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Estiagem deve fazer usinas de Minas repetirem a moagem da safra anterior

Estiagem deve fazer usinas de Minas repetirem a moagem da safra anterior

Assim como em outros estados canavieiros, a estiagem prolongada deve gerar quebra na oferta de cana-de-açúcar na safra 2018/19 em Minas Gerais. Por conta disso, as unidades produtoras do Estado deverão processar a mesma quantidade de matéria-prima da temporada anterior, prevê Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig).

Em entrevista do JornalCana durante o 11o. Congresso de Bioenergia, realizado pela União dos Produtores de Bioenergia (Udop) em Araçatuba (SP), o presidente da Siamig comenta sobre perdas e dá sua opinião sobre os motivos de o etanol não avançar em vendas.

Como vai a safra de cana em Minas Gerais?

Mário Campos – Entramos na segunda metade da safra com seca. É uma época em que normalmente há seca. Em Minas, as usinas estão espalhadas pelo Estado, sendo 70% delas localizadas no Triângulo Mineiro e 30% em outras regiões. Nos últimos anos o Triângulo estava muito bem e as outras regiões tiveram problemas. Nesse ano, essas outras regiões estão em situação muito melhor.

O Triângulo foi mais penalizado?

Mário Campos – Principalmente entre março e abril faltou chuva.

Com isso muda a estimativa de moagem?

Mário Campos – Tínhamos expectativa inicial de moer 65 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, mas havia possibilidade de chegar a volume maior porque ampliou-se áreas canavieiras e as práticas agrícolas foram melhoradas. Minas tinha potencial de chegar a 66 milhões de toneladas de cana na safra 18/19, se o clima tivesse sido dentro do nível histórico.

E agora?

Mário Campos – Provavelmente deveremos repetir a moagem da safra passada, a 17/18, que chegou a 64,5 milhões de toneladas de cana. Tem unidade que cresce e unidade que cai em processamento. De qualquer forma, estamos na nossa maior safra de etanol da história do Estado, com mais de 3 bilhões de litros de biocombustível, com destaque para o hidratado.

E a produção de açúcar?

Mário Campos – Deverá ter uma quebra de mais de 600 mil toneladas por conta de a safra ser mais alcooleira, como ocorre em todo o setor sucroenergético do País.

A safra deverá terminar antes?

Mário Campos – Está um pouco mais adiantada. O ritmo de moagem está 4% mais adiantado em relação à temporada anterior. Se esse ritmo seguir teremos um encerramento de safra antecipado.

Para quando?

Mário Campos – A maioria das unidades em Minas costuma encerrar a moagem na segunda quinzena de novembro e, com o ritmo acelerado, deveremos concluir uma semana antes. Mas é preciso lembrar que a safra 18/19 começou mais cedo em torno de dez dias. Sendo assim, está dentro da normalidade.

Como está o ano para as usinas em termos comerciais?

Mário Campos – Temos demanda. Nosso problema não é mercado. Nosso problema é preço. No caso do açúcar, os preços caíram em decorrência da oferta internacional. Já no caso do etanol, é uma questão de organização do setor.

Como assim?

Mário Campos – Vejamos o caso de Minas Gerais, onde o etanol tem 60% de paridade de preço diante da gasolina. Temos uma grande produção de biocombustível, essa paridade e a demanda não vem como o esperado. Seria preciso ampliar um pouco mais a participação das vendas de etanol, mas para isso será preciso mudar o foco do produto, ganhar mercado. Precisamos entrar em setores da sociedade nos quais ainda não conseguimos.

Que setores são esses?

Mário Campos – Incluem pessoas que não consomem etanol por desconhecimento, pelo histórico, por achar que não é legal, por questionar a qualidade, a economia. Se temos hoje um combustível bem mais barato que o concorrente, seria lógico que o consumidor abraçasse o etanol. Mas por algum motivo ele não abraça.

Por que isso ocorre?

Mário Campos – Nós, como produtores, não temos acesso à ponta [consumidores] e ao mercado. Nem estou comentando isso com menção à história de venda direta de etanol. Digo de não ter acesso à ponta no sentido de conversar com os consumidores, independente se tem ou não atravessadores no processo. A grande questão é que há formas e formas de agregar valor ao etanol e hoje, infelizmente, não se consegue fazer isso.

A situação econômica não ajuda a reduzir as vendas?

Mário Campos – Sim, o ciclo Otto como um todo está caindo. Entre janeiro a maio, incluindo a greve nos transportes, as vendas de combustíveis caíram em 7%. É um efeito de renda. Estamos vendendo 85% mais etanol em relação a 2017, produzindo mais e infelizmente a situação é essa.