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Entenda porquê recente medida ampliará o faturamento das térmicas de cana

Foto: Divulgação/Unica
Foto: Divulgação/Unica

As termelétricas movidas a biomassa de cana-de-açúcar ampliarão o faturamento com recente medida do Ministério de Minas e Energia (MME). Em 28/02, a Pasta oficializou a Portaria nº 65, que estabelece um Valor Anual de Referência Específico (VRES) para a eletricidade produzida pela matéria-prima do etanol.

Anteriormente, não havia valor especificado para a eletricidade de biomassa de cana. Com a Portaria, ficou estabelecido um VRES para a biomassa residual da cana de R$ 349/MWh.

Os R$ 349/MWh representam uma vigorosa remuneração para as usinas de cana com produção de excedente de eletricidade. E superam em 90% o valor médio do indicador empregado para venda de excedente energético de biomassa no mercado spot, o PLD, que deverá ficar em R$ 183/MWh em 2018.

Leia também: Média do PLD em 2018 deve ficar em R$ 183/MWh

O estabelecimento de valor de VRES para a bioeletricidade era discutido desde 2016 por meio de instituições como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).

O VRES vem em boa hora, mas é preciso lembrar que ele é focado no mercado de Geração Distribuída (GD) e operado pelas distribuidoras de energia em suas áreas de concessões. O volume adquirido nesta modalidade de contratação não pode exceder a 10% da carga das distribuidoras, sendo que as distribuidoras costumam comprar a maior parte de sua demanda nos Leilões Regulados, promovidos pelo Governo Federal.

Mas o estabelecimento de valor do VERS para a bioeletricidade da biomassa de cana deverá servir de estímulo e ampliará o faturamento das térmicas de cana.

Em entrevista ao JornalCana, Newton Duarte, presidente executivo da Associação da Indústria da Cogeração de Energia (Cogen), revela detalhes sobre o assunto. Confira a entrevista:

A definição do valor dos VRES para energia de biomassa no mercado GD deve incentivar a cogeração de excedentes das termelétricas de usinas de cana no curto prazo (ainda na safra 18/19, por exemplo)? Por que?

Newton Duarte, presidente executivo da Cogen: RenovaBio fortalecerá também o mercado de bioeletricidade (Foto: Divulgação)

Newton Duarte – Sim, essa medida é muito positiva e vai contribuir bastante para incentivar a cogeração. Entendemos que o patamar de R$ 349,00/MWh [Valor de Referência Específico (VRE) para a Geração Distribuída (GD) movida a biomassa residual, a derivada do bagaço de cana-de-açúcar] é uma remuneração que estimula a cogeração de energia – talvez advinda da compra de bagaço adicional ou da própria ampliação dessas usinas. Tais ampliações trarão mais bioeletricidade para o nosso sistema.

O sr. sugere que termelétricas com folga de cogeração contatem agentes comercializadores para oferecer essa produção focada na GD?

Newton Duarte – Com esse mecanismo, as distribuidoras de energia precisam fazer uma chamada pública para a contratação da GD. A partir daí, as usinas poderão ofertar a energia que produzem, mediante VRE da biomassa residual. Essa contratação não seria por intermédio de um agente comercializador.

As usinas poderão ofertar a energia que produzem, mediante VRE da biomassa residual. Essa contratação não seria por intermédio de um agente comercializador.

O mercado de GD é restrito, ou seja, as distribuidoras só podem adquirir 10% de sua carga? Explique mais a respeito, por favor, e se essa restrição não impede o avanço da GD.

Newton Duarte – Na nossa avaliação, a medida não restringe o avanço da GD; pelo contrário, será um grande incentivo. Atualmente, as distribuidoras têm em torno de 45 mil MW médios de carga e, portanto, 10% representam 4,5 mil MW médios. Se considerarmos que, até hoje, somente 0,098 MW médios foram atendidos com a GD. Podemos concluir que, mesmo com o limite de 10%, há potencial muito grande para o crescimento da oferta. Então, isso não será uma barreira para impedir o avanço da GD. Há uma grande margem para expansão.

Qual o valor médio de produzir um megawatt-hora (MWh) por biomassa de cana?

Newton Duarte – É muito difícil precificar. Isto porque o valor pode variar de usina para usina, conforme fatores como o Capex e o custo da tonelada do bagaço, que oscila muito. Então, a Cogen prefere não estabelecer esse valor.

Fique à vontade para comentar mais sobre o tema.

Newton Duarte – A portaria MME nº 65 é uma conquista muito importante da Cogen, em parceria com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que beneficiará todas as usinas, e contribuirá para a expansão da bioeletricidade. Tudo isso começou com um grande trabalho que a Cogen iniciou em 2013 com a proposição do Valor de Referência para Geração Distribuída. Em 2015, a regulamentação do VR específico foi publicada, abrangendo somente a energia solar e gás natural. Depois, a Cogen, juntamente com a Unica, levou uma proposição de valores para biomassa, a partir de um estudo realizado pela Thymos Energia, e apresentou tal proposição para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e para o Ministério de Minas e Energia (MME), que resultou nesse VR específico para a biomassa.

Qual o próximo passo? 

Newton Duarte – Agora, nosso próximo passo é realizar reuniões pontuais com as distribuidoras, principalmente
as que abrangem grande parte das usinas de açúcar e etanol em suas áreas de concessão (CPFL, Energisa, Elektro, Cemig, por exemplo). Queremos motivar as distribuidoras a promover chamadas públicas.

Sobre a Política Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio, em fase de implementação. Consta que emresas sucroenergéticas que usem biomassa (bagaço e palha) para cogerar não só para consumo próprio mas para venda no mercado estarão mais adaptadas ao programa, e, assim, terão mais pontos favoráveis de descarbonização. Sei que esse tema passa por fase de implementação, mas qual é sua opinião? 

O RenovaBio vai ajudar muito a bioeletricidade

Newton Duarte – O RenovaBio vai ajudar muito a bioeletricidade. O programa prevê que a produção de etanol possa chegar a 50 bilhões de litros/ano em 2030. Hoje, a produção, em média, varia de 28 a 30 bilhões/ano. Esse incremento vai aumentar a moagem de cana-de-açúcar, de 650 milhões de toneladas/ano para algo em torno de 850 milhões de toneladas/ano. Com esse crescimento de 200 milhões de toneladas, calculamos que isso vá propiciar um
aumento de 4GW na geração de energia advinda da biomassa. Hoje, a capacidade é de 12GW.