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Estudo revela que 92% do etanol brasileiro provém de novas áreas de cana

Pesquisa foi focada na análise do uso da terra destinada aos canaviais

(Divulgação FGV)
(Divulgação FGV)

De acordo com dados do DATAGRO, a produção global de etanol aumentou 3,6% em 2021, posicionando o Brasil como o segundo maior produtor desse combustível.

Em busca de avaliar a sustentabilidade real do etanol em termos ambientais, a Fundação Getulio Vargas (FGV) conduziu uma pesquisa utilizando monitoramento por satélite para criar um modelo econômico baseado em dados, focado na análise do uso da terra destinada à plantação de cana-de-açúcar.

O pesquisador da EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV, Marcelo Sant’Anna, liderou o projeto, destacando que, para aumentar a produção de cana-de-açúcar, há duas abordagens: replantio mais frequente e expansão para novas áreas. O estudo revelou que, no Brasil, apenas 8% do novo etanol é resultado da intensificação do processo de replantio, enquanto os restantes 92% provêm de áreas recém-desenvolvidas.

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Sant’Anna ressalta a crescente demanda por combustíveis e a necessidade de mitigar danos ambientais, salientando que a pesquisa visa destacar as implicações do uso da terra. Ele observa que a expansão da cana-de-açúcar pode afetar áreas destinadas a outras produções, como soja e alimentos, invadindo matas e florestas. A pesquisa identificou que 20% dessas novas áreas eram originalmente florestas, indicando desmatamento, enquanto 70% eram áreas de pastagem ou de outras culturas.

O modelo desenvolvido possibilita analisar para onde essas novas áreas estão se expandindo e como afetam outras culturas além da cana. Sant’Anna destaca que, devido ao custo mais baixo, a expansão para novas áreas é mais prevalente do que o replantio. Ele enfatiza a importância de compreender os determinantes desse processo para orientar políticas públicas.

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Utilizando imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mapeou todas as áreas de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil ao longo de mais de 10 anos, o estudo ajustou seu modelo econômico de maneira dinâmica. Sant’Anna sugere que o modelo permite experimentos em políticas públicas, investigando como ocorre o aumento da produção de cana-de-açúcar.

O pesquisador enfatiza que o foco não é julgar o etanol como bom ou ruim, mas sim compreender o ciclo de produção e o impacto real desse combustível considerado verde. Ele destaca a necessidade de uma análise cuidadosa do cenário, pois a resposta à pergunta “quão verde é a cana-de-açúcar” depende fundamentalmente do que acontece com as áreas utilizadas para sua produção.