Djalma Euzébio Simões Neto é integrante da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) por meio da Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE), da qual é participante da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar de Carpina (EECAC).
Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Simões Neto comenta a situação do setor sucroenergético da região Nordeste do país e indica estratégias para o setor obter ganhos de produtividade agrícola.
A entrevista foi concedida durante o workshop ‘Desafios e Perspectiva do Setor Sucroenergético no Nordeste’, realizado pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) na quinta-feira (30/03), em Campinas (SP), com cobertura do JornalCana, única mídia especializada no setor sucroenergético presente ao evento.
Qual a previsão de moagem de cana na safra 2016/17 no Nordeste?
Djalma Euzébio Simões Neto – A previsão é de 46 milhões de toneladas.
Como é possível obter ganhos de produtividade canavieira na situação de estresse hídrico, na qual o Nordeste está sem chuvas desde dezembro último?
Simões Neto – Alinhamos variedades de cana-de-açúcar na área nutricional e, agora, na área de colheita. O próximo passo é planejar variedades no plantio diante a mecanização geral. O que já percebemos no Nordeste é que há solos inferiores [em qualidade] na comparação com a região Centro-Sul, a distribuição de chuvas, mesmo em ano normal, é muito concentrada e existe déficit mesmo diante ano de chuva elevada.
Fale mais a respeito dessa condição hídrica
Simões Neto – Pode chover de cinco a seis meses e depois fica-se mais seis meses em estiagem. Pode ter ano com mais chuvas que no Centro-Sul, mas há déficit pela distribuição dessas chuvas na região Nordeste. Nos últimos cinco anos, entretanto, temos um déficit de quantidade e de distribuição de chuvas.
Diante isso, o que é oportuno para a área canavieira do Nordeste?
Simões Neto – O momento é oportuno para avaliar os avanços de irrigação, na área de nutrição e de mecanização para usufruir mais o material genético das variedades de cana.
Como assim?
Simões Neto – As variedades RB [produzidas pela Ridesa] na região Nordeste diferem das cultivadas na região Centro-Sul devido às condições ambientais. O Nordeste tem a tradição sucroenergética, que está no sangue do pessoal da região, e queremos que essa tradição seja mantida. As variedades sustentam já há alguns anos o setor no Nordeste, mas chegou o momento em que não dá para esperar que só elas, as variedades, resolvam a situação. Se tivéssemos hoje as variedades de cana do passado, importadas e sujeitas a pragas, talvez hoje não tivéssemos mais cana no Nordeste.
Mas as variedades são o principal motivo de sustentação do setor no Nordeste?
Simões Neto – Sim, mas as variedades não são eternas. Há doenças, o tempo de uso e [as variedades] precisam ter substituição frequente. Sendo assim, o fortalecimento de programas de melhoramento é importante para qualquer país produtor de cana, e não só para o Brasil. No Brasil, além da Ridesa, temos outros programas que talvez sejam bem sucedidos para ajudarem o produtor.
A cana energia é uma alternativa para obter ganhos de produtividade no Nordeste?
Simões Neto – A cana energia permite sobra de bagaço [por ter muita fibra] e com a palha produz-se bioenergia, e por isso é uma alternativa. Ela terá espaço no setor sucroenergético.
A Ridesa trabalha com variedade de cana energia?
Simões Neto – Sim, tem trabalhado. Há muito material clone de cana energia em fase de avaliação, de testes, tanto para ser oferecida para a região Nordeste, como para o Centro-Sul.