Entre as apostas do Grupo Clealco, com três unidades sucroenergéticas no interior paulista, estão obter ganho de produtividade agrícola sem ampliar a área cultivada com cana-de-açúcar.
É o que revela Gabriel Carvalho, diretor comercial da Clealco Açúcar e Álcool S.A, entrevistado pelo Portal JornalCana durante o evento World Bio Markets Brasil, realizado na segunda-feira (30/11) e terça (01/12) na capital paulista.
Confira a entrevista a seguir.
Como o sr. avalia os próximos anos para o setor sucroenergético?
Gabriel Carvalho – Haverá entre dois a três anos de preços bons. E as empresas que se prepararam para viver este novo ciclo e investiram, porque o importante é ter cana-de-açúcar para esse período. E tem quem não terá essa cana.
Explique mais, por favor.
Gabriel Carvalho – As empresas que não tiveram sofrimento com endividamento em função da desvalorização cambial terão próximos bons dois ou três anos pela frente. Mas temos que ser realistas porque o mercado é competitivo e o preço é bom para todo mundo. Então temos que ser mais eficientes para colher os frutos e viver o ciclo ruim, que irá vir. O mercado de commodities agrícolas é assim e temos que entender isso. Estou feliz com os próximos anos, mas não significa que estará tudo resolvido porque haverá preço bom.
Com as três unidades, a Clealco encerra a safra 2015/16 com a moagem projetada de 10,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar?
Gabriel Carvalho – 10,5 milhões de toneladas. Esta é a projeção.
Não ficará cana bisada?
Gabriel Carvalho – Sim, mesmo moendo 10,5 milhões de toneladas ficarão uns 5% bisados, algo em torno de 600 mil toneladas de cana.
A safra 15/16 foi mais alcooleira na Clealco?
Gabriel Carvalho – Não. O mix destinou 60% da moagem para açúcar. Dá 700 mil toneladas de açúcar. E 320 mil metros cúbicos de etanol.
Como estão as projeções para a safra 16/17? Além da cana bisada, qual deverá ser a oferta de matéria-prima para açúcar, etanol e bioeletricidade?
Gabriel Carvalho – Já estamos [no teto] da capacidade de moagem. Então em 2016 serão 10,5 milhões de toneladas de cana, mesmo volume estimado para a safra 2017/18.
Como fazer quando a capacidade está 100%?
Gabriel Carvalho – A ideia não é expandir, mas ganhar eficiência. Ganhamos muita eficiência agrícola na 15/16. O ganho em tonelada de cana por hectare cresceu quase 30% ante a temporada anterior.
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Gabriel Carvalho – Esse crescimento é uma combinação de várias coisas. O grande fator é o clima. Viemos do pior clima da história para o melhor da história, de um ano para o outro. E toda essa cana sobrando vem dessa combinação de não poder moer, mas com um rendimento agrícola muito acima de qualquer projeção quando iniciamos a safra.
Em recente leilão de venda de energia elétrica (A-3, com entrega em três anos), a Clealco comercializou o megawatt-hora (MWh) a R$ 225. É um valor bem abaixo dos R$ 800 a que chegou o valor de referência no mercado spot no auge da cotação em 2014.
Gabriel Carvalho – [Os R$ 225] é um valor que remunera o projeto, que emprega só bagaço de cana-de-açúcar. Depois desse projeto, a Clealco vai ficar perto da média de mercado de geração de energia por tonelada de cana. Ou seja, a gente está bem abaixo do mercado. Só estamos colocando a empresa perto da média de mercado.
O emprego da palha da cana para cogeração está em fase de teste?
Gabriel Carvalho – Hoje estudamos qual será a melhor maneira de aproveitar a palha. Ela tem benefícios e malefícios. Um ponto a ser olhado é o desafio do transporte e o uso da palha tanto pode ser para fazer energia como fazer etanol 2G. Há 1.001 coisas que podem ser feitas com essa palha e não definimos ainda qual o modelo a ser investido.
A cana empregada pelas unidades da Clealco é 100% da companhia?
Gabriel Carvalho – Não, 50% são da Clealco e 50% de parceiros.
A quem pertence a Clealco?
Gabriel Carvalho – A uma associação de produtores de cana desde o Programa Nacional de Álcool (Proálcool),em 1980. Não existe um grupo controlador. É uma associação, com conselho de administração.
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Quem é Gabriel Carvalho
Ele assumiu a diretoria comercial do Grupo Clealco em março de 2015.
Gabriel, até março deste ano, ocupava o posto de diretor comercial da divisão açúcar e bioenergia da Bunge. Antes, teve passagem pela Cargill. Com experiência de mais de 10 anos no setor sucroenergético, e em multinacionais, é considerado referência no mercado.