O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, disse ontem que a operação do sistema elétrico está cada vez “mais difícil e estressante” devido à opção do país por construir hidrelétricas sem reservatórios. Chipp disse que o Brasil já está despachando térmicas fora da ordem de mérito, para garantir o atendimento da carga, desde 2008, ao rebater críticas de que o ONS demorou para ligar as térmicas para economizar água no reservatório das hidrelétricas.
Segundo ele, o ONS tem realizado semanalmente reuniões com institutos de meteorologia que apontam que o El Niño, que deve trazer mais chuvas no Sul, pode começar em junho. Mas as perspectivas não são as melhores. Em um prazo muito longo os meteorologistas apontam que as temperaturas vão subir entre 1,5 grau e 2 graus e o clima vai ficar mais seco, afirmou Chipp, durante evento sobre planejamento em infraestrutura, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O ONS projeta que os reservatórios vão chegar em novembro a 18% no Sudeste.
O presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek, que esteve na semana passada no Chile, também disse que cresceram as chances de que o fenômeno climático El Niño ocorra. Se a formação se concretizar, devem ocorrer mais chuvas na região Sul e Sudeste durante o período seco, cenário que seria o melhor para o Brasil.
O reservatório da hidrelétrica de Itaipu, que fornece 17% da energia consumida no Brasil, está apenas um metro abaixo do nível máximo, disse Samek. Em abril, a usina gerou 2% a menos que em abril de 2013. No ano passado, a produção de Itaipu foi recorde, totalizando 98,630 milhões de MWh.
Durante o evento, Nelson Fonseca Leite, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), entidade que reúne 42 concessionárias que atendem 99% dos consumidores no Brasil, disse que a qualidade dos serviços de distribuição de energia está intimamente ligada à saúde financeira das companhias. No evento, Leite destacou que “empresa sem caixa não tem recursos para executar seu plano de investimento”, acrescentando que a modicidade tarifária, principal vetor do setor elétrico, dificulta o aperfeiçoamento dos serviços.
De acordo com Leite, devido aos entraves ao investimento, a qualidade no setor elétrico deixou de avançar nos últimos anos. “Temos a necessidade de ruptura do atual modelo com a implementação de novas tecnologias”, afirmou.
(Fonte: Valor Econômico)