portanto, as exportações de açúcar indiano para o mercado externo”, afirma.
Preços fixados
Segundo a COGO, as usinas fixaram preços para vendas externas de 17 milhões de toneladas de açúcar com base em contratos futuros negociados na ICE em Nova York, o que é considerado um grande avanço em relação a igual período do ano passado, que foi de 11 milhões de toneladas de açúcar. A maior parte dessa fixação de preços, foi realizada no início de 2020, momento no qual as cotações da commodity estavam acima de 15 centavos de dólar por livra-peso, diante de expectativas que ainda projetavam um déficit global, que não deverá se confirmar, segundo a consultoria.
Pressionados pela pandemia, os preços de açúcar caíram para o patamar próximo dos 10 centavos de libra-peso. A expectativa de aumento da oferta por parte do Brasil, que deverá reverter o quadro de déficit global esperado para 2020/2021, também influenciou nos valores.
Ainda de acordo com a consultoria, o consumo global de açúcar sofrerá menos que o de etanol. “O fato de a moeda brasileira ter se desvalorizado frente ao dólar cerca de quatro vezes mais do que a de outros países concorrentes na produção, como Índia e Tailândia, também deve favorecer o açúcar do Brasil em safras futuras. Nos quatro primeiros meses do ano, o dólar disparou 35% ante o real”, esclareceu.
Embora o preço em dólar inviabiliza a produção em outros países, como Índia, Tailândia e Austrália, viabiliza a produção no Brasil, que pode se beneficiar no futuro, já que há previsão de que os “preços do açúcar daqui a dois anos estarão mais atrativos ainda para o Brasil, com patamares pouco remunerados para Índia e Tailândia”.
“O cenário de longo prazo não é negativo, mas vai ser difícil para nossos concorrentes. O problema no Brasil é o curtíssimo prazo, que é o baixo preço do etanol. A queda na demanda por combustíveis, devido à menor circulação de veículos até que a pandemia seja superada e as incertezas relacionadas ao mercado de combustíveis fósseis ofuscaram o otimismo da entrada em vigor do RenovaBio.
Situação das usinas
O relatório ressalta ainda que 25% das 350 usinas em operação corre o risco de fechar as portas até o fim do ano por causa da crise. “Sem capital de giro para pagar as contas de curto prazo, parte dessas empresas tem sido abatida pela forte queda de demanda pelo combustível”, afirma.
A consultoria destaca que os grupos mais capitalizados têm fôlego para armazenar sua produção de etanol e também de alterar o mix da indústria, passando a produzir mais açúcar. “Porém 100 unidades produtoras não têm condições de estocar etanol e acabam vendendo a preços baixos, e também não tem saúde financeira para suportas os próximos meses de fracas vendas e baixos preços”.
O levantamento mostra também que, das 267 unidades produtoras do Centro-Sul, 80 usinas só produzem etanol e que, com receita de R$ 100 bilhões, o setor conseguiu reduzir nos últimos anos seu endividamento, que hoje está em torno de R$ 90 bilhões. E um grupo grande de usinas acumula a maior parte dessas dívidas. “No Brasil, 104 unidades produtoras estão em recuperação judicial, das quais 81 no Centro-Sul”, afirmou, lembrando que desde 2005, 95 usinas foram fechadas nesta região.