De onde viemos? Para onde vamos? Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? Álcool ou gasolina? Enfim, com o advento da tecnologia flex, saber qual combustível oferece maior vantagem econômica na hora de abastecer não pode ser transformada num destes embates filosóficos.
Durante muitos anos tem predominado a teoria do cálculo dos 70%, segundo a qual basta multiplicar o preço do litro da gasolina por 0,7. Se o resultado da conta for inferior ao preço do litro do etanol, valeria a pena abastecer com gasolina. Mas será que essa teoria acompanha a evolução dos motores atuais? Será que ela se adequa aos conceitos de sustentabilidade e eficiência energética?
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Para responder essa pergunta o presidente executivo da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio) e presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, solicitou ao Ministério das Minas e Energia um novo estudo que possa alterar as medidas de comparação entre a competitividade da gasolina e do álcool hidratado, visando melhor esclarecer os consumidores.
O dirigente espera a criação de um novo protocolo de aconselhamento sobre o consumo. A iniciativa exigirá uma reavaliação entre a eficiência energética do etanol hidratado e da gasolina C usada no Brasil.
Para Cunha, o dilema criado a partir da década de 1980 sobre os dois combustíveis, está desatualizado e essa equação precisa ser atualizada levando-se em conta que, desde 2015, a mistura do etanol anidro na gasolina não é mais de 22%, mas de 27%, o que melhorou a qualidade final da gasolina vendida no país.
“Entre 1993 a 2001, a gasolina tinha 22% de etanol. Houve outro período, após 2001, onde a mistura foi ampliada até 24%. E de 2015 até os dias atuais, a mistura é de 27%. Esse período com os 27% precisam ser atualizados”, explica o dirigente.
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De acordo com ele, a revisão vai conferir melhor se só vale a pena abastecer com etanol hidratado, caso o produto esteja 70% mais barato do que o combustível derivado de petróleo.
Cunha lembra que “o etanol é um produto verde e limpo que dá um upgrade na qualidade ambiental da gasolina. Fizemos uma proposta ao Ministério de Minas e Energia solicitando um estudo para alteração dos parâmetros do teste de paridade, que é a relação de eficiência energética entre o etanol hidratado e a gasolina de referência, denominada de C, que se usa no Brasil. A solicitação proposta vai no sentido que o Ministério consulte órgãos como o Inmetro e do meio ambiente”, pontuou.
“Esse questionamento pode ser encarado como uma oportunidade para que se crie um novo protocolo de descarbonização. O Inmetro e o Ibama são responsáveis pelos testes de emissões e de eficiência energética. Esse cálculo de emissões deve envolver parâmetros como velocidade adotada pelos usuários, distância percorrida, aceleração, tempo de condução, frequências das partidas e paradas, entre outros. O que sentimos é que essa decisão já deveria ter saído para que haja uma utilização racional dos combustíveis veiculares. É importante que os órgãos façam uma nova etiquetagem veicular do consumo de combustíveis”.
Renato Cunha reforçou que há três fatores a serem reavaliados: a tecnologia mais econômica dos automóveis, a maneira de dirigir e os níveis de mistura do etanol anidro na gasolina, que aumentou para 27%.
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Recente estudo promovido pelo Instituto Mauá de Tecnologia aponta um maior rendimento nos veículos que utilizam etanol.
O estudo compreendeu a realização de uma série de testes, com veículos flex mais modernos, para determinar referências mais atuais. Utilizaram o etanol e a gasolina comum vendida nos postos, para se estabelecer a comparação.
O estudo sugere que economizará usando o combustível vegetal, até que a diferença percentual dos preços chegue próximo dos 75%. Foram utilizados 20 veículos com anos de fabricação recentes: cinco unidades de quatro modelos diferentes (compactos 1.0 e 1.6, sedã médio e SUV).
Eles percorreram 27 km em cidades e 30 km em estradas. Cada um desses circuitos foi repetido 15 vezes e os trajetos seguiram o padrão já estabelecido pelo Instituto Mauá.
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Avaliado por meio de análise estatística, o desempenho médio do etanol comum em relação à gasolina comum (que contém 27% de etanol anidro) variou de 70,7% a 75,4%. Como referência, a norma do Inmetro mostrava, para os mesmos veículos, que os valores foram de 66,7% a 72,1%, respectivamente.
Ressalva dos testes: além do nível de tecnologia embarcado no veículo, o jeito que cada condutor dirige sempre será o fator mais importante para determinar o nível de eficiência por quilômetro rodado.