O clima seco em 2020 e o veranico no início deste ano têm impactado o desenvolvimento dos canaviais e a previsão é de queda na oferta de matéria-prima, principalmente no Paraná, em Minas Gerais e em São Paulo, sendo o impacto intenso na produção de açúcar.
O estado paulista, que representa 68,4% da produção nacional do alimento, é, inclusive, o mais afetado pelas condições climáticas, de acordo com Antonio Padua Rodrigues, diretor técnico da UNICA, que participou do webinar “Safra Cana 21/22 – Projeções de Produção e Preços”, realizado pelo JornalCana no dia 5 de maio.
Em São Paulo, a redução de produtividade poderá ser da ordem de 7%, índice conservador, conforme pontuou Pádua, e a área de colheita reduzida será superior a 3%, o que significa que o estado paulista irá perder mais de 10% da cana que foi processada na safra passada, ou seja, haverá a redução de cerca de 35 milhões de toneladas das 357 milhões de toneladas de cana moídas na temporada 20/21.
Pádua ainda ressaltou que, se não fossem as novas tecnologias empregadas pelas usinas do Centro-Sul, com o veranico que houve tanto ano passado quanto no início deste ano, a safra teria impactos mais drásticos e com menor quantidade de cana. “Vai ser uma safra cara. A partir do momento que se tem menor produtividade, as máquinas rodam mais, gasta-se mais óleo diesel. Além disso, o fertilizante subiu. O gasto será maior por hectare. Então, mesmo que os preços sejam melhores ou iguais aos da safra 20/21, isso não significa que nós teremos melhores resultados do que na temporada passada”, ponderou.
O executivo lembrou ainda que, com um grande volume de açúcar já fixado e a falta de oferta da matéria-prima, pode haver uma busca desenfreada a um preço exorbitante no mercado spot de cana para atender aos compromissos assumidos. Além disso, o diretor ressaltou que é provável a queda nas exportações e nas importações de etanol. “A oferta de etanol combustível deverá apresentar redução próxima de 2 bilhões de litros”, afirmou.
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Ele salientou também que foi confirmado um incremento da ordem de 600 milhões de litros na produção de etanol de milho, sendo que grande parte dessa matéria-prima já foi comprada, a contratos de médio e longo prazo, e muitos desses produtores de etanol de milho estão verificando a oportunidade de abastecer o Norte e o Nordeste, dada a redução das importações do biocombustível. “Muitos deles já fixaram a venda desse etanol anidro, de acordo com a resolução 67 da ANP”, disse.
Pádua ainda comentou que, pelo segundo ano consecutivo, o preço do açúcar no Consecana-SP será maior do que o valor recebido pelas unidades produtoras.
Quebra de safra prevista para o Centro-Sul deverá se concentrar no etanol
Outra avaliação preocupante sobre a safra em andamento foi feita por , sócio-diretor na JOB Economia e Planejamento, outro participante do webinar. “Pela primeira vez, desde 2017, a área de cana aumentou tanto no Centro-Sul quanto no Norte-Nordeste, o que é um bom resultado para o setor, mas 90% das regiões produtoras, como disse Padua, não receberam chuva o suficiente. A questão a ser discutida, portanto, é o tamanho desse problema”, afirmou.
Para Borges, devido ao impacto climático desfavorável, a quebra na produção deverá ser de 8%, ou seja, o Centro-Sul deve produzir 576,4 milhões de toneladas de cana. “Quase 30 milhões de toneladas a menos que na safra passada. Já a produção no Norte e no Nordeste praticamente será a mesma da safra passada, com ligeiro aumento da cana a ser moída. O clima nessas regiões tem chance de ser normal, com a La Niña em andamento”, explicou.
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Quanto ao açúcar, o consultor ressalta que as usinas do Brasil vão resistir ao máximo a reduzir a produção em relação à safra passada. Assim, a quebra de safra prevista para o Centro-Sul deverá se concentrar no etanol, ficando a produção de 37,2 milhões de açúcar no CS e, no NNE, o mesmo volume da safra passada, 2020/21, de 3,2 milhões de toneladas.
“O Brasil deve exportar cerca de 4 milhões de toneladas de açúcar a menos que no ano passado: 29,9 milhões de tonelada versus 34,0 em 2020/21. Isso devido à produção menor e a estoques iniciais relativamente baixos, ao contrário da safra anterior, 2020/21”, disse Borges.
Já a produção de etanol de cana no Centro-Sul será menor que na safra passada, pois a redução prevista de moagem deve se concentrar na produção de etanol. O volume previsto é de 24,5 bilhões de litros. A crescente produção de etanol de milho, por outro lado, deve manter seu ritmo. É previsto um volume de produção de 3,6 bilhões de litros contra 2,6 bilhões de litros na safra passada, 2020/21.
Produtividade estagnada
Maurício Ferreira Lopes, gerente de Levantamento e Avaliação de Safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), fez sua exposição inicialmente apresentando dados sobre a cadeia de produção de cana no Brasil. Dentre os insights, ele mencionou a falta de avanço de produtividade das últimas safras, comparando-a com saltos de produtividade de outras culturas.
Conforme análise da Conab, as condições de mercado devem garantir a rentabilidade dos produtores de cana-de-açúcar para a safra 2021/22. A perspectiva é que as exportações continuem aquecidas, o que deve dar suporte aos preços internos. Segundo o órgão, a conjuntura da taxa de câmbio elevada, aliada a preços internacionais atrativos, contribuiu para uma exportação de cerca de 32,2 milhões de toneladas de açúcar na safra 2020/21, o que representa um aumento de 69,8% na comparação com o mesmo período de cultivo em 2019/20.
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No caso do etanol, o país também registrou aumento nas vendas externas. A exportações foram de cerca de 2,9 bilhões de litros na safra 2020/21, um aumento de 55,1% em relação à temporada anterior. Já as importações tiveram queda de 65,2% e estão estimadas em 581,6 milhões de litros.
A perspectiva é que o fator cambial continue favorecendo as exportações e limitando as importações do biocombustível nesta safra. Já a demanda interna de etanol deve apresentar melhora à medida que a vacinação contra a Covid-19 avança.
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