O governo da Bolívia criou um novo combustível, o Super Etanol 92, uma gasolina de 92 octanas, com o objetivo de reduzir gradativamente a importação de combustíveis fósseis e passar a empregar o etanol como um aditivo para a produção de gasolina de maior rendimento.
O combustível foi oficialmente criado em 15/09 com a assinatura da lei sobre Aditivos de Origem Vegetal.
Equipe do JornalCana esteve na Bolívia, durante o evento que anunciou a assinatura da lei e entrevistou com exclusividade o ministro de Hidrocarbonetos, Luis Alberto Sánchez, que será o “Ethanol Man of The Year” no 3rd MasterCana Award. A premiação ocorrerá em 29/10 durante o evento MasterCana Brasil, na capital paulista.
Essa é uma medida história. Há anos há tentativas de criar essa mistura. Quais as razões que permitiram que isso ocorresse agora?
Luis Alberto Sánchez – Os pilares do setor são: soberania energética, universalização dos recursos energéticos, industrialização e internacionalização. Atualmente temos um déficit em abastecimento de gasolina, podemos prover somente 70 a 80%. Portanto havia mercado, uma decisão política e todo o cenário para implantar essa medida.
Partindo do princípio de independência energética, de baixar as importações e reduzir os subsídios, decidimos trabalhar e enfrentar os desafios técnicos, econômicos e legais. Levamos um ano negociando até viabilizar algo do que já se falava há mais de 30 anos.
Também estabelecemos um preço de incentivo definido para o produtor, assim o valor pago pela cana para açúcar ou etanol será o mesmo. Isso foi o cenário que viabilizou tudo isso.
No âmbito ambiental, a lei agora substitui o aditivo oxigenante usado até então por aditivos verdes.
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Pode se dizer que os benefícios começam no campo e alcançam a cidade?
Luis Alberto Sánchez – Sim. A economia local crescerá e se beneficiará. A Bolívia cresce 4,5% ao ano, com o efeito etanol o crescimento será de quase 1% a mais, chegando a 5,4%.
O desafio agora é de duplicar o cultivo de cana. Hoje estamos com 160 mil hectares, podendo crescer a 350 mil. Além do crescimento da superfície agrícola, também é preciso melhorar as pesquisas para desenvolver variedades com alta produtividade. Hoje temos uma produtividade deficiente, então temos que melhorar.
Como será feita implantação dessa nova lei?
Luis Alberto Sánchez – Esse decreto nos dá a possibilidade de negociar contrato de 5 anos com fornecedores. O armazenamento, blending e logística ficarão a cargo da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). E a ASOSUR (Asociación Departamental de Propietarios de Estaciones de Servicio) terá sua margem de lucro aumentada por comercializar o Super Etanol 92. Portanto há um grande incentivo para os produtores de cana, a indústria, ao YPFB, e também para os postos de gasolina. Por cada litro que venda vai receber uma porcentagem maior. Esperamos que no primeiro trimestre de 2019 praticamente 90% dos postos tenham aderido a esse novo combustível.
Qual a previsão para o próximo ano de consumo de etanol?
Luis Alberto Sánchez – A projeção é de 80 milhões de litros em 2018 e cerca de 320 milhões de litros em 2025. E para o ano que vem prevemos demandar das usinas 120 milhões de litros. E com esse novo combustível é possível que essa demanda aumenta ainda mais.
Há diferença de preço entre a gasolina especial e o SuperEtanol92?
Luis Alberto Sánchez – Sim. A gasolina especial está taxada com preço fixo de 3,74 bolivianos e tem 85 hectanas. O novo combustível com maior octanagem custará 4,50. Fizemos um plano piloto, para podermos ter gasolina com melhores características que a fóssil e que possa ter esse preço e que dê a opção ao consumidor. O próximo passo é que todas as gasolinas tenham uma porcentagem de etanol como acontece em todo mundo.
Quais foram os principais desafios até a assinatura da lei?
Luis Alberto Sánchez – O primeiro elemento foi uma decisão política, de que os biocombustíveis poderiam ser introduzidos na Bolívia. Outro elemento foi a definição de um preço que fosse incentivo (preço de 0,72 centavos de dólar por litro de etanol) para ampliar os cultivos de cana, investir em desenvolvimento de pesquisas, investimentos no campo, máquinas e indústria. E também a criação de um incentivo para os postos, melhorando a margem de lucro.
E por fim, outro desafio foi conseguir criar essa lei, pois os ambientalistas eram contrários. Mas a estratégia do governo e do setor para explicar os benefícios, com debates e artigos no jornal, congressos, criou um consenso da opinião pública sobre o tema. O projeto foi aprovado por unanimidade na câmara dos deputados e dos senadores.
A comercialização acontecerá no país todo ou somente algumas regiões?
Luis Alberto Sánchez – Até o final do ano estaremos nos três departamentos mais importantes do pais. Onde fica 80% do consumo de gasolina. E a partir do ano que vem estaremos em todas as cidades capitais e províncias
Como esse decreto beneficia o setor, o país e os consumidores?
Luis Alberto Sánchez – Para o setor é importante não depender da importação de outros países e gerar o novo combustível verde, baixar as importações. Esse ano deixaremos de subsidiar 22 milhões de dólares na gasolina e até 2025 deixará de subsidiar cerca de UD$ 400 milhões então é algo importante para a economia da Bolívia. O projeto vai mudar a vida dos bolivianos desde pequenas cidades até as grandes.
O volume da mistura poderá ser modificado?
Luis Alberto Sánchez – Um dos aspectos da lei é que possamos regular a porcentagem de mistura, que se inicia com um decreto até 12%. Mas a lei não impõe um limite.