Estudo do projeto Campo Futuro da CNA (Confederação Nacional Agricultura e Pecuária do Brasil) em parceria com o Senar e Pecege aponta qual o impacto percentual de uma elevação de 10% na taxa de câmbio sobre os preços dos fertilizantes nas revendas brasileiras, e consequentemente nos custos de produção da cana-de-açúcar.
Segundo o estudo, a taxa de câmbio da moeda brasileira em relação ao dólar, que no início de 2020 ficou acima de R$ 5,00 por conta da pandemia, apresenta uma grande volatilidade em virtude de eventos econômicos diversos, com impactos diretos sobre o custo de produção.
No curto prazo, porém, tal impacto é notadamente mais sentido nos fertilizantes comercializados no Brasil, que tem como principal característica a dependência externa deste produto.
O mercado de fertilizante no Brasil passou recentemente por três momentos, a começar pelo período inicial da pandemia, com elevação da taxa de câmbio e consequente aumento dos preços domésticos; na sequência, os elevados preços dos grãos elevaram abruptamente a procura por fertilizantes no início de 2021, gerando seu encarecimento em todo o mundo; e, por fim, o conflito no Leste Europeu, que voltou a pressionar os preços globais. Assim, desde 2020, o cenário observado é de elevação do custo desses insumos, fundamentais à produção agrícola brasileira.
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Para se chegar ao impacto causado por uma elevação de 10% na taxa de câmbio, o estudo considerou a série de dados mensais entre janeiro de 2019 e abril de 2022 das variáveis, na primeira diferença do logaritmo, do índice médio de preços de fertilizantes (estimado com base nos dados do Projeto Campo Futuro da CNA/Senar) e da taxa de câmbio – média do período (BCB, 2022).
Ademais, um índice global de preços de fertilizantes do The World Bank (2022) foi utilizado como variável controle. O resultado encontrado foi significativo a 1% e se refere ao impacto no intervalo de um único mês.
No longo prazo, espera-se transmissão completa das variações no preço internacional e da taxa de câmbio sobre o preço doméstico dos fertilizantes.
Assim, estima-se que, no prazo de um mês, 44% da variação do preço global dos fertilizantes seja repassada para o mercado brasileiro, enquanto 56% da variação da taxa de câmbio é repassada ao mercado nacional.
Dito de outra forma, cerca de metade da variação nos preços externos e no câmbio são repassados para o mercado nacional em um curto prazo de tempo, evidenciando o grau de exposição do agronegócio brasileiro – e, em particular, dos produtores de cana-de-açúcar – a fatores externos, afetando diretamente a gestão estratégica da produção.
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A partir dos resultados obtidos e, sabendo-se que os fertilizantes representam, em média, 27% do custo operacional da produção de cana-de-açúcar, então, no período de um mês, o impacto de um choque de 10% na taxa de câmbio, isoladamente, representaria um aumento de 1,54% no COE (custo operacional efetivo) no intervalo de um mês.
De acordo com o estudo, pode-se inferir que a alta volatilidade da taxa de câmbio guarda uma relação dúbia com a competitividade do agronegócio brasileiro, ao passo que sua elevação favorece a remuneração dos exportadores ao mesmo tempo em que influencia os custos de produção.
Nesse segundo aspecto, em virtude da necessidade de importação de determinados componentes essenciais para a produção agropecuária, a manutenção dos custos encontra-se à mercê do contexto macroeconômico internacional.
Para 2023, a expectativa é que a taxa de câmbio atinja o valor de 5,04 R$/US$, ou seja, um incremento de aproximadamente 1%.
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Se isso se concretizar, o reflexo será de aumento de 0,154% dos custos de produção (considerando apenas o efeito nos preços de fertilizantes). Embora tal valor aparente ser pequeno, o mesmo tende a ocorrer em um momento de elevado custo de aquisição de fertilizantes, contribuindo para a pressão sobre os custos da atividade.