Em todo imbróglio energético criado pelo governo brasileiro, a única certeza é de que a sociedade pagará a conta. Modicidade tarifária, de acordo com o diretor do CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, foi o maior erro do governo, preocupado apenas em manter seu eleitorado, já que 2014, é um ano decisivo.
Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Pires explica que o Brasil precisa de diversidade em sua matriz energética, fator que só virá com políticas públicas eficientes. “Segurança e oferta são sinônimos de diversidade. Quanto mais diversificada for a matriz, menor a probabilidade de uma crise”.
JornalCana: Como o setor sucroenergético pode tirar proveito da crise energetica?
Adriano Pires: Não vejo como, na atual conjuntura. Tiraria se o governo fosse inteligente e colocasse preços atrativos nos leilões, ao invés de simplesmente ficar preocupado com a modicidade tarifária. Era preciso pensar na diversificação da matriz energética, já que segurança e oferta são sinônimos de diversidade. Quanto mais diversificada for a matriz, menor a probabilidade de uma crise.
Porque isto não aconteceu?
O governo criou uma maneira burra de trabalhar (sic). Na verdade, trata-se de uma política populista, que busca agradar os eleitores. Dessa maneira, eles conseguiram impedir que a biomassa entrasse de uma maneira efetiva no sistema elétrico do país. A realidade é que se quisessem ser eficientes, teriam promovido, já há algum tempo, um leilão regional e por fonte. O governo foi míope e vai ter que pagar a conta.
Como avalia as ações que estão sendo tomadas para conter o problema?
Todas as medidas anunciadas nesse período crítico servem apenas para manter as tarifas baixas até as eleições. Quando analisamos os leilões mais antigos, vemos que o setor sucroenergético falava em R$ 180 por megawatt-hora e o governo dizia que era exagero. Hoje, veja só, estão pagando R$ 822 por megawatt-hora.
O que deveria ser feito para amenizar a crise?
Penso que o governo deveria aumentar a tarifa para tentar reduzir o consumo, além de criar uma companha que incentive o uso mais eficiente de energia elétrica. São várias possibilidades, só que nada prudente é feito.
Do que a biomassa precisar para entrar no mercado em curto prazo?
Não vejo como o setor pode ser beneficiado de maneira rápida. Você não consegue aumentar a oferta de energia de um dia para o outro. Talvez, o que pudesse ajudar, seria o anuncio de leilões regionalizados e por fontes. Isso traria previsibilidade e um horizonte mais azul ao segmento, o que certamente influenciaria nos investimentos. Penso que o governo poderia aproveitar o momento e rever algumas ações.
Qual a importância da cana-de-açúcar para o sistema elétrico?
A Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar indica que usinas de canavieiras possuem potencial instalado para produzir o equivalente a uma Itaipu – Usina Hidrelétrica. Só que para poder transformar todo esse potencial em energia, é preciso inteligência e não focar em modicidade tarifária. Vejo o setor com um enorme potencial, lidando com um governo que não soube e não sabe explorar seus benefícios.
Existe a possibilidade de um leilão emergencial, por exemplo?
Acho que não. O governo só que manter a tarifa barata até as eleições, depois, seja o que Deus quiser.