A Organização Internacional do Açúcar (ISO) estima que haverá um déficit de 9,3 milhões de toneladas de açúcar em 2019/20 (outubro/setembro), um pouco inferior à estimativa divulgada pela associação, em fevereiro, que foi de 9,45 milhões de toneladas. Se confirmado, será o maior déficit registrado em 11 anos. Segundo o relatório trimestral da entidade, a produção mundial será de 166.798 milhões de toneladas, representando uma queda de 7,7 milhões de toneladas ou 4,44% em relação a temporada anterior.
O levantamento da organização mostra que a oferta mundial de açúcar será moldada pelo volume e ritmo da produção no Brasil nos próximos meses, já que as reduções da produção na Tailândia, México e outros, totalizando 2.110 milhões de toneladas, já foram contabilizadas.
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A projeção de crescimento do consumo de 1,25% foi mantida, porém, esse aumento poderá ser anulado pelo impacto da COVID-19. “No momento estimamos perda de 2,1 milhões de toneladas no consumo, mas esses números são ainda preliminares e, por essa razão, não foram incluídos no balanço mundial que divulgamos”, explicou José Orive, diretor-executivo da ISO ao JornalCana.
As perspectivas para 2020/21 apontam também um déficit de 6,9 milhões de toneladas, com expectativa de disponibilidade de apenas 1 milhão de toneladas líquidas de estoque excedente.
Confira entrevista com Orive:
Qual o volume em toneladas de estoque atual?
Estimamos em 84,26 milhões de toneladas o estoque mundial ao fim de 2019/20 (outubro/setembro).
Este volume cobre qual período de consumo?
Este volume cobre 47,85% do consumo anual, ou pouco menos de 6 meses.
O senhor vê déficit menor no mercado global de açúcar com aumento na produção brasileira?
Sim, claro. As safras dos outros grandes produtores já se encerraram. A questão fundamental para definir 2019/20 (out/set) agora será o mix do açúcar no Brasil, o volume de cana a ser moído, e quanto será produzido no período que antecede outubro.
Como ficará a Índia, até então o maior produtor de açúcar do mundo, na próxima safra?
A Índia produzirá em torno de 26,8 milhões de toneladas essa temporada. O ano que vem ainda está muito distante para fazer qualquer estimativa acurada da produção (o período de monções está apenas começando). Ainda existem amplos estoques para exportação naquele país. Relatos locais indicam estoques de 11,5 milhões de toneladas ao final de 19/20, com expectativa de aumento de produção na temporada seguinte.
Com relação ao preço da commodity. O que o senhor tem a dizer?
Os preços têm sido impactados por fatores macroeconômicos. O preço do açúcar caiu cerca de um terço de seu pico pré-Covid. Fatores relevantes seriam o sentimento e comportamento especulativo do mercado.
Outro fator chave a ser considerado seria a relação entre preços mundiais do petróleo e preços do açúcar – via o etanol. Taxa de câmbio à parte, o açúcar tem sido mais valorizado que o etanol no Brasil, porém, a indústria mundial do petróleo considera que o nível atual de preço dessa commodity é insustentável. Portanto, parece ser mais o caso de preço do petróleo subir do que do açúcar cair.