Enquanto o mundo segue investindo na diversificação de fontes de energia e combustíveis renováveis, buscando alternativas menos poluentes e mais econômicos, o Brasil, na contramão da história e do que os países desenvolvidos estão fazendo, abandonou sua política de incentivo ao etanol e investe todos os seus esforços no pré-sal. O resultado é o fechamento, desde 2007, de 58 usinas produtoras de álcool na região Centro-Sul, com a perda de mais de 30 mil postos de trabalho. Outras 12, sem condições financeiras, devem encerrar atividades ainda neste ano, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
O consultor na área de agronegócio Renato Fazzolari vai além. Segundo ele, esse erro estratégico adotado pelas autoridades não só inviabilizou a construção de cem usinas, como causou o fechamento de 70 unidades somando todo país, além da extinção de mais de 300 mil postos de trabalho entre diretos e indiretos.
Marcos Françóia, sócio diretor da MBF Agribusiness, disse na sexta-feira, durante seminário do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise), em Sertãozinho (SP), que o setor tem uma dívida de R$ 60 bilhões e 67 usinas em recuperação judicial. Os dados da MBF apontam que quase 83% dessas usinas têm dívidas acima de R$ 100 por tonelada de cana processada, valor correspondente ao faturamento médio do setor.
Em Minas Gerais, nos últimos cinco anos, oito usinas fecharam, desempregando 8.000 pessoas, principalmente em pequenos e médios municípios. Mesmo com esse cenário, o Estado produz hoje o dobro do etanol que consome, pois o preço do álcool não é vantajoso no Estado.
A produção é de 1,5 bilhão de litros por ano, sendo que o consumo é de 750 milhões de litros por ano. Em 2009, quando o incentivo à produção de etanol estava no auge, para cada 100 litros de gasolina vendidos no Estado, vendiam-se 40 litros de etanol. Hoje, para cada 100 litros de gasolina, saem 15 litros de etanol. Todas essas informações são do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais (Siamig).
“A falta de continuidade de políticas públicas, em que os diversos governos começam e abandonam estratégias já em curso, é muito danosa para o país. Se você observar, nos últimos dois anos, o álcool sumiu dos noticiários e só se falou em pré-sal, sendo que o setor privado, principalmente no exterior, trabalha na busca de energias alternativas e menos poluentes”, ressalta o professor de administração pública da Faculdade de Economia da UFMG Ivan Beck.
‘O professor compara a questão da descontinuidade do investimento no etanol à falta de planejamento que leva hoje ao desabastecimento de água e até a um risco de apagão. “Há um equívoco de estratégias, uma aposta em modelos que não se sustentarão a longo prazo. Dizem que o petróleo ainda vai durar muito, mas não faz sentido deixar para procurar alternativas só quando ele estiver prestes a acabar. Além disso, a natureza tem se mostrado imprevisível. Vejam o exemplo da falta de água”, diz.
Cide. Uma das razões apontadas como responsáveis pela perda de competitividade do etanol frente à gasolina foi o fim da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). “Somos uma atividade privada, nosso custo aumenta ano a ano, até mais que a inflação, que, desde 2006, já acumula 55%. E a gasolina aumentou somente 16% nesse período”, compara o presidente do Siamig, Mário Campos.
Fonte: (O Tempo)